Candidata na UFPR defende cloroquina e chama coronavírus de “vírus chinês”

Alunos e professores da UFPR questionaram discurso anticientífico de Ana Paula Cherobim, candidata a vice-reitora da Chapa 1

Candidata à vice-reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pela chapa 1, a professora Ana Paula Cherobim, do departamento de Administração Geral e Aplicada, carrega um currículo extenso. Mas apesar de sua trajetória acadêmica, tem chamado a atenção nesta campanha por agregar a seus discursos matizes ideológicas que a colocam como uma força bolsonarista na corrida pelo cargo.

Em manifestações durante a campanha, já se referiu ao coronavírus como “vírus chinês”, disse não estar segura sobre o sistema de votação remota criado para viabilizar as eleições na UFPR e, na mais recente, recomendou a alunos o uso da hidroxicloroquina.  

A orientação foi dada em encontro virtual com estudantes do setor de Ciências Biológicas da UFPR, na sexta-feira passada (21). Questionada por ter compartilhado um post com a mensagem “ricos, médicos e famosos sendo tratados em hospitais particulares com cloroquina; enquanto os pobres do SUS aguardam a ciência [sic]”, a professora reiterou o posicionamento aos participantes.

“Hoje, quem tem aceso à ivermectina, à hidroxicloroquina e ao tratamento precoce do Covid está tendo excelentes resultados, enquanto aquelas pessoas que recorrem ao SUS são recomendadas a ficar em casa e só procurar hospital quando começam a ter falta de ar, ou seja, quando o pulmão já está tomado. (…) Eu digo com a maior tranquilidade do mundo para vocês: tomem ivermectina e, ao primeiro sinal de Covid, tomem hidroxicloroquina porque você vai estar salvando a sua vida”, reafirmou à plateia virtual.

Cherobim não é médica – tem graduação em Ciências Econômicas e Administração –, e os dois fármacos citados por ela, os mesmos defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no combate à pandemia, não têm eficácia comprovada cientificamente contra o Sars-Cov-2. Pelo contrário, estudos mostram que a cloroquina causa mais mortes entre os pacientes de Covid. A publicidade de medicamentos sem comprovação clínica por pessoas de fora área da saúde é rechaçada pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A colocação causou indignação entre alunos e professores, que classificaram o discurso como anticientífico e descolado das propostas levantadas pela chapa 1, composta ao lado do diretor do Setor de Tecnologia da UFPR, Horácio Tertuliano Filho. No primeiro debate da campanha, transmitido virtualmente, a professora afirmou não haver “verdade sem conhecimento, sem estudo”. No debate seguinte, acrescentou ser a favor da ciência e do cientista “porque sem ciência e cientista a saúde e a educação não evoluem”.

Fama de autoritária

As ideias de Cherobim não coincidem com as do governo Bolsonaro apenas no campo da Covid-19. Nas redes sociais, a candidata se mostra bastante simpática ao presidente: imagens e vídeos indicam participação em manifestações mobilizadas por seu grupo de eleitores, em Curitiba. Ela também já chegou a compartilhar foto de uma camiseta com o símbolo do Aliança Brasil, futuro partido político do presidente.

Assim como Bolsonaro, a candidata a vice-reitora da UFPR usa o termo “vírus chinês” para se referir ao coronavírus. “A embaixada da China reclama quando chamamos de vírus Chinês: qual a origem do vírus? onde apareceram os primeiros casos? Qual país não mostrou em janeiro a existência da doença?”, escreveu em um artigo compartilhado no Facebook.

Também mostra alinhamento a protestos contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e a teses que defendem suposto abuso por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução do inquérito das fake news, criado para apurar ameaças a ministros do órgão e disseminação de conteúdo falso na internet. Em outra mensagem de cunho polêmico, replicou declaração em que Olavo de Carvalho, um dos grandes influenciadores de Bolsonaro, fala em ocupação da França por invasores muçulmanos.

“Eu sei que tenho fama de autoritária, eu sei que eu sou brava e eu sei que sou exigente. Muito bem! É essa braveza e essa exigência eu vou usar para fazer com que a Universidade Federal do Paraná fique mais forte. (…) E se eu sou autoritária, cabe a você me mandar um Whats, um e-mail, uma mensagem e puxando a minha orelha, dizendo que as coisas não são assim”, disse em um vídeo da chapa 1 postado nesta terça-feira (25).

A professora foi procurada por ligação e mensagem para conversar com a reportagem, mas não havia respondido aos questionamentos feitos até a publicação do conteúdo.

Contrariando as urnas

Ela também não respondeu se confirma estar de acordo em retirar o nome da chapa 1 da disputa, caso seja derrotada – o que é tradição nas universidades federais em eleições para a reitoria. Em um grupo de WhatsApp, Cherobim chegou a receber o mesmo questionamento de alunos, mas evitou se pronunciar ao grupo naquele momento.

A consulta para a Lista Tríplice que será enviada ao Presidente da República para definir o novo reitor da UFPR ocorre nos próximos dias 1 e 2 de setembro. A atual gestão, do reitor Ricardo Marcelo Fonseca e da vice-reitora Graciela Ines Bolzon de Muniz, é favorita à reeleição.

O último debate entre os candidatos e candidatas à reitoria da UFPR será realizado nesta terça (25), a partir das 16h30 com transmissão pela página do Facebook e pelo canal do Youtube da Comissão Partidária de Consulta (CPC).

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5 comentários em “Candidata na UFPR defende cloroquina e chama coronavírus de “vírus chinês””

  1. Quem teve aula com a professora Ana Paula sabe que ela é uma das melhores professoras na Universidade.

    Além de uma didática excelente, também é uma das únicas no campus que possui profundo conhecimento prático sobre o que ensina.

    Essa matéria é injusta e asquerosa.

  2. Isso sim é uma face nefasta da Universidade Pública. Quando “professores” como essa senhora defendem tais ideias e vomitam ignorância, a gente percebe que o Brasil chafurda cada vez mais nas fezes reacionárias. Como pensar quem um ser desses consiga ensinar algo de fato a alguém baseado na razão?

  3. Isso sim é uma face nefasta da Universidade Pública. Quando “professores” como essa senhora tais ideias, a gente percebe que o Brasil chafurda cada vez mais nas fezes reacionaárias. Como pensar quem um ser desses consiga ensinar algo de fato a alguém baseado na razão?

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