“Fetiches” faz rir com fantasias incomuns como “autagonistofilia”

Apesar de recatada, a comédia francesa “Fetiches” tem um bom elenco e uma ideia divertida como ponto de partida

Para um filme que fala de sexo, “Fetiches” é curiosamente ingênuo. Envergonhado, até. Se você considerar que se trata de um filme francês, e levando em consideração a fama que o cinema da França tem de ser desinibido, essa comédia beira o absurdo. Porque parece incoerente querer falar de fantasias sexuais de um jeito assexuado. Mas talvez seja uma piada irônica (e não muito acessível).

É como se David e Stéphane Foenkinos, os irmãos que escreveram e dirigiram “Fetiches”, dissessem: “Sim, a gente quer falar sobre fantasias sexuais e, sim, vamos fazer isso em um filme francês para quase toda a família!”.

Desse modo, “Fetiches” se divide em seis episódios independentes, cada um deles dedicado a uma fantasia. Como elas são bastante peculiares, merecem ser mencionadas uma a uma.

“Ludofilia”

Começa com o episódio “Ludofilia”: ficar excitada(o) interpretando um papel. O casal Vincent e Louise Lebrun vive junto há quase 20 anos e chegaram a um ponto em que a vida sexual deles tem dia e hora para ocorrer (nada de errado com isso, mas os dois parecem muito pouco interessados um no outro).

Um dia, a esposa sugere que os dois interpretem papéis para tornar o sexo mais interessante. Que o marido use uma roupa de bombeiro ou de policial. A ideia acaba funcionando bem, mas com um efeito colateral. O contador Vincent gostou tanto de interpretar um papel que descobriu uma nova paixão – o teatro.

Ajuda muito o fato de Vincent ser interpretado por Denis Podalydès, um grande ator francês. Este é, de longe, o melhor dos episódios, merecendo uma nota 8 (de 10).

“Autagonistofilia”

Ele é seguido de perto pelo sexto e último: “Autagonistofilia”: ficar excitado(a) ao se ver fazendo amor. Nessa história (nota 7), uma professora de crianças (Karin Viard) faz a vontade do marido (Jean-Paul Rouve) e deixa que ele use câmeras para gravar a vida sexual dos dois, ambos já na meia-idade e ainda interessados sexualmente um pela outra e a outra pelo um.

Mas não se trata de um videozinho no celular. O sujeito tem ambições. Ele quer fazer filmes elaborados, com mais de uma câmera, roupas de couro e algum ensaio. Tudo bem, desde que os vídeos sejam apenas para uso do casal, diz a mulher.

Como é de se esperar nesse tipo de arranjo, o homem acaba enviando os vídeos sem querer para um conhecido qualquer e esse conhecido faz “o favor” de publicar tudo na web.

Primeiro, a mulher entra em pânico, fica furiosa e pede para que o marido tire o vídeo do ar. Confrontada com a realidade da internet, em que as coisas que você gostaria de apagar jamais saem do ar, algo inusitado acontece. Ela se sente empoderada pela experiência. (Lembre que se trata de uma comédia ingênua – e algo machista, você pode argumentar.)

Outros episódios

Entre o primeiro e o último episódio, existem quatro que falam, cada qual, sobre “Dacrifilia” (ficar excitada com lágrimas, nota 6); “Sorofilia” (ficar excitado pela irmã da pessoa amada, nota 5); “Tanatofilia” (excitadas pela morte, o pior episódio de todos, com nota 3); e “Hipofilia” (excitados por evitar fazer amor, nota 6). Na média, o filme fica com nota 6, o que não é ruim para uma comédia de família.

Porém, nesse esforço de agradar um público amplo, “Fetiches” acabou ficando insosso, sem personalidade. É uma pena. Porque a ideia era bem legal.

Onde assistir

“Fetiches” (2021) estreia nesta sexta-feira (6) nas plataformas de streaming iTunes/Apple, Google/YouTube, Claro Now e Vivo Play. O filme está disponível para compra e aluguel. A classificação indicativa é 16 anos, embora seja difícil de entender o porquê.

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2 comentários em ““Fetiches” faz rir com fantasias incomuns como “autagonistofilia””

  1. Monica Izza Rodrigues do Nascimento

    Eu assisti e fiquei surpresa com tantas coisas relacionadas ao sexo que pra mim seria estranho, como de fato é. O interessante é que abre nossa mente pra entender mais ainda o próximo.

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