“Você pertence às suas escolhas”, diz Manoela Leão, fundadora do Litercultura

Conheça a curitibana de Pernambuco responsável pelo Litercultura, um dos maiores eventos literários do país que começa nesta segunda-feira (12), na Capela Santa Maria

Ela ri ao lembrar a situação em que concedeu entrevista para a rádio: por telefone, dentro de um pequeno salão de beleza no Centro da cidade. Retocava o tom de castanho dos cabelos curtos e ondulados, quando recebeu a ligação. “A cena foi muito ridícula!”, brinca Manoela Leão, idealizadora e diretora do Litercultura, o maior evento literário de Curitiba – e um dos maiores do país – que começa nesta segunda-feira (12). “Eu acho que isso é a melhor coisa”, diz ao narrar a peripécia – os olhos por trás dos óculos de grau, estilo aviador, diminuem cada vez que ela abre um sorriso. E, com “isso”, ela se refere à liberdade que tem no trabalho: a cidade inteira é seu escritório.

A ideia de fazer um perfil da curitibana-pernambucana surgiu no anúncio da 7.ª edição do Litercultura, que fala sobre Fronteiras. A reportagem acompanhou Manoela nos dias 8 e 10, nas mais variadas atividades.

São desses pequenos episódios que se constrói o Litercultura: ligações no celular enquanto anda por calçadas de paralelepípedo, mensagens no WhatsApp trocadas durante o almoço nas redondezas da Reitoria e até convites cortados com um estilete pela própria Manoela (o que lhe rendeu um corte no indicador esquerdo). 

Lidar com os perrengues que aparecem pelo caminho é, para Manoela, algo natural. Sem gritos e berros, um tom de tranquilidade impera nos bastidores do Litercultura. 

Alguém já disse que a experiência de ir ao festival literário de Curitiba é um pouco como ir a um restaurante e encontrar o dono atrás do balcão.  “[O Litercultura] não pertence a uma empresa, pertence a pessoas”, diz a produtora. Para ela, vínculo é a palavra chave: seja entre a equipe, composta por amigos; seja com o público, que reconhece e confia nos atores do evento, que existe desde 2013.

O Litercultura surgiu do casamento entre experiência e paixão. Foi em 2012, em meio à efervescência dos eventos literários no país. “Na época, existiam mais de 200 eventos literários pelo Brasil. Curitiba não tinha. Não que não tivesse encontro de literatura, evento de literatura… Não tinha um festival”, diz Manoela.

Com formação em Artes Visuais, e atuando em publicidade, o trabalho com produção cultural veio por meio da prática. “São áreas diferentes, mas a dinâmica, a logística, o pensamento, o planejamento, tudo é um pouco igual”, diz. Quanto à paixão, o amor pela literatura veio só na vida adulta. Um interesse despertado pelo então marido, pai de seus dois filhos. “Eu chegava em casa e assistia à novela, queria descansar a cabeça. Ele me dizia: ‘descansa lendo um livro’”, conta. Por meio da relação do marido com os livros, ela acabou também se apaixonando. “Tem uma coisa que é muito importante na literatura: é você estar na pele de alguém. É entrar na cabeça do outro”, diz. 

Fronteiras, pontos de encontro

Filha de um economista e de uma psicanalista, Manoela nasceu em Recife e mora em Curitiba há 13 anos. Mantém o sotaque pernambucano ainda hoje, e navega bem por essa espécie de limbo que habita: o ponto de contato entre duas culturas bem diferentes, do Norte e do Sul. 

“Eu mesma busquei esse estranhamento. Vim para cá porque queria uma experiência diferente”, relata ao falar sobre a mudança. Mesmo depois de tanto tempo na capital paranaense, sua origem ainda é uma espécie de fronteira– no sentido mais abstrato da palavra: como aquilo que delimita uma forma, mas que também une. Mais do que se firmar na área cultural, o desafio foi a própria cidade: “As pessoas sempre achavam que eu era de fora. Quer dizer, eu sou de fora, mas sempre achavam que o evento era de fora, que era uma coisa que vinha, montava e depois ia embora”, revela. Não que a especificidade geográfica de sua trajetória importe por si só. “Você pertence às suas escolhas”, responde ao ser questionada sobre a ideia de pertencer a um ou a outro lugar.

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