Afro Martins Jr. gosta do fogo. E não se trata de uma metáfora. Ele trabalha com o fogo e é como se encontrasse nele uma espécie de equilíbrio. Na verdade, é algo notável.

Vá ao Chinchu Bar y Parrilla, na esquina das ruas Saldanha Marinho e Brigadeiro Franco, e você vai encontrar Martins Jr. desempenhando com tranquilidade o papel de assador. (Além de ser dono do lugar.)

De maneira inexplicável, o calor da churrasqueira não o incomoda. Ele se sente em casa, confortável. Mesmo que esteja lidando com uma quantia enorme de pedidos – o que ocorre com alguma frequência –, ele não derrama uma gota de suor. Muito diferente da imagem clássica do assador ofegante que parece derreter com o esforço e o calor.

Afro Martins Jr. dono do Chinchu em Curitiba — Afro Martins Jr. abriu as portas do Chinchu sem alarde no dia 4 de fevereiro de 2022. (Foto: Braian Bogu/Divulgação)

O Chinchu é um lugar pequeno, com cerca de 20 lugares do lado de dentro e mais 20 do lado de fora. Porém, se a clientela for criativa ao cercar uma mesa ou se espalhar de pé pela calcada, o número pode ser bem maior.

Dependendo do dia – ainda mais nas sextas e nos sábados à noite –, as pessoas de pé tomam conta do bar por dentro e por fora.

Mas existe um motivo para aglomerar no Chinchu, agora que aglomerar é mais aceitável. E esse motivo é o churrasco.

Cardápio

O cardápio sem frescura lista poucas e boas opções, com espetinhos (de R$ 15 a R$ 19) e assados (o mais barato é o galeto, por R$ 29,90), acompanhados de farofa de bacon e legumes feitos na churrasqueira. (Há quem diga que a farofa de bacon é tão espetacular que algumas pessoas pedem carne como acompanhamento da farofa, e não o contrário.)

O Chinchu está fazendo fama também pela qualidade de acompanhamentos com a farofa de bacon e o feijão. (Foto: Braian Bogu/Divulgação)

Trata-se de uma parrilla callejera, ou churrasco de rua. De inspiração argentina, os cortes no cardápio vão do chorizo (R$ 79 para duas pessoas) ao ancho (mesmo preço). De bebidas, oferece sobretudo chope Patagônia e vinhos tintos e brancos. Além de um e outro destilado.

Inspiração

Na verdade, Afro Martins Jr., o dono do Chinchu, diz que a ideia para o estabelecimento veio de dois lugares específicos: O Beco, em Camboriú; e La Borratxeria (ex-Underdog), em São Paulo. Ambos têm a mesma proposta: oferecer carnes de boa qualidade por um preço justo.

Para esta matéria, o Plural seguiu a regra do “Guia Michelin” e visitou o Chinchu quatro vezes sem revelar sua identidade. Três vezes foram muito boas. Uma, no carnaval, foi terrível porque o lugar estava muito, muito cheio. E gente demais atrapalha a experiência toda. É bom que você saiba.

As carnes são saborosas, macias e suculentas. E a apresentação dos pratos é feita com capricho. Ao contrário do que ocorre na maioria das churrascarias, os acompanhamentos no Chinchu valem a pena. Muito. Além da farofa, já mencionada aqui, o feijão também conquista fãs.

Por fim, se você pedir os legumes, não vai se arrepender. Por exemplo: o brócolis é de um verde intenso e, como é preparado na churrasqueira, fica assado e crocante.

A sua história

A reportagem provou algumas opções do cardápio, como o prime rib e o bombom de alcatra. Além de todos os espetinhos disponíveis. A linguiça usada na casa é a lendária Bizinelli, de um sabor sem igual. As carnes são de um produtor paranaense da região de Guarapuava, ligado à cooperativa Cooper Aliança. “É considerado um dos melhores produtores do estado”, diz Martins Jr. Pela qualidade da comida, o preço é mesmo justo.

Martins Jr. nasceu em Erechim (RS) e, ao longo da vida, passou por 17 mudanças em 11 cidades. Em Curitiba, abriu um restaurante de comidas saudáveis chamado Veg Lev, na rua Prudente de Moraes. Cuidou dele durante seis anos. Até que cansou. E decidiu abrir um negócio que tivesse mais a ver com sua história.

Além disso, ele queria encontrar uma forma de trabalhar perto de casa, para ficar perto do filho Raul, de 4 anos. Um guri com uma energia quase infinita. “Raul é um vulcão”, diz o assador. O que explica a churrasqueira ter sido batizada de… “Vulcão Raul”.

A churrasqueira batizada de “Vulcão Raul” em homenagem ao filho de Martins Jr. (Foto: Irinêo Baptista Netto/Plural)

A venda do Veg Lev ocorreu no fim 2019. Pouco depois, a covid-19 deu as caras na China. A pandemia foi um interlúdio em que quase nada de bom aconteceu. Quando a situação do país ficou ligeiramente melhor, Martins Jr. se preparou para montar o Chinchu, embalado principalmente pelas lembranças dos avós gaúchos que curtiam um churrasco.

Com uma pitada de sal

No meio da conversa, ele se interrompe para finalizar um pedido. Pega o bombom de alcatra (R$ 57 para uma pessoa), coloca sobre a tábua e cobre a peça com uma tampa de ferro por alguns segundos. Em seguida, polvilha a carne com sal e fatia em lâminas finas.

Chamou atenção o sal vir depois da carne ter sido tirada do fogo. É isso mesmo? “Sim. Porque, se você salgar antes, o sal vai desidratar um pouco a carne e ela fica menos suculenta”, diz Martins Jr. “Por isso, coloco o sal depois de tirar a carne da grelha.” Não é uma regra, mas um truque simples (e absurdamente pouco usado).

Martins Jr. prefere salgar a carne depois de tirá-la do fogo. (Foto: Braian Bogu/Divulgação)

Em etapas

Sem alarde, o Chinchu inaugurou no dia 4 de fevereiro de 2022. A ideia era colocar a casa para funcionar e ir estruturando em etapas.

Agora, Martins Jr. se prepara para abrir uma extensão do Chinchu na Brigadeiro Franco para vender chopes e atender o público que prefere ficar na rua, de pé, batendo um papo. Em seguida, ele vai colocar para funcionar um sistema de entrega em domicílio.