Covid provoca síndrome rara em crianças de Curitiba

Foram quatro casos e duas mortes pela SIM-P, que aparece semanas depois da contaminação pelo vírus

Com Alisson Loubck foi uma crise convulsiva. Ele chegou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Curitiba e logo precisou ser intubado. Foi o pulmão que indicou a suspeita de covid-19, confirmada no Hospital Pequeno Príncipe. Por lá, o garoto de 16 anos ficou 41 dias, todos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Durante este período, precisou passar por duas cirurgias neurológicas. 

Portador de mielomeningocele, má-formação congênita da coluna vertebral, Alisson foi diagnosticado com Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), ocasionada pelo coronavírus. “Ele teve uma parada cardíaca de quatro minutos, foi quando me chamaram para dar a pior notícia, dizer que tudo o que podiam fazer já tinham feito. Os rins pararam, precisou de hemodiálise. Foram dias angustiantes”, conta a mãe, Simone Louback.

Simone e o filho Alisson. Foto: Arquivo Pessoal

Ela trabalha na higienização de hospitais e também foi diagnosticada com a covid-19, junto com o marido. Ambos tiveram sintomas leves da doença. “O pior momento foi quando soube que não podia ficar junto com ele.”

O garoto passou mais de um mês na UTI, 12 deles intubado. Apesar do quadro muito grave, Alisson venceu o coronavírus. A família atribui a cura do adolescente a um milagre. “Ele foi considerado o paciente mais grave no Brasil que sobreviveu”, alegra-se a mãe.

Alisson ficou 41 dias na UTI e sobreviveu ao vírus. Vídeo: Simone Louback

Assim como Alisson, outro menino de 12 anos, sem comorbidades precisou de UTI, acometido pela mesma síndrome, mas também conseguiu se recuperar.

Além deles, outras duas crianças de Curitiba apresentaram a rara doença inflamatória, causada pela covid-19. Estas, porém, não resistiram e morreram. Um garoto de 7 anos, com paralisia cerebral, e uma menina de 13 anos, sem nenhuma doença pré-existente. Todas as crianças e adolescentes citados testaram positivo para covid-19.

A doença

A Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) começa a apresentar sintomas, em geral, quatro semanas após a exposição ao vírus.  Eles podem ser: febre, dor abdominal, diarreia, vômitos, confusão mental, inchaço e manchas nas mãos e pés, conjuntivite, linfonodos (caroços) no pescoço e desmaios. “A maioria precisou de oxigênio e apresentava hipotensão arterial”, conta o infectopediatra Victor Horácio, vice-diretor clínico do Hospital Pequeno Príncipe.

“Começa com a febre alta, acima de 38,5, e vai evoluindo. Pode haver distúrbio de coagulação (sangramento pela boca, nariz) e alguns podem ter lesão renal aguda”, alerta o infectopediatra Victor Horácio.

Ele explica que, assim como a covid-19, esta síndrome é nova e ainda está sendo estudada. Pesquisas nos EUA apontam sintomas compatíveis com a Síndrome de Kawasaki, inflamação sistêmica de causa desconhecida, “que se apresenta nas formas completa, incompleta e choque”. De acordo com o médico, o tratamento pode levar meses e incluir hidratação, albumina, corticoide e anticoagulante.

Aos pais, atenção à febre alta, que não baixa com antitérmico, e/ou algum outro sintoma da SIM-P. Neste caso, a procura médica deve ser imediata.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) traduz a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) como “uma nova condição clínica grave, potencialmente fatal e temporalmente relacionada à covid-19, frequentemente associada à presença de choque e necessidade de suporte em UTI pediátrica, com drogas vasoativas, imunomoduladores e anticoagulantes”.

Foto: Hospital Pequeno Príncipe

Dados imprecisos

Instituição de referência no atendimento médico infantil no Paraná, o Hospital Pequeno Príncipe, desde o início da pandemia, registrou quatro casos desta síndrome entre crianças e adolescentes, resultando em duas mortes.

Os dados oficiais, porém, ainda são imprecisos, já que apenas em agosto o Ministério da Saúde (MS) tornou obrigatória a notificação da doença aos órgãos sanitários. O alerta sobre a obrigatoriedade foi reforçado, em 11 de agosto, pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

De acordo com o último relatório do governo federal, o Brasil registrou nove mortes pela SIM-P e 117 casos da síndrome entre crianças e adolescentes. No Paraná, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há o registro de apenas um caso, mas nenhum óbito.

Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde investiga somente dois internamentos suspeitos. “O Centro de Epidemiologia da SMS está realizando contato com os hospitais da cidade para apuração de possíveis novos casos suspeitos e reforço das novas orientações dadas pelo Ministério da Saúde para notificação dos casos. Como não se trata de uma doença de notificação obrigatória não há relatórios desse monitoramento em período anterior”, informou a Secretaria.

No mundo todo, são cerca de 300 casos de SIM-P diagnosticados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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