Muito mais do que uma revista

A Revista Civilização Brasileira reuniu um time de colaboradores para fazer frente à ditadura

De Monteiro Lobato (1882-1948): “Um país se faz com homens e livros”. O que diria hoje o escritor paulista de Taubaté, autor de O Sítio do Pica-pau Amarelo, entre outras obras, todas marcadas pelo caráter nacionalista e social? Não é difícil imaginar. Muito provavelmente que o importante é a leitura, e não somente de livros, mas o que é produzido a partir de boas fontes, confiáveis, com embasamento e, assim, saciar a sede de informação e análises procedentes.

Um belo exemplo disso: recentemente, ao mexer em sua biblioteca, um caboclo de Curitiba abriu um largo sorriso: além de localizar livros de Lobato, topou com exemplares da Revista Civilização Brasileira. Isso mesmo, a velha RCB, publicação mensal que circulou de 1965 a 1968, graças ao editor Ênio Silveira, da Editora Civilização Brasileira, e a equipe que, aos poucos, foi reunindo.

Em plena ditadura civil-militar

É dele, Ênio, o editorial do primeiro número da Revista, de março de 1965:

– A História é um processo contínuo de desafio e consequente vitória ou derrota, sendo que tanto as vitórias como as derrotas colocam novos desafios à capacidade criadora do homem.

Publicação mensal da Editora Civilização Brasileira, a Revista Civilização Brasileira circulou na década de 1960. Embora uma revista no título, tinha formato de livro com 300 páginas em média – conforme a edição, chegava a 382 páginas. E, como registraram muitos historiadores, “conquistou uma importância significativa, pois serviu como veículo de resistência cultural ao regime ditatorial, reunindo artistas, intelectuais, escritores, poetas, cineastas, sociólogos e filósofos, que contribuíram com a revista publicando artigos e debatendo a realidade brasileira que naquele momento vivia sob o governo civil-militar”. Sim, civil-militar, como comprovou a escritora Beatriz Kushnir no livro Cães de guarda: Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988, lançado em 2004 pela Editora Boitempo.

No primeiro número, lançado em março de 1965, com tiragem bimestral, tremendo sucesso. No seu 2.º número, a revista chegou a 20 mil exemplares. Mas, por força da repressão durante o regime civil-militar, sofreria alguns atrasos. Isso, porém, não impediu que os volumes circulassem com números geminados. Sempre ao lado do editor Ênio Silveira estava o poeta Moacyr Felix. A revista foi muito importante na articulação dos setores que lutavam pelas liberdades individuais e pelo retorno do estado democrático.

Um time de primeira

A Ênio Silveira e Moacyr Felix vieram se alinhar mais gente de peso inquestionável: Álvaro Lins, Paulo Francis,  Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony, Roland Corbisier, Dias Gomes, Nelson Werneck Sodré, Manuel Cavalcanti Proença, Octavio Ianni, José Arthur Poerner e Jaguar, ele  mesmo, publicando suas charges fulminantes, e outros nomes que marcaram não só a história da revista, mas igualmente a história da cultura e da política do país.

A revista tinha sede na Rua 7 de Setembro, 97, Rio de Janeiro, GB – ou seja, Guanabara. O gentílico era guanabarino

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