Militarizar a escola, não. O caminho é desmilitarizar a PM

Militares seriam bons para cuidar de escolas por quê? O treinamento deles é para combater crimes

O governador Ratinho Jr. (PSC) anunciou que pretende militarizar 215 escolas estaduais do Paraná. isso equivale a dez por cento de todas as escolas ligadas ao governo. Embora ainda esteja ocorrendo uma discussão com as comunidades escolares, parece que o caminho vai ser esse mesmo. É uma tristeza.

É impossível esconder os problemas da educação pública no Brasil. E é verdade que algumas escolas militarizadas têm desempenho acima da média. Mas, como diz a famosa frase, para todo problema complexo existe uma resposta simples, fácil e completamente equivocada. Não poderia haver definição melhor.

Militarizar escolas é uma ideia sem pé nem cabeça. Militares seriam bons para cuidar de escolas por quê? Eles não são professores. Não são pedagogos. Não são administradores. O treinamento que eles recebem é para combater crimes: e espero que não seja preciso explicar a diferença entre isso e educação.

Claro que para muita gente a ideia tem apelo: existe a noção de que adolescentes, e mesmo crianças, são uns pequenos selvagens que precisam ser domesticados. Os militares, com seu amor pela hierarquia e pela imposição de padrões de comportamento, seriam os homens certos para o trabalho.

Mas reduzir a educação a disciplina é um erro drástico. Crianças não devem ser domesticadas: pelo contrário, a ideia é que a educação ajude as pessoas, no momento mais importante de seu desenvolvimento, a descobrir o mundo, a explorá-lo, a amá-lo. E isso exige liberdade.

O excesso de hierarquia, de vigilância, a ideia de que é preciso punir qualquer desvio em relação a um certo “padrão” (qual? decidido por quem?), tudo isso faz parte de uma pedagogia ultrapassada, que deveria em nossas cabeças ser associada ao século 19, e não ao futuro.

Enquanto em países mais adiantados as crianças se aproximam cada vez mais de uma educação libertadora, enquanto empresas como Google e Microsoft cada vez mais tentam acabar com as barreiras importas pela hierarquia, enquanto o mundo todo caminha em direção a mais liberdade, nós recuamos.

Recuamos para a ideia de que é preciso militarizar as escolas e o próprio governo. De que só com pulso firme e castigos se educa alguém. E que o resto é a barbárie, a baderna.

A Polícia Militar é um resquício da ditadura que governou o país por 21 anos. Infelizmente, é uma das polícias que mais mata no mundo. Embora tenha pessoas preparadas e certamente alguns oficiais muito capacitados, ainda é marcada muitas vezes pela truculência e pelo desrespeito à lei.

A discussão que deveríamos estar fazendo é a desmilitarização da polícia. Mas, na contramão dos tempos, Ratinho prefere militar as escolas. Deveríamos colocar professores para dar aulas nos quartéis. Mas estamos prestes a entregar os professores e os alunos nas mãos dos militares.

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