“Dia de Rainha” o ano todo: projeto ajuda mulheres em situação de rua

Criado há quatro anos, projeto ajudou a resgatar das ruas cerca de 15 mulheres

Desde 2016, um grupo de voluntárias ajuda a promover o Dia de Rainha – uma rede de apoio às mulheres em situação de rua, que vai além de uma data no calendário. Ao longo de quatro anos, pelo menos 15 mulheres conseguiram, com apoio da ideia, deixar as ruas, e até mesmo os vícios, para trás.

“Uma delas passou em um concurso”, relembra a idealizadora do projeto, Aline Castro Farias. “Ela estudava a partir de  livros que levamos no primeiro Dia de Rainha. Eram apostilas que uma amiga levou, ela foi a primeira a pegar. Hoje trabalha, paga seu aluguel, retomou a sua vida”, relata. O olhar para as ruas veio de uma situação protagonizada pela filha de Aline, a menina – então com cinco anos –  colocou uma fruta ao lado de uma mulher que dormia na rua. Após o gesto, emocionada, a pequena lançou a conclusão: se o abandono de animais já era algo terrível, o abandono de pessoas era pior ainda. “Nunca mais conseguir ver essa população com ‘os olhos que não vi’, comecei a enxergar essas pessoas”, explica.

O Dia

Além de poder tomar banho, as mulheres-rainhas ainda contam com atendimento de beleza, com direito a manicure, cabelo e maquiagem. O evento também organiza um bazar de roupas e calçados, distribui kits de higiene pessoal e providencia alimentação ao longo do dia.

Foto: Giorgia Prates

A quarta edição do projeto aconteceu neste sábado (23), na Catedral Anglicana de São Tiago. Quando as mais de 30 voluntárias chegaram ao local, às 07h, já havia mulheres aguardando o evento. Ao todo, das 08h às 16h, foram realizados mais de 30 atendimentos. A programação do dia também contou com aulas de zumba e defesa pessoal, além de apresentações musicais de Itaercio Rocha, Janine Mathias e Chico do Forró.

Ações o ano inteiro

“Não é um processo de um dia só”, explica Aline. A data no calendário é, na verdade, uma ferramenta de aproximação – uma forma de chegar até essas mulheres, e criar vínculos para poder auxiliá-las. A rede de suporte por trás do projeto é composta por voluntárias de diversas áreas, há advogadas, enfermeiras, e psicólogas. O funcionamento é simples: conforme as demandas chegam, as mulheres se organizam para atende-las.

Além do acompanhamento, ao longo do ano também acontecem outras ações. Dona de uma marca de acessórios, Aline atrela o ganha-pão à causa, promovendo oficinas e ensinando o ofício de artesã. “Uma das meninas conseguiu sair da situação de rua, pagando pensionato, fazendo brinquinho”, conta. A parceria com outras entidades também ajuda a movimentar as coisas: em 2018, por exemplo, durante três meses o projeto organizou encontros semanais para discutir assuntos como violência e abuso.

De Rainhas a voluntárias

Há quem já tenha tido seu Dia de Rainha e hoje trabalhe em prol da causa. Pelo menos cinco voluntárias da edição de 2019 já estiveram do outro lado. “Sou fruto desse projeto, foi por meio dele que consegui sair da situação de rua”, declara Sara de Oliveira de Assis, que participou do Dia, pela primeira vez, dois anos atrás. Ela conta que com as doações conseguiu voltar para a escola, e trabalhar: “Quando você quer trabalhar eles exigem muito que você tenha uma boa aparência, afinal estamos concorrendo a uma vaga… isso sem falar na nossa autoestima”, relata.

Sara não é a única, uma série de mulheres acabam se sentindo encorajadas a procurar emprego, ou uma situação melhor, por conta do atendimento e das doações. “Somos parecidas, o que nos difere de fato são apenas as oportunidades”, declara Aline ao avaliar os frutos do trabalho.

Se no primeiro ano ninguém ouviu falar do projeto, hoje o Dia de Rainha já tem história: “Esse ano, as pessoas vieram até nós, oferencendo apoio – pela confiança, por ver que funciona”, crava a idealizadora. Nenhuma doação é desperdiçada, roupas, utensílios domésticos e outros donativos não utilizados no projeto são compartilhados em prol de comunidades e causas que precisam de auxílio. Para quem quer ajudar e ainda não sabe muito bem como, Aline deixa a letra: “Coloque sua doação no carro, na bolsa… Quando você estiver na rua e avistar uma mulher que precisa, vá lá, entregue para ela. Isso é fazer sua parte também”, encoraja.

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