Vacinação atingirá um terço dos profissionais da Educação

Professores temem contaminação com salas impróprias, falta de funcionários e dificuldade de acesso digital para garantir o ensino híbrido

Eles já disseram que não voltam sem vacina. A greve contra o retorno presencial sem imunização já foi anunciada pelos profissionais de Educação da Rede Estadual do Paraná. Professores temem contaminação com salas impróprias, falta de funcionários e dificuldade de acesso digital para garantir o ensino híbrido.

Contudo, o retorno presencial foi anunciado pelo Governo do Estado para a próxima segunda-feira (10). Para isso, foram priorizadas 32 mil doses de vacina contra a Covid-19 para a categoria. O número, no entanto, atinge apenas um terço dos cerca de 90 mil educadores da Rede, e a imunização se dará somente depois do retorno.

“As pessoas entre 55 e 59 anos (incluídas nesta fase da vacinação) representam uma pequena parcela da nossa categoria e isso obrigará os demais a voltarem para poder receber a vacina. Então, o governador alterou a regra. Antes era: o retorno presencial só aconteceria com a vacina. Agora, ele coloca como condição o retorno sem vacina, para depois ser vacinado”, diz a APP-Sindicato, que representa os professores e funcionários de escolas estaduais.

A entidade apontou, em entrevista coletiva, que o acesso à internet não é realidade em todas as escolas. “O Paraná comprou dados de telefonia e disponibilizou o acesso, mas via escola. E ainda tem limitação disso e os problemas tecnológicos dos equipamentos. Computadores velhos para os professores, não mais compatíveis com os programas da Seed. Muitos estudantes têm apenas um celular para toda família e o sistema não permite mais de um aluno pelo mesmo acesso.”

Segundo os educadores, “não é verdade” que todas as escolas estão com estrutura. “A maioria dos diretores diz não ter condições de voltar, não houve ampliação de salas, seja pela estrutura ou falta de funcionários – o que não garante a higienização e o protocolo exigido para o retorno.”

Já o Governo do Estado garante que as escolas estão prontas e são seguras. “Estamos nos inspirando no estudo de 21 países que descobriram que a escola não é o grande problema da transmissão do vírus, temos outras áreas que potencializam isso. Esses estudos nos dão a segurança de que é possível fazer este retorno no dia 10”, afirmou o governador Ratinho Jr (PSD).

Questionado sobre sua declaração anterior, de que as aulas só voltariam com os professores vacinados, ele disse que “não dá pra esperar que todos serão vacinados em 30 dias”, mas que “a ideia é ser gradativo e os professores que voltam terão prioridade” na vacinação.

Em Curitiba, a Prefeitura ainda não confirmou se irá vacinar os profissionais de Educação, já que contestou a distribuição estadual, dizendo que a vacina das grávidas foi para os professores.

As aulas na Rede Municipal da Capital seguem no modelo remoto, sem data para o retorno presencial.

Na Rede Particular de Educação do Paraná as aulas presenciais estão liberadas desde 5 de abril.

Aprendizagem

A doutora em Educação, Claudia Silveira Moreira, professora e pesquisadora do Núcleo de Políticas Educacionais (Nupe) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) avalia que “se considerarmos os protocolos sanitários – em especial o protocolo de retomada das atividades presenciais publicado pela Fiocruz – não há condições para o retorno ainda. Isso porque, em indicadores objetivos, tais como taxa de ocupação de leitos e número de casos por 100 mil habitantes, estamos muito longe das condições adequadas.”

Sobre a aprendizagem, ela ressalta a dificuldade de atuar em duas modalidades de ensino simultâneas. “Os professores terão suporte, sobretudo de pessoal especializado, para dar conta das questões técnicas que envolvem a transmissão das aulas?”, questiona. “E as condições da aprendizagem, já que os professores terão que se desdobrar para atender quem estiver em sala e quem estiver em casa?”

A também a doutora em Educação, Mônica Ribeiro, professora de Políticas Educacionais na UFPR, concorda que o retorno ainda não é seguro. “Não há segurança sanitária nem para estudantes e nem para os profissionais da Educação. Nossas escolas, em sua maioria, possuem restrição de espaço físico, salas mal ventiladas, espaços inapropriados para circulação de pessoas neste tempo de pandemia. O ideal é avançar com a vacinação de profissionais da Educação e familiares dos estudantes de todas as idades antes da retomada.”

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1 comentário em “Vacinação atingirá um terço dos profissionais da Educação”

  1. “Estamos nos inspirando no estudo de 21 países que descobriram que a escola não é o grande problema da transmissão do vírus, temos outras áreas que potencializam isso.”… Aparentemente, seria preciso conter todas as atividades que podem propagar o vírus para poder liberar o funcionamento das escolas, ainda assim num regime muito especial. O que vemos, ao menos em Curitiba hoje, é a cidade à todo vapor. E sabemos em que situação estaremos em duas semanas. Para dizer um mínimo sobre esta questão.

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