Foi como um milagre. “Do Meu Coração Nu”, terceiro disco de estúdio de Zé Manoel, chegou no final de 2020, como que para alentar um país inteiro. O cantor, compositor e pianista pernambucano construiu uma espécie de crônica ancestral, e mesmo assim muito contemporânea, sobre os assuntos que nos perpassaram nestes últimos meses de desvario civilizatório: o racismo, a violência dirigida, o preconceito estabelecido, o não saber da nossa própria história.
No álbum, Zé, convidado deste Papo de Quarentena, contou com participações importantes, como a de Letieres Leite, de Kassin, de Alberto Continentino. Mas foram as mulheres negras as companheiras de sua glória redentora: a cantora baiana Luedji Luna, a poetisa pernambucana Bell Puã e a escritora, ativista e historiadora sergipana Beatriz Nascimento (1942-1995), esta postumamente, participam do disco – que está em diversas listas de melhores do ano, foi lançado no Japão e terá edição em vinil.
Na conversa informal da casa de sua mãe em Petrolina (PE), Zé Manoel fala sobre seus avós sanfoneiros. Sobre a empatia como antídoto ao ódio. Sobre o racismo em Curitiba. Sobre sua participação, como pianista, no próximo disco de Maria Bethânia. Sobre o que precisamos ouvir cada vez mais.