Apenas 20% das mulheres presas recebem visitas

Abandono atinge 80% das detentas no Paraná, que são esquecidas por companheiros e famílias. Campanhas arrecadam itens de higiene pessoal para elas e seus bebês

O movimento nas cadeias masculinas em dia de visita é imenso. Mulheres se enfileiram com sacolas de todos os tamanhos para levar alimentos, encomendas e acalento a seus companheiros, filhos ou parentes. A realidade nos presídios femininos, porém, é muito diferente. Apenas 20% das presas recebem visitas ou mantêm algum contato com a família. A maioria é abandonada no momento em que comete um crime.

O diagnóstico é do Conselho da Comunidade da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba – Órgão da Execução Penal. “Não chega a 20% o número de mulheres que recebem visita ou sacola, e quando recebem são da mãe, a que menos abandona”, conta a presidente do Conselho, a advogada Isabel Kügler Mendes.

Segundo ela, cerca de 10% dos companheiros ainda vão visita-las, bem no início da pena. “Mas logo arrumam outra e não voltam. As visitas, quando aparecem, geralmente são da mãe, da irmã ou de uma amiga.”

A entrada de visitantes é permitida no sistema penitenciário do Paraná uma vez ao mês, quando podem entrar até dois membros da família, com lanches. Mas eles não aparecem. “O que temos sentido há muitos anos, na Comissão de Direitos Humanos e na Execução Penal, que é um problema cultural. Até na prisão, há distinção entre a mulher e o homem, que é o mais protegido. Para eles, o número de visitas e sacolas ultrapassa os 60%. Todo mês, eles recebem a mãe, a irmã, a companheira, os filhos. O mesmo não acontece com elas.”

Castigo e remição

Isabel percebe o castigo compulsório das presas e a impressionante punição natural que elas mesmas imputam a si. “Elas sentem e assumem a pena como algo natural, pois a mulher não tem o direto de errar. Dificilmente passa a reagir negativamente. Ela cometeu uma infração que não era permitida. Falhou e assume isso.”

A remição logo vem.  “Lá dentro, elas se envolvem em muitas atividades e estudos. Buscam a remição da pena para sair logo da prisão e rever os filhos, que muitas vezes dependem delas. As mulheres sentem a necessidade de serem fortes e, entre elas, se fortalecem muito”, ressalta a presidente do Conselho da Comunidade da RMC.

Ainda assim, a reinserção na sociedade fica mais difícil. “Elas saem acuadas, com muita vergonha e sem coragem de recomeçar pois não têm o apoio familiar. A sociedade é muito mais condescendente com o homem do que com a mulher. O delito pode ser muito menor, não importa, a reintegração dela é muito difícil”, enfatiza Isabel.

Campanhas

As doações podem ser entregues na Defensoria Pública do Paraná, no Centro de Curitiba, ou no instituto A Tenda, no bairro Hugo Lange, durante esta semana

Os itens que mais fazem falta para as presas são: creme dental, escova de dente, sabonete, absorvente, desodorante, papel higiênico, shampoo, condicionador, toalha, lençol; itens básicos de higiene. Também faltam roupas e utensílios para os bebês das gestantes detentas, que ficam na prisão com as mães até os seis meses.

Duas campanhas em Curitiba visam arrecadar estes produtos e encaminhar para as presas. Hoje, as cerca de 700 detentas estão distribuídas entre a Penitenciária Feminina do Paraná, em Piraquara; o Centro de Reintegração Feminino de Foz do Iguaçu; a Cadeia Pública em Ponta Grossa; o Complexo Médico Penal, em Pinhais; Cadei Pública de Rio Branco do Sul, além de várias delegacias de polícia.

A primeira campanha é para as presas da Penitenciária Feminina do Paraná. Organizada pela Defensoria Pública do Estado, recebe as doações até o dia 12 de março, na sede central ou na sede administrativa da instituição, localizadas no Centro de Curitiba. Confira aqui os endereços.

A segunda campanha arrecada – até 16 de março – produtos e cartas de motivação para 15 mulheres trans que estão presas na Cadeia de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Além dos itens de higiene, elas precisam também de calcinhas (de tamanhos variados) e roupas (que só podem ser legging de cor cinza e camiseta branca). As doações estão sendo recebidas no instituto A Tenda, localizado na Rua Fernandes de Barros, nº 1.426, no bairro Hugo Lange –  das 9h às 12h e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira.

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