UPAs seguem lotadas em Curitiba

Profissionais e infectados falam sobre os atendimentos na Capital, que caminha para três mil mortos pela Covid-19

Há dias o Paraná mantém 100% de ocupação dos leitos destinados a pacientes com Covid-19. Mesmo com a abertura de novas vagas, hospitais públicos e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) não estão dando conta de atender os pacientes e seguem lotados. Hospitais particulares já fecham os Pronto Atendimentos (PA) por conta da superlotação. 

Nesta quarta-feira (3), a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) confirmou 699 pessoas aguardando leitos exclusivos para Covid e profissionais relatam dificuldades e superlotação nos locais de trabalho. “Realmente, agora está um caos. Pessoas passando mal com falta de ar e tudo lotado”. É o que conta um profissional da UPA do Sítio Cercado, em Curitiba. 

Segundo ele, a maioria dos atendimentos feitos pelas UPAs são para pacientes com Covid ou suspeita. O trabalhador explica que as unidades são divididas em dois espaços: a parte destinada aos pacientes de Covid e a parte Clínica, que atende os demais casos. 

O profissional da Saúde conta que, ontem a noite (2), havia 32 pessoas para serem medicadas na unidade, porém, o local comporta apenas 10. “Está tudo ruim. É muita gente, muita fila para ser atendido.” Ele recorda diversas situações de pacientes que tiveram que aguardar o atendimento na maca das ambulâncias porque não havia espaço dentro da UPA. 

Uma funcionária do Hospital do Trabalhador também relata lotação e casos graves na enfermaria. O hospital tem 13 leitos exclusivos para pacientes com Covid mas, segundo os profissionais, mesmo com a abertura de oito leitos extras, eles estão sempre cheios. “Se abrissem 20 leitos extras hoje, em duas ou três horas estaria tudo lotado.”

Ela destaca que os leitos foram reduzidos devido à demanda de pacientes de trauma, que é grande foco do hospital. A maioria dos pacientes que chegam são casos confirmados de Covid – eventualmente algum paciente do trauma acaba sendo internado com suspeita. “Ontem, no final do meu plantão, internou uma paciente que já tinha critérios para ir para a UTI. Porém, sem vaga na Cidade, ela foi mandada para a enfermaria.”

“Os relatos do pessoal do Núcleo Interno de Regulação – que atua regulando o aceite dos leitos para pacientes – são sempre de uma fila grande de espera por uma vaga clínica ou UTI. Ontem, a fila para leito de enfermaria estava em torno de 190 aqui em Curitiba e Região Metropolitana.”

A profissional explica que o paciente é aceito através da Central de Leito Estadual. “Lá tem todos os pacientes que precisam de vaga, tanto para UTI Covid, trauma, clínico, enfermaria Covid. Todo hospital tem o setor de Regulação Interna. O hospital não aceita paciente sem ter leito, o que acontece é que os pacientes de Covid são muito instáveis, eles pioram rapidamente. Às vezes, no momento em que o Núcleo Interno de Regulação do hospital aceitou o paciente para um leito de enfermaria, quando ele chega no hospital ele já não é mais um leito de enfermaria, já precisa de um leito de UTI. Pode acontecer do hospital não ter o leito de UTI naquele momento e aí o Núcleo não consegue regular esse paciente para outro hospital.”

Ela afirma que a maior dificuldade do hospital para atender os casos de Covid é a falta de leitos. “Não existe mais espaço físico para aumentar”, e avisa: “Acho que o pior ainda está por vir.”

Pacientes chegam a todo momento. Foto: Giorgia Prates/Plural

Confirmados

Thais Almeida e todos da família foram contaminados com o vírus, e não sabem onde. “Os sintomas começaram primeiro no meu irmão. Febre, tosse… passaram dois dias, minha mãe teve a mesma coisa: febre, tosse, dor no corpo. Logo em seguida, meu pai. E por fim, eu.” Ela relata que todos tiveram os mesmos sintomas. 

A mãe fez o exame no sábado (27). O pai, ela e o irmão foram atendidos na segunda-feira (1). Ambos passaram pelo atendimento Covid no Posto de Saúde Nossa Senhora Aparecida, no Sítio Cercado. Os pais foram atendidos na UPA Sítio Cercado.

“No Posto de Saúde tinha umas cinco pessoas na ala Covid: duas sendo monitorada a saturação do oxigênio (uma delas aparentava estar bem mal), e as outras apenas com sintomas leves, assim como eu e meu irmão.”

Thais afirma que o atendimento foi tranquilo. Foram feitas perguntas básicas sobre os sintomas e tudo não demorou mais que uma hora.

Na UPA, a mãe diz ter sido atendida super bem e que a demora foi compreensível devido ao número de pessoas esperando. Segunda ela, a maior fila era para fazer o teste da Covid. Havia um número considerável de pessoas na fila para fazer o teste. 

Pelas redes sociais, mais depoimentos contam a realidade da cidade atualmente: “Sofrido ter que voltar com essas medidas todas, mas garanto pra vocês que não chega aos pés do sofrimento de ver alguém que você ama morrendo na UPA, deitada numa maca dura por dias, sem banho porque eles não têm condições pra isso, por não ter vaga na UTI”, relata um usuário do Twitter. 

“Hoje chegou uma mulher na UPA que tinha passado por três hospitais particulares que não tinham oxigênio e leitos, e lá também estava faltando materiais, chorei; é triste ver gente com falta de ar e não poder fazer nada!”, conta outro internauta.

O sistema público de Saúde de Curitiba está em crise, e não é de hoje. A Capital está quase atingindo a marca de três mil mortos por Covid-19. Em boletim divulgado nesta quarta-feira (03), a Prefeitura de Curitiba informou 19 novos óbitos na Capital. O número total de mortes chegou a 2.980, e casos totais 144.555, dos quais 892 foram registrados somente hoje e 8.670 estão com o vírus ativo no organismo. A cidade segue sob Bandeira Laranja, com comércios não essenciais fechados e toque de recolher das 20h às 5h. Porém, conforme mostrou o Plural, nem todos respeitam as regras.

Colaboraram: Maria Cecília Zarpelon e Matheus Koga 

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