Autista é excluído de escola de natação em Curitiba

Academia diz que aluno de 3 anos é quem precisa se adaptar às aulas; lei não obriga inclusão

Os nomes dos personagens que compõem esta reportagem foram alterados. A advogada curitibana Raquel prefere não se identificar, com medo de expor sua família. Por comentar sobre o autismo leve que apresentam seus filhos – de 5 e 3 anos – ela vivenciou o preconceito e o bullying de crianças e pais do condomínio onde moram. Não esperava, Raquel, que a exclusão fosse vivida também na tentativa de inserir as crianças em exercícios físicos.

“Após longos meses em casa, sem nenhuma atividade, eles estavam muito empolgados. Como meu marido é aluno nesta academia, resolvemos levar as crianças para uma aula experimental de natação. A Luana já fez aula e foi primeiro. Saiu radiante da piscina”, conta a mãe.

“Mateus foi a primeira vez, nunca tinha feito natação, tinha medo de água e aos poucos está se soltando; estava empolgado, mas depois desanimou. Insistimos, fui com ele, aos poucos foi se aproximando, sentou na beirada, brincou com brinquedos e se soltou. Todas as coisas com ele tem que ter paciência.”

O garoto iniciou a aula e a mãe ficou assistindo por vídeo, na recepção – como é de costume nestas aulas. “Eu comentei por telefone, na hora de agendar, que eles têm um autismo leve, pensando que haveria um cuidado, que o professor viria conversar, fazer perguntas. Mas a professora mal deu oi. É uma criança de 3 anos, independente de ter ou não um diferencial, você pergunta, quer saber a relação dela com água. A professora nem perguntou o nome do meu filho, não se deu ao trabalho de falar com ele. O interesse foi só ver se eles (profissionais) iam se adaptar, não meu filho”, afirma Raquel.

Logo, o coordenador da academia sentou ao seu lado. “Ali, no meio das outras mães, ele me falou que sabia do meu caso e que eles iam ter que avaliar se seria possível me atender. Disse que a menina foi bem e poderia frequentar, mas que o pequeno, já tinham percebido, é mais difícil, pois não quis colocar a touca nem os óculos e não participou da aula. Ele disse que não daria pra ser assim, que a criança tem que atender o professor e agir coletivamente; disse que ele é a favor da inclusão, desde que o aluno se adapte à escola.”

Raquel sentiu raiva, indignação e revolta. “Eu não acreditava no que estava ouvindo, ele ainda falou grosso e ríspido. Ouvi e paralisei. Minhas pernas ficaram bambas, suei frio, não consegui falar nada. Levantei, peguei meu filho e fui embora, chorando.”

Sem lei

Os pais avaliaram entrar com uma ação judicial contra a escola de natação, mas descobriram que não teriam muitas chances. “Não existe obrigação legal destes locais em adaptar, incluir, então fica na boa vontade da academia. Mas dizer que a criança é quem tem que se adaptar à escola, é absurdo, pois a inclusão é totalmente o contrário.”

Segundo Raquel, o que houve foi falta de vontade, de empatia. “Querem ter um negócio mas não querem se incomodar; querem ser atendidos, não atender. É triste, pois não há consciência coletiva. Uma escola desse porte e não tem nenhuma preocupação com isso.”

Ela lembra que a academia até entrou em contato depois, por telefone. “Pediram desculpas, disseram que não foi intenção de ofender ou discriminar e que estavam de portas abertas, caso ainda estivéssemos dispostos. Mas não me senti acolhida, não tenho intenção em voltar lá. Meu marido já trancou a matrícula e agora está sem opção de nadar perto de casa.”

A situação fez com que a família começasse uma busca atrás de políticos dispostos a criar um projeto de lei que leve outros estabelecimentos a incluir crianças portadoras de deficiências ou síndromes. O Estatuto da Pessoa com Deficiência (13.146/2015) obriga apenas escolas à inclusão, não academias de natação ou qualquer outra instituição.

“A omissão também causa dor. O preconceito não é feito apenas de atitudes. A exclusão mora na falta de empatia, na falta de consciência social, no pensamento de que ‘não me diz respeito’, na falta de disposição das instituições em se adaptar. Precisamos de uma mudança que começa dentro de cada um de nós. Não adianta só erguer a bandeira do ‘setembro amarelo’ nas redes sociais, as pessoas precisam ensinar seus filhos a acolher o amiguinho diferente”, conclui a mãe.

O Plural entrou em contato com a academia para ouvir o outro lado da história e aguarda o posicionamento da empresa.

Sobre o/a autor/a

15 comentários em “Autista é excluído de escola de natação em Curitiba”

  1. Meu filho estava fazendo natação na única escola da cidade. Ontem fui surpreendida com a informação de que ele não poderá mais frequentar devido aos comportamentos dele. Não quero opinião de ninguém, não quero saber de direitos e nada. Só quero um curso para continuar com as aulas. Alguém saberia de algum curso para pais treinarem seus filhos? Sei lá, algo prático. Aula 1. Aula 2. Aí os pais vão fazendo as atividades conforme o aprendizado do aluno

  2. O autista tem o direito de uma auxiliar, pq como uma professora de natação, vai dar a maior atenção ao autista e os outros alunos? Todos estão dentro de uma piscina, e todos requer atenção…então tem que ter auxiliar para a professora.. o autista rem esse direito

  3. Não é bem assim, não. Tem criança com autismo que não é possível fazer a inclusão em turmas, como no caso de graus moderados a severos que a criança se agride e agride as demais crianças e professores. A academia tem sim que avaliar, pois caso a criança não tenha como ser incluída em turma, as aulas terão q ocorrer individualmente, o que constitui aulas de personal. Ocorre que os pais não querem ou mesmo não podem pagar o valor de uma aula de personal. E insistem que a criança deve ser incluída. Portanto, faltou na reportagem apresentação do grau de autismo da criança em questão.

  4. Lamentável saber desse episódio. Aqui no Rio de Janeiro temos ótimas academias que fazem a inclusão de crianças especiais. A academia que minha filha frequenta ( Rede Physical ) a acolheu desde os 2 anos, hoje ela tem 5. O início foi muito duro mas paciência e dedicação foram essenciais para hoje ela ter adquirido segurança e prazer na natação. Espero que você encontre uma boa academia para seus filhos. Um abraço.

  5. Meu nome é Sandra, tenho um filho autista moderado, Daniel de 8 anos, já fui a várias academias de natação aqui em São Paulo, onde dizem que não é possível dar aula para meu filho, pois precisariam contratar um professor especializado só pra ele.
    As academias que atendem autista, é caríssima, não tenho condições de pagar.
    Cadê a inclusão?

  6. Meu nome é Felipe, sou professor de Educação Física e coordeno uma escola de futebol em Curitiba.
    Ao longo desses 12 anos que trabalho com a iniciação esportiva no futebol, atendemos diversos alunos do espectro autista e nossos professores são treinados para atender tal público. Gostaria de colocar nossos trabalhos à disposição da família para que conheça a metodologia, atenção e valores da empresa.
    Whatsapp 41 99603-1495

  7. Precisa ter mais empatia Amor ao próximo. Foi revoltante. Eu sinto a.dor dessa mãe.
    Força ? as academias tem ver existe um público descoberto, ja pensou em dono falar olha vamos abrir uma turma
    Só autistas ja pensou na alegria dos pais
    Vamos dar.AMOR E CARINHO.

  8. Ana Paula Wasilewski da Silva

    Essa situação é muito triste e revoltante. Não posso imaginar a dor da família de ter seu filho excluído de um ambiente que deveria ser enriquecedor.
    Sou aluna do penúltimo ano de psicologia e tenho irmãos pequenos com suas individualidades também. Se a família quiser alguém que acompanhe o pequeno numa aula de natação como tutora (comum nas escolas geralmente), além dos professores de natação, numa outra academia, me disponho a ajudar de forma voluntária. Meu telefone é 41 99899-0003.

    1. Sou jornalista em Curitiba, tenho uma filha, 27 anos, com
      “Sindrome de Asperger’, que tem grau de autismo. Entendo muito bem esta situação . Já passei por isso, e muito mais. Luiz Augusto Juk (estou no face, instagram, youuber)
      A secretaria de Justiça, Trabalho e Familia, aqui no Paraná, órgão do Governo do Estado, tem um ferramente interessante. Carteira do Autista.
      Esta no site http://www.justica.pr.gov.br/servicos/Assistencia/Direitos-e-Cidadania/Solicitar-a-Carteira-do-Autista-gwoBgeNz

      O que é
      É a possibilidade de solicitar e imprimir a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA).

      O documento digital facilitará a identificação e a prioridade no atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. No caso dos particulares, isso inclui supermercados, bancos, farmácias, bares, restaurantes e lojas em geral.

      Quem pode solicitar
      Cidadão.

      Onde solicitar
      Pela internet.
      Como solicitar
      Primeiro acesso (é preciso fazer um cadastro):
      acesse o link “Ainda não sou cadastrado”

      informe seus dados pessoais (nome e CPF)
      informe o número do telefone celular e siga o passo a passo.

  9. A inclusão é um direito legal, inclusive passivel de punição e reclusão para quem não cumpre, artigo 88 da Lei 13.146/15, fora isso o autista tem a lei 12.764/12 que lha faculta todos os direitos legais, essa escola cometeu um crime, deve rsponder juducialmente por isso, a lei é para todos que estão com as portas abertas prestando um atendimento ao público seja ele com ou sem deficiência.

    1. Carla Daniela Dutra Alves

      Se morassem em Florianópolis indicaria a Academia onde sou professora, Dani Natação. Metodologia própria e totalmente lúdica, cada criança no seu tempo e ensinamos com muito amor. Fiquei triste em ler esse tipo de notícias, pois nós temos imenso prazer de atender e fazer parte da vida de nossos peixinhos!

      1. Juliana de Almeida Duarte

        Bom dia Carla,meu nome é Juliana e eu sou mae de uma crianca autista,alem da academia que ja anotei ,vc indicaria alguma ou algumas escolas para um autista leve? Obrigada e desculpa a incasso!

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