Vizinhos oferecem ajuda a pessoas do grupo de risco para fazer compras

Iniciativa vem ganhando adeptos nos prédios de Curitiba

Vivo há três anos em frente à Praça Santos Andrade, num prédio construído na década de 70 e habitado por muita gente desde então. Ouço as histórias daquela época na portaria e cumprimento idosos no elevador todos os dias. Mas só recentemente, conversando com o síndico sobre coronavírus, soube: “Temos pelo menos 20 vizinhos com mais de 60 anos”, estimou Fernando Sanches Sitko.

Quando a epidemia chegou a Curitiba, fiquei na dúvida: como ajudar os mais velhos? E quem também faz parte do grupo de risco por causa de outras doenças, mesmo sendo mais novo? Alguns dias depois, vi uma das respostas possíveis fixada no elevador. Um bilhete listava moradores dispostos a fazer compras de mercado e farmácia para o grupo de risco. Sem custo.

A lista do prédio

Interfonei para dois desses nomes. 

A primeira da lista, descobri, é a psicóloga Camila Sydol, 23 anos. “Vi essa iniciativa nas redes sociais e quis replicar aqui no prédio”, relatou. Pouco antes de falar comigo, ela atendeu à demanda de uma senhora que veio de São Paulo para visitar os familiares e acabou ficando por aqui mesmo. O pedido era simples: levar um documento aos Correios, com uma assinatura amável: “Deus abençoe você”. 

Satisfeita, Camila me emprestou sua visão: “É importante auxiliar quem não está numa situação tão confortável quanto a minha, já que não faço parte do grupo de risco. Agora, o papel do jovem é aumentar o cuidado com o outro. Precisamos aprender com essa situação. Acho que isso vai ressoar na nossa relação aqui no prédio e, tomara, fora dos limites do prédio também”.

Em seguida, interfonei no 1202 à procura do economista Másimo Della Justina, 57 anos. Ele defendeu: “Em períodos de crise, afloram os melhores e piores lados dos seres humanos, assim como dos líderes. Então, pensei em doar o meu melhor lado, colocando-me à disposição de quem precisa. Nem tudo depende do poder público, algumas coisas podem ser feitas na vida privada e bem ao nosso lado”. 

Nas redes sociais, amigos vêm publicando a mesma ação, só que tomada em outros condomínios e bairros de Curitiba, do Fazendinha ao Bom Retiro. Tudo indica que a moda pegou.

Outra versão – desta vez à mão – lá do Fazendinha

Como se proteger durante as compras? E ao recebê-las?

Masimo já fez compras para dois moradores do nosso prédio – sempre tomando as devidas precauções: “Senão estarei indo buscar o vírus. Acho que quem ajuda deve ter consciência disso”.

Camila contou que tem sido rígida quanto à higiene: “Li um manual sobre como sair de casa para ir ao mercado, escrito por um professor da USP. Cuido dos sapatos, das roupas, das mãos… A ideia é não ficar doente e, principalmente, não passar pros outros”.

A infectologista Flávia Cunha Gomide Capraro reforça: “Os voluntários devem estar assintomáticos, claro, e devem higienizar as mãos antes de iniciar as compras”. 

Na volta, o cuidado com os pacotes recebidos precisa ser de quem os recebe. “Como não se pode garantir que outras pessoas já tenham contaminado as embalagens dos produtos, elas devem ser higienizadas antes de serem guardadas. Uma sugestão é colocar as sacolas dentro da pia e ir retirando as embalagens uma a uma para higienizar antes de guardar na geladeira ou armários. Frutas e verduras precisam ser lavadas desde sempre”, orienta. Por fim, as sacolas devem ser descartadas e as mãos lavadas.

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