Ex-ministro Ricardo Barros apoia general na saúde e diz que tomou cloroquina

Ricardo Barros. Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil.
Deputado afirma que usou medicamento no tratamento contra a covid-19. Para ele, saída de Mandetta "ajudou" o Brasil

Ex-ministro da Saúde no governo de Michel Temer, e atual vice-líder do governo Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso Nacional, o deputado federal Ricardo Barros (PP) considera que o país está no rumo certo no combate ao coronavírus. Para ele, o ministro interino, general Eduardo Pazzuelo, está corrigindo equívocos feitos no início da pandemia.

Barros defende que o general permaneça como ministro para que não haja descontinuidade no trabalho. No entanto, destaca que a saída de Luiz Henrique Mandetta “ajudou” o Brasil. O deputado é um defensor do chamado isolamento vertical, que isola apenas pessoas que fazem parte do grupo de risco da covid-19.

No final do mês passado, o ex-ministro e sua família foram infectados pelo coronavírus. Barros relata que para ser curado da doença recorreu ao polêmico medicamento cloroquina, amplamente defendido pelo presidente Bolsonaro. Para o deputado, a escolha sobre se toma ou não o remédio deve ser do paciente.

Um novo protocolo do governo federal prevê o uso da cloroquina desde o estágio inicial do contágio de coronavírus. Como vê essa questão?

Não há estudos de que a cloroquina agrava mais a doença nem que ela pode curar a covid. Esse remédio está sendo utilizado porque em alguns países iniciaram a prescrição, porque haviam evidências de que teria efeito positivo. Isso acabou sendo propagado em vários países. Eu mesmo tomei o medicamento no estágio inicial. As contraindicações vêm para quem toma muito desse remédio e por muito tempo, isso não é o caso da covid.

Recentemente, o ex-ministro Mandetta acusou Bolsonaro de tentar alterar a bula da cloroquina por decreto. Isso é possível?

Isso é impossível, ninguem pode alterar a bula do remédio a não ser o fabricante. Não vou julgar o Mandetta, mas está muito atrasado o reporte dele.

Como vê essa constante troca de ministros da Saúde, isso é arriscado não? E como analisa o nome do general Eduardo Pazzuelo?

As trocam não ajudam, mas no caso do Mandetta ajudou. O Mandetta éstava há 60 dias no cargo e não conseguiu comprar EPIs, respiradores e dava entrevista dizendo que interceptaram os equipamentos. O Congresso votou leis autorizando as compras sem licitação e o presidente deu o orçamento ilimitado para a luta contra a covid. Ai depois veio o [Nelson] Teich que saiu por causa da cloroquina, uma bobagem.

O presidente ja tinha autorizado o uso da cloroquina em qualquer estágio da doença, por qualquer médico, desde que com o consentimento do paciente. Esse assunto já estava resolvido. Ele decidiu sair, quem permaneceu foi o general. Quem colocou a sua estrutura operacional de ministério foi o general. A sua permanência, após a saída do Teich, não provoca descontinuidade nas ações que precisam ser feitas para que o Brasil tenha as ferramentas de combate ao coronavírus.

Como vê as nomeações feitas por Pazzuelo? Perto de 20 militares ingressaram no ministério.

Cada pessoa que assume tem de proteger o seu próprio CPF. Vai responder processos certamente no TCU [Tribunal de Contas da União], Ministério Público [Federal], Controladoria [Geral da União], mas todo mundo quer mostrar serviço. Obviamente, todo mundo quer colocar pessoas de sua confiança. Por isso, tenho recomendado a permanência do general, porque se não vem outro e quer trocar toda a equipe.

O Brasil passou das mil mortes diárias por covid-19. O senhor já fez muitas críticas ao isolamento social. Acredita que ele é insuficiente?

Isolamento está sendo improdutivo, mesmo com lockdown . Até tem toque de recolher em algumas cidades. Só que a pandemia está correndo, os casos estão aumentando. Pesquisas mostram que têm cidades em que menos de 50% da população está em isolamento, mesmo onde foi decretado o isolamento. Então, o vírus tá circulando. Nós estamos com prejuízo da paralisação econômica e sem a vantagem para a saúde do adiamento do pico da covid, para que quando as pessoas necessitassem de atendimento, nós estivessemos estruturados. Já faz 90 dias que está rodando a epidemia e nós não estamos estruturados. Então nós estamos perdendo dos dois lados.

Como vê o isolamento vertical defendido pelo presidente Bolsonaro?

Isolamento vertical é o que eu defendo também, pessoas idosas e imunodefinidas. Não importa a idade da pessoa, se ela tem alguma deficiência na imunidade ou comorbidade, ela não fica protegida né. Assim como os idosos e segue a vida normal. Com o isolamento verticial desde o início, talvez nós teríamos o mesmo tanto ou provocaria menos mortes e menos casos no Brasil.

Liberar todo mundo não faria o colapso no sistema de saúde chegar mais rápido?

Sim, mas o fato de adiar o colapso do sistema está relacionado a estruturar melhor o sistema. Nós não adiamos e não estruturamos.

É comprovado que os países que obtiveram êxito no combate ao coronavírus são aqueles que testam mais. Como vê esse cenário de testes no Brasil?

Eles [os testes] são necessários para se ter uma visão melhor do que esta acontecendo. Temos dinheiro disponível. O ministro Mandetta começou dizendo que faria teste apenas em pessoas hospitalizadas. Depois veio falar em 20 milhões de testes. O ministro Teich falou em 40 milhões, mas não conseguimos superar a burocraria dos órgãos de controle.

Ao que tudo indica, a covid-19 ainda não chegou ao pico no Brasil. Como ter um sistema estruturado até lá?

Só precisamos de coragem para os agentes públicos aprovarem a lei que o Congresso votou, autorizando compras sem licitação. Se não continua o mesmo processo no Ministério, de tomada de preços, aplicação de resultados. Não é possivel em uma economia de guerra, que você diga para o seu concorrente, para o seu adversário, que você vai comprar alguma coisa. Se você ficar sem o suplemento e munição, vai perder a guerra.

Os orgãos de controle não estão facilitando. Já perderam gente, secretários foram exonerados. O servidor fica intimidado para tomar decisões, sob pena de responsabilização e perda do cargo público. Não é só nisso, é na licença ambiental, tudo no Brasil está paralisado. O servidor por outro lado tem estabilidade, se ele despacha ou não, o salário dele fica igual, então ninguém está fazendo nada.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima