Brasil, terra da depressão

Entre 2010 e 2018, 4,6 mil mortes tiveram origem em transtornos depressivos

Esta publicação faz parte do Festival de Jornalismo Literário, organizado em parceria pelo Plural e faculdades de jornalismo de Curitiba e Ponta Grossa. Carla Taísa é aluna da Uninter.


O Brasil é o país com mais porcentual de pessoas deprimidas na América Latina. Estima-se que entre 20% e 25% da população brasileira já teve, tem ou terá a doença. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2019, e revelam ainda que 5,8% dos brasileiros (cerca de 12 milhões de pessoas) sofrem atualmente com a depressão. Essa é o maior índice da América Latina – e a taxa ainda está acima da média global, que é de 4,4%.

Porém, esse não é o único dado preocupante. De acordo com dados do DataSUS, levantados pela reportagem, apontam que entre 2010 e 2018, um total de 4.606 pessoas morreram no país devido a transtornos depressivos. E, desse total, o maior número de mortes ocorreu entre mulheres, aproximadamente 60% (2790 óbitos). Além disso, a maioria das mortes ocorreu nas faixas etárias de 60 a 69 anos (31%) e 50 a 59 anos (28%). Só para se ter um comparativo, esse índice de óbitos cai pela metade entre jovens adultos de 30 a 39 anos.

E os motivos para esses altos índices na terceira idade são explicados porque “as pessoas quando entram nesta faixa etária, acabam tendo uma mudança radical de vida. Assim, desaceleram toda a sua rotina e perdem coisas importantes, como a saúde”, explica a psicóloga Rafaela Roberta Bielecki (CRP/SC -12/18522).

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Psicóloga Rafaela Roberta Bielecki (CRP/SC -12/18522) explica as principais causas para o desenvolvimento de depressão. Infográfico: Carla Taissa

“Com a aposentadoria vem a preocupação de qual vai ser sua utilidade dali para frente. Em muitos casos, a pessoa idosa passa a ter que receber cuidados constantes da família ou de algum cuidador, e perder essa autonomia de cuidado consigo mesmo é no mínimo frustrante, e acaba que o sentido da vida para essa pessoa é perdido”, complementa Rafaela. “Infelizmente pessoas idosas são mal compreendidas nesse âmbito. Assim como existem idosos que começam aproveitar mais a vida com os frutos do seu trabalho do passado, há outros que não conseguem seguir em frente sem ele”.

Já sobre o predomínio da depressão em mulheres, Rafaela explica que um dos motivos pode estar ligado à questão hormonal. Afinal, em diversos momentos da vida, como a gravidez, período menstrual e menopausa, a mulher sofre uma grande alteração de hormônios, e isso regula muito o humor, os sentimentos e a percepção do mundo à sua volta. “A mulher também tende a buscar mais ajuda profissional, por isso acaba entrando mais nas estatísticas”, explica a psicóloga.

Outro fator negativo em relação à depressão é justamente o estigma que envolve a doença. Muitas pessoas acabam não procurando ajuda médica, ou ainda, quando relatam estar com depressão escutam feedbacks negativos de pessoas de seu círculo social, como família, amigos ou colegas de trabalho. No entanto, Rafaela lembra que a melhor forma de tratamento sempre vai ser a procura de ajuda de um profissional da psicologia e psiquiatria, começando um processo de tratamento conjunto. “O tratamento não vai ser diferenciado pela faixa etária, mas sim, de pessoa para pessoa, sempre trabalhando a partir daquilo que ela leva como queixa”, explica.

Jovens

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Jovens vêm apresentando cada vez mais casos de depressão no Brasil. Foto: Carla Taissa

Apesar de ainda predominar entre a terceira idade, o número de casos de depressão entre jovens vem aumentando nos últimos anos. Dados levantados pela reportagem no DataSUS mostram que o número de óbitos por transtornos depressivos dobrou no Brasil a partir de 2016, entre jovens de 20 a 29 anos. O mesmo aconteceu entre adolescentes de 15 a 19 anos.

“O mundo da internet e de tecnologia pode ter um peso nisso. Com as redes sociais a necessidade de estar realmente próximo de quem amamos já não vem sendo prioridade”, explica Rafaela Bielecki. “A pressão de um ambiente de trabalho e o fato da pessoa assumir grandes responsabilidades na vida profissional e pessoal são coisas que contribuem para um acúmulo de estresse, de frustações, traumas e momentos deprimentes”.

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O número maior de óbitos revela como a doença tem se tornado mais comum entre jovens. Infográfico: Carla Taissa

Por isso, a psicóloga deixa algumas recomendações. “É importante sempre ficar atento aos outros e a si mesmo. Assim, no aparecimento de qualquer sinal como alteração do sono, alteração do apetite, mudanças repentinas de humor, irritabilidade, aparecimento de dores sem motivo aparente, falta de energia, falta de interesse até por atividades que seriam suas favoritas, vontade de isolamento, o ideal é procurar ajuda profissional”.

Rafaela lembra ainda que a prática regular de exercícios físicos pode ajudar no cuidado da saúde física e mental. “Buscar terapias alternativas pode ser relaxante, como arte terapia e musicoterapia. Praticar hobbies também é super bem vindo para o autocuidado, como jardinagem, passeios, ioga, jogos, etc. O importante é sempre ir atrás daquilo que lhe faz bem, junto com o autoconhecimento para melhor enfrentamento de conflitos internos e externos”, finaliza.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Brasil, terra da depressão”

  1. Senir Camacho Teixeira Ribeiro

    Gostei da sua matéria Carla Taíssa! Assunto muito pertinente, principalmente no formato que essa geração de jovens tem vivido! Parabéns!

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