Alguns problemas são grandes demais até para Bill Gates

Documentário na Netflix explica como o criador da Microsoft decidiu usar sua fortuna e inteligência (outros diriam arrogância) para tornar o mundo melhor

Você pode pensar que todo bilionário fez por merecer sua fortuna ou que todo bilionário deve ser inteligente. Na realidade, porém, essa não é uma questão de mérito e inteligência. Alguns livros argumentam que a sorte desempenha um papel importante nas fortunas amealhadas por esse grupo distinto, que hoje conta com 2.153 integrantes no mundo inteiro, de acordo com a revista “Forbes”. Um deles é Bill Gates, o criador da Microsoft.

Sem dúvida, Gates teve várias sortes (sua mãe foi uma delas), mas ele é um bilionário que, no fim das contas, parece merecer a grana que acumulou e que usa seus dinheiros com alguma sabedoria. O documentário “O código Bill Gates”, em cartaz na Netflix há algum tempo, traça um perfil obviamente positivo, mas consegue fazer isso sem bajulação.

Dividido em três partes de mais ou menos 50 minutos cada, a proposta do filme é mais clara no título original: “Inside Bill’s Brain: Decoding Bill Gates”, ou “No cérebro de Bill: decodificando Bill Gates”. O entrevistador é também o diretor Davis Guggenheim e ele quer entender mesmo como funciona o raciocínio de Gates.

Numa das melhores partes, Melinda Gates, a esposa de Bill, dá uma gargalhada espontânea quando descobre o nome do filme. Guggenheim quer saber por que ela riu. E Melinda responde: “Porque é um caos! Eu não gostaria de entrar no cérebro dele. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. É inacreditável”.

Guggenheim investe nesse retrato do gênio excêntrico. Um amigo próximo diz que Gates consegue ler 150 páginas por hora e reter 90% das informações. Se isso é mesmo verdade (como saber?), ele não é apenas um gênio, é uma máquina.

Em outra cena boa, o diretor questiona Bill Gates sobre as acusações de monopólio sofridas pela Microsoft. Ele parece levemente contrariado com a pergunta, mas faz um exercício de cercar o entrevistador por todos os lados e dar uma resposta que, em outras palavras, diria algo como: “Fui acusado de monopólio porque minha concorrência era estúpida” (ele não diz isso com todas as letras, mas…).

Não é pequeno o número de pessoas com comentários pouco lisonjeiros sobre Bill Gates (nesse quesito, ele se parece com Steve Jobs, da Apple, também famoso por tratar as pessoas como lixo). Se Gates foi um jovem bilionário babaca, agora ele é um idoso bilionário simpático. Ainda arrogante, você pode argumentar, mas trata-se de uma arrogância curiosamente voltada para o bem.

Bill Gates deixou a presidência da Microsoft para criar a Fundação Bill e Melinda Gates.
(Foto: Divulgação)

Uma parte substancial do documentário fala sobre o trabalho de Bill Gates dentro da fundação que leva o nome dele e da esposa. E aqui fica difícil não admirar o sujeito. Enquanto os bilionários do mundo parecem se preocupar muito pouco com o resto da humanidade (quantos bilionários filantropos você conhece?), Bill e Melinda Gates têm a petulância de querer resolver alguns dos piores problemas do planeta. Problemas difíceis, impopulares, sujos.

Saneamento

Bill gastou centenas de milhões de dólares e um bom tanto de seu tempo tentando desenvolver uma solução mais acessível, do ponto de vista financeiro, para o problema de saneamento em regiões pobres, sobretudo no continente africano. Ou seja, ele se dispôs a lidar com merda. Outro problema em que investiu tempo e dinheiro diz respeito à energia nuclear (outra merda).

Ao falar dos esforços de Bill Gates para tornar o mundo um lugar melhor, o filme faz sua maior revelação: até mesmo um gênio bilionário sofre com limitações diversas – políticas, financeiras e práticas. Não importa o tamanho da inteligência e a quantidade de dinheiro, alguns problemas talvez sejam irresolvíveis.

Serviço

“O código Bill Gates” está em cartaz na Netflix.

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