A suspensão das rotinas presenciais e um sistema inédito de votação virtual, estabelecidos por causa da pandemia do coronavírus, não afastaram o interesse da comunidade acadêmica pela eleição para Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que será nesta terça (1º) e quarta-feira (2). Conduzido sob declarações polêmicas, e à sombra de contrariedades políticas que podem abalar a tradição da instituição, o processo de consulta deve ser o maior da história da universidade, com 19,2 mil votantes.
O número é 40,4% do conjunto apto a votar e, de acordo com a Comissão Partidária de Consulta (CPC), representa o total de professores, alunos e servidores que cadastraram senha para ter acesso à urna eletrônica de votação. Nas eleições de 2016 e 2012, foram, respectivamente, 16,2 mil e 14,9 mil votantes.
Por causa da crise sanitária da Covid-19, o pleito deste ano será totalmente virtual, processado por um sistema remoto desenvolvido e hospedado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O prazo final para os cadastros terminou no dia 27 de agosto, e integrantes da comunidade acadêmica que perderam a data não terão acesso à plataforma.
A consulta ocorre entre 7h deste primeiro de agosto até 18h da quarta-feira (2). Para votar, o usuário com senha cadastrada terá de acessar o endereço do sistema e selecionar, na tela seguinte, “Eleição da UFPR”. Depois de clicar em “Votar/Visualizar”, o eleitor será direcionado para uma tela que simula a urna eletrônica brasileira, na qual deverá responder a perguntas de segurança para ter a votação liberada.
No último passo após a autorização, o usuário terá que digitar o número da chapa escolhida, conferir se as imagens dos candidatos condizem e confirmar, ou corrigir. O sistema permite a emissão de comprovante eletrônico de votação. As informações completas estão no Manual do Eleitor.
Resultado não definitivo
Duas chapas disputam a indicação para a Lista Tríplice que definirá a gestão da Reitoria da UFPR para os próximos quatro anos. Ambas realizaram campanhas e debates apimentados, com muitas polêmicas. Teve até suspeita de plágio.
Pela chapa 1 (UFPR Forte) disputam os professores Horácio Tertuliano dos Santos Filho, como reitor, e Ana Paula Mussi Szabo Cherobim, candidata a vice. Pela chapa 2 (UFPR de Todos Nós), estão os professores Ricardo Marcelo Fonseca e Graciela Ines Bolzon de Muniz, atuais reitor e vice-reitora – e favoritos à reeleição.
A consulta à comunidade acadêmica é parte fundamental do processo de nomeação dos reitores e vices nas universidades federais de todo o país, mas o resultado do pleito não é definitivo – o que tem rodeado de incertezas a futura administração da UFPR.
Pela tradição eleitoral das instituições federais de ensino, chapas derrotadas desistem de compor a Lista Tríplice enviada ao governo federal. Assim, o presidente da República, em geral, acaba nomeando a dupla mais votada para assumir o próximo ciclo de gestão.
Contudo, ainda pairam dúvidas se a tradição do processo será respeitada nestas eleições, uma vez que a chapa composta pelos professores Tertuliano dos Santos Filho e Ana Paula Mussi Szabo Cherobim – alinhada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) – ainda não afirmou comprometimento com o trâmite habitual de se retirar da Lista em caso de derrota nas urnas.
Diretor do Setor de Tecnologia da Universidade e eleitor de Bolsonaro em 2018, Santos Filho chegou a negar que tente uma nomeação direta pelo Presidente e falou que a hipótese é “apenas a pecha que adversários tentam colar nele”.
No entanto, sua candidata a vice adotou postura diferente. Professora titular do departamento de Administração Geral e Aplicada, Ana Paula Cherobim não se pronunciou abertamente sobre a possibilidade de manter o nome da dupla na lista, mesmo em caso de derrota. Manifestante ativa a favor do governo de Jair Bolsonaro e defensora da cloroquina, a docente já foi questionada sobre a decisão por estudantes, mas evitou declarações públicas.
A possível manutenção do nome da chapa derrotada na UFPR não seria estratégia singular na história recente do país. No ano passado, Bolsonaro ignorou a hierarquia da Lista Tríplice em seis das 14 nomeações que fez para reitor em universidades federais. Em 2020, também já desconsiderou o critério para outras instituições. Uma delas, para a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com campi no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
O início da apuração dos votos na eleição da UFPR começa imediatamente após o encerramento da votação remota. A previsão é de que o resultado saia ainda na quarta-feira (2).