Lado B: Um Lugar – Manifesto Café

Bia Moraes conta a história de um café inspirado em Marx

Tomar um café pra lá de gostoso, plantado e colhido manualmente por mulheres, cujos grãos foram selecionados e torrados também por mulheres; comer um sanduíche feito com pão artesanal e fermentado naturalmente; saborear um brownie feito em casa; ler um livro do próprio local; e conviver com uma porção de gente bacana, de várias idades – além dos proprietários, que são gente finíssima.

Tudo isso em um café que se chama Manifesto.

Isso mesmo – Manifesto. 

(E eu ainda ganhei deles uma edição, traduzida do alemão, do Manifesto Comunista, depois de beber o melhor expresso-tônica que eu já tomei na vida).

O ambiente do Manifesto

Se eu disser que o Manifesto Café é a concretização de um sonho, eu sei, é clichê; mas é isso mesmo. Além do mais, é resultado de uma parceria improvável. Com pouco dinheiro, os sócios Bruno Goy e Rafael Suzuki ergueram, em pouquíssimo tempo, e do zero, um ambiente despretensioso, informal, aconchegante e com jeito de nós-mesmos-que-fizemos.

(Foi o Bruno, junto com o pai dele, que fabricaram a maioria dos móveis).

A história começa com Bruno, que foi sócio de outro café, com perfil bem diferente. Era no Batel, e a sócia dele era estudante de Administração. “Não deu certo, fechou depois de alguns meses”, conta. Ele já era funcionário da Copel. Um belo dia, passou pelo lugar onde hoje é o Manifesto – pertinho da UTFPR e vizinho da livraria Itiban – e teve um estalo: é aqui!

Fabíola Jungles, barista, sócia do café e responsável pelo Projeto Consolida.

É que ele foi estudante do então Cefet e guarda relações afetivas com a escola. Pois bem, Bruno foi lá e alugou o ponto, depois de uma rápida negociação. Ele não sabia bem o que fazer, ou como fazer. E assim se passaram meses. Pagava o aluguel com o próprio salário. “Não sobrava quase nada. Eu me apertei, mas valeu a pena”, ri. 

Até que surgiu um sócio. Mas… de novo, não deu certo. Ele ficou sozinho, pagando o aluguel e bolando o Manifesto. Foi aí que Rafael entrou na jogada.

“Eu sempre trabalhei com gastronomia, fazendo comidas, e tive experiências em outros cafés, já conhecia os cafés especiais”, relata Rafael. “Estava acertado que eu seria o fornecedor dos sanduíches defumados pro café do Bruno”. Os dois se conheceram no fim de 2017. 

“Um dia, ele falou para mim, vamos conversar sobre o teu negócio?”, completa Bruno. “A energia do Rafael me impulsionou”. Pronto, estava feita a sociedade. O Manifesto abriu em janeiro de 2018.

A “cozinha” do Manifesto com a torrefadora

Tudo que é servido lá é de origem agroecológica, de produtores locais, fruto da economia solidária. Fabíola Jungles, do Projeto Consolida – que promove os cafés das mulheres – agora é sócia do Manifesto Café. 

“Eu vi o quanto é importante pros donos do negócio se relacionarem com os clientes. Antes eu não conseguia. Aqui, eu posso, e gosto bastante disso. O nosso público troca ideias e curte o nosso jeito de fazer tudo; curte o nosso manifesto”, diz Bruno.

“É um manifesto das relações humanas, do consumo consciente dos alimentos, dos cafés especiais, da arte e da culturas locais, do respeito aos clientes, dos nossos ideais. Tudo aqui é manifestado”, diz Rafael. 

E, claro, os dois sócios são admiradores de Karl Marx, que inspira a decoração do local.

 

Para ir além

Manifesto Café – Avenida Silva Jardim, 837 – Curitiba – Segunda à sexta, das 9h30 às 19 horas.

 

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