Curitiba parou de crescer?

População da Capital aumentou 10% na última década, a menor taxa da Vizinhança

Entre 2011 em 2020, o conjunto de municípios metropolitanos voltou a crescer em ritmo mais acelerado do que Curitiba e ganhou 254 mil novos habitantes. A expansão da Capital foi menor, com 184 mil novos moradores no período, segundo mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A desaceleração é resultado de fatores que, embora ainda longe de indicar estancamento, reforçam uma nova dinâmica populacional de crescimento da Região Metropolitana (RMC).

O número de habitantes em Curitiba passou, nesta década, de 1.764.541 para 1.948.626. No mesmo período, o crescimento da RMC, sem contar a Capital, passou de 1.490.812 para 1.745.265 moradores (17%).

O IBGE mostra que, neste intervalo, o crescimento populacional de Curitiba foi de 10,4%, menor taxa entre todos os municípios do Primeiro Anel Metropolitano, formado pela Capital e suas oito cidades limítrofes. Fazenda Rio Grande (22,7%), São José dos Pinhais (22,4%) e Araucária (20,8%) foram as que mais ganharam habitantes.

Mas, por que Curitiba tem crescido menos do que os municípios do seu entorno? Além de não existir um motivo único, a conjuntura é a mesma registrada em quase todos os conglomerados metropolitanos do país.

Em sua mais recente estimativa populacional, divulgada no fim de agosto de 2020, o IBGE corrobora a tendência de estabilização de crescimento de cidades maiores e interpreta o movimento como consequência, principalmente, da saturação dos grandes centros.

Nas Metrópoles do país, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, o levantamento mostra que a taxa de crescimento do município sede vem sendo mais baixa do que a dos municípios restantes juntos.

Deslocamento

“Existem várias razões pelas quais se cresce mais nas franjas da cidade. No caso de Curitiba, por ser um município relativamente pequeno do ponto de vista de área, tem uma maior facilidade de ter seu crescimento espraiado para cima dos municípios limítrofes”, explica o arquiteto e urbanista Carlos Hardt, docente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e especialista em gerenciamento e planejamento urbano e metropolitano.

Conforme o professor, o avanço em direção aos municípios vizinhos assume características distintas e ligadas, sobretudo, a indicadores econômicos. Por um lado, classes com maior concentração de renda e com garantias de deslocamento facilitado partem em busca de espaços maiores para construir e viver – o que há muito está em falta na Capital. Na outra ponta, a população sem ganhos suficientes é empurrada da cidade pelos altos custos e pela especulação imobiliária.

“A classe média baixa tem muita dificuldade de conseguir imóvel em Curitiba por conta do custo. Ainda temos o valor da terra bem mais baixo fora de Curitiba. Então, essas áreas acabam absorvendo o extrato da população que não consegue ou que tem mais dificuldade de adquirir seu imóvel na Capital”, completa Hardt. Ele lembra ainda que, dentro da própria cidade, as ocupações irregulares também são um sintoma do deslocamento.

Em Curitiba, o preço médio do metro quadrado dos apartamentos, no último mês de junho, chegava a R$ 4.841. O número é da empresa imobiliária Imovelweb, que repete o balanço em todas as capitais do país.  No Centro curitibano, em que ficam bairros mais valorizados, como Batel e Bigorrilho, e onde se encontram importantes núcleos de prestação de serviços, o valor da área aumenta rumo ao dobro e pode chegar R$ 7.251. O metro quadrado mais barato está no Bairro Novo, distante cerca de 25 km da região central.

Polo de serviços

Segundo Andrei Crestani, arquiteto especializado em planos diretores e planejamentos estratégicos e professor da Universidade Positivo (UP), a queda natural na taxa de natalidade das últimas décadas e a redução da oferta de postos de emprego formal também ajudam a explicar a desaceleração de Curitiba em relação às demais cidades do entorno.

Mandala de Desempenho Municipal, criada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) para monitorar e avaliar gestões, evidencia recuo de 39,5% dos empregos formais em Curitiba entre 2017 e 2019, retração maior do que Araucária, São José dos Pinhais e Fazenda Rio Grande (este último com geração positiva). Embora em índices proporcionais, estas cidades também tiveram mais fôlego do que Curitiba na evolução de novos estabelecimentos empresariais.

“A gente começa a perceber que há um excedente de pessoas formadas e uma retração de oferta de empregos formais. Chega um momento que as pessoas que se formam aqui vão gerar a própria oportunidade na cidade de origem, e isso começa a mudar a dinâmica da cidade”, salienta Crestani. “Mas, mesmo assim, as pessoas que estão nas cidades metropolitanas, que se afastam um pouco mais, continuam precisando das facilidades em Curitiba, daqueles serviços especializados que são característicos de uma Capital”, acrescenta.

Para Carlos Hardt, ainda que em escala menor, a dependência de cidades do entorno é constante e se observa tanto pela oferta, ainda maior em Curitiba, quanto pela própria relação estabelecida entre os municípios. Apesar da queda no ritmo de crescimento, não há mudanças que indiquem uma reversão do quadro nos próximos anos.

“Curitiba, por suas próprias características, vai continuar sendo polo. É ela que concentra especialidades como saúde, educação e segurança. Isso faz parte de um sistema urbano e não necessariamente é ruim, porque existe uma hierarquia urbana com funções específicas para cada um desses patamares hierárquicos, que acabam se complementando”, finaliza o docente.  

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