Com a presença de Lula, Requião se filia ao PT e promete “escorraçar a canalhada”

Dois anos e quatro meses depois de deixar a prisão, ex-presidente voltou a Curitiba para a filiação do ex-peemedebista, que vai concorrer ao governo em outubro. Ratinho Júnior e Bolsonaro foram os principais alvos

O ex-governador do Paraná Roberto Requião assinou sua ficha de filiação ao PT na noite desta sexta-feira (18), em evento na Expo Unimed, em Curitiba, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou à cidade dois anos e quatro meses depois de deixar a prisão. Requião é a aposta do PT para derrotar o governador Ratinho Júnior (PSD), que tentará a reeleição em outubro. O filho do ex-governador, o deputado estadual Requião Filho, também se filiou ao PT.

Cerca de 3 mil pessoas estiveram na Expo Unimed para acompanhar a cerimônia de filiação e havia a expectativa de que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e do ex-juiz Sérgio Moro fizessem protestos contra o petista. Manifestantes contrários a Lula estiveram no local em dois carros de som, mas o evento já havia começado e eles foram embora cerca de 15 minutos depois. Apesar do pouco policiamento, não foram registrados confrontos ou confusões.

Requião falou por aproximadamente 30 minutos, depois dos discursos de lideranças estaduais e nacionais do PT. “Pela segunda vez em minha vida associo-me a um partido político. Integro-me hoje ao Partido dos Trabalhadores com as mesmas convicções, com os mesmos princípios, escravo dos mesmos compromissos com que, no final dos anos 70, me filiei ao Movimento Democrático Brasileiro”, disse Requião, que deixou o MDB em agosto, depois de 40 anos. “O objetivo comum era a derrubada da ditadura, agora nos agrupamos com foco na libertação do país, a libertação de um governo que aniquila vorazmente a soberania nacional e suprime os direitos dos trabalhadores.”

O ex-governador disse que tomou a decisão de se filiar ao PT por considerar que o momento é de superar possíveis divergências para “escorraçar a canalhada” que teria chegado ao poder no estado e no país. “Estaremos de acordo nas táticas empregadas. Talvez com algumas divergências, mas na estratégia, companheiro Lula, o nosso objetivo último é um só: escorraçar a canalhada numa hora tão infeliz que instalou-se no Paraná e no Brasil”, disse. “Eu acredito no Lula porque eu sei que ele sabe fazer. Eu o vi fazendo.”

O governador Ratinho foi o principal alvo de Requião, que classificou a atual gestão como “desastrosa, medíocre e desorientada”. “O apelido com que o nosso governador é nominado, além de fazê-lo se beneficiar do prestígio do pai, o reduz à sua verdadeira dimensão: Ratinho”, atacou o pré-candidato. Em seguida, ele lembrou programas de seus dois mandatos mais recentes, entre 2003 e 2010, e criticou os reajustes nas tarifas de água e energia elétrica.

Estado forte e combate à fome

Lula iniciou sua fala negando que Curitiba seja uma cidade conservadora. “Eu já tive vitórias memoráveis no Paraná, acompanhei a vitória do primeiro esquerdista prefeito do Paraná”, afirmou em relação à vitória de Requião na eleição para prefeito de Curitiba em 1985. “Um estado que tem a coragem de eleger um companheiro da qualidade do Requião não pode ser chamado de conservador. Possivelmente nós precisamos modelar o nosso discurso para convencer a maioria desse povo a votar no companheiro Requião, a votar em deputados e deputadas de esquerda, progressistas, comprometidos com o interesse do povo trabalhador.”

O ex-presidente fez um discurso de defesa da atuação do estado. “A elite escravista desse país consegue colocar na cabeça do nosso povo mais humilde que o Estado não presta, que a única coisa boa é a iniciativa privada, que a saúde pública não presta, e agora com a pandemia a gente provou que se não fosse a saúde publica esse país teria acabado”, disse Lula. “Eu quero um Estado forte. Não um Estado empresarial, mas um Estado indutor do desenvolvimento, um Estado que não gaste todos os seus recursos para pagar juros ao sistema financeiro.”

Lula criticou duramente o presidente Jair Bolsonaro, que chamou de “psicopata”:

“Eu não aprendi a ter raiva, a minha vingança será mostrar que esse país pode ser grande. No nosso governo o país era respeitado, não era um país pária como é hoje, governado por um psicopata, um homem que não sabe falar a palavra ‘paz,’ só sabe falar em ódio. Um homem que não sabe falar em amor, só sabe falar em ódio. Um homem que não sabe falar em cultura, educação e livro, só sabe falar em armas. Um homem que não tem fraternidade, não tem sentimento e peca todo dia porque usa o nome de Cristo em vão”.

Lula, em discurso na cerimônia de filiação de Requião.
Lula em sua fala: ataques a Bolsonaro (Foto: Tami Taketani)

Para o ex-presidente, a prioridade é novamente combater a fome. “Esse país é o terceiro produtor de alimentos do mundo e a gente não pode conceber a ideia de que tem 19 milhões de pessoas que não têm o que comer”, afirmou. “É o maior produtor de proteína animal do mundo e a gente vê num açougue uma mulher pegando osso pra fazer uma sopa de noite. Não falta alimento, não falta tecnologia, o que falta é vergonha na cara.”

Antes de Lula e Requião, falaram os vereadores de Curitiba Carol Dartora, Professora Josete e Renato Freitas; os deputados estaduais Tadeu Veneri, Arilson Chiorato, Requião Filho, Professor Lemos e Luciana Rafagnin; o ex-deputado Ângelo Vanhoni; os deputados federais Zeca Dirceu, Gleisi Hoffman (presidente nacional do PT) e Ênio Verri; os ex-senadores Idelli Salvati (RS) e Lindbergh Farias (RJ); e os senadores Jacques Wagner (BA), Humberto Costa (PE) e Rogério Carvalho (SE).

O deputado estadual Professor Lemos disse ao Plural que no Paraná o PT vai procurar fazer alianças com outros partidos além dos que deverão compor a federação partidária com a legenda. “Nós queremos a Federação. O PCdoB e o PV já firmaram posição, o PSB ainda está em debate, mas temos até 31 de maio. No Paraná existe a possibilidade de outros partidos se coligarem. Um exemplo é o PDT, que deverá apoiar o Requião para governador e o Ciro (Gomes) para presidente.”

Cerca de 3 mil pessoas acompanharam a filiação de Requião ao PT (Foto: Tami Taketani)

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1 comentário em “Com a presença de Lula, Requião se filia ao PT e promete “escorraçar a canalhada””

  1. Viva!:
    escorraçar
    verbo
    1.
    transitivo direto
    expulsar com violência e/ou desprezo; enxotar, afugentar.
    “escorraçou o mendigo insistente”

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