Trunfo de Ratinho, escolas cívico-militares são “poupadas” de aulas com a Unicesumar

Governo afirma que inclusão de escolas no modelo tem a ver com critérios técnicos e segue proporcionalidade

Apenas 40 das 200 escolas paranaenses migradas para a insígnia cívico-militar têm turmas com aulas dadas pelo contrato com a Unicesumar – sem professor em sala. O número representa menos de 10% dos 441 colégios estaduais inseridos neste modelo com disciplinas a distância, desenhado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) para alunos do novo Ensino Médio, que entrou em vigor este ano. A pasta afirma que a quantidade é proporcional.

Os colégios cívico-militares são uma das principais cartas eleitorais de Ratinho Jr. (PSD) na área da Educação. Outra, a aprovação e regulamentação do homeschooling no estado, foi barrada pela Justiça por tratar de tema de competência do Congresso.

Ao decidir tornar o Paraná o estado com maior adesão ao programa federal de Jair Bolsonaro, o governador conseguiu o apoio de uma gorda camada da população atraída por uma espécie de novo ideal de hierarquia e respeito em sala de aula, onde professores passaram a dividir responsabilidades com policiais militares.

O foco, apesar do lema, é pragmático. O objetivo de dar mais corpo e rigidez à matriz curricular destas escolas é elevar a colocação do estado em exames de rendimento estudantil aplicados no país, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Por isso, a aposta no modelo, mantido boa parte fora do conjunto de colégios com aulas aplicadas pela iniciativa privada e que vem tendo a qualidade questionada.

O contrato com a Unicesumar engloba a oferta de disciplinas do currículo flexível dos cursos técnicos em Administração, em Desenvolvimento de Sistemas e em Agronegócio, específicos para turmas de primeiro ano do novo Ensino Médio. Os três integram o 5.º itinerário do novo Ensino Médio, o de formação técnica e profissional, com perfil mais pragmático e voltado às exigências do mercado de trabalho.

No Paraná, envolvem mais de 21 mil alunos em 600 turmas. E o fato de estas aulas não serem dadas por professor presencial levantou críticas e desagradou. Desde o fim de março, estudantes começaram a protestar contra o esquema adotado pela Seed.

Pelo desenho, embora o governo já tenha dito que a parceira privada será responsável pelo ensino, o governo segue responsável pela matriz curricular e pelos planos de curso, mas o conteúdo é aplicado de dentro de um estúdio em Curitiba por um docente da Unicesumar. É possível que uma aula seja dada para até 700 alunos ao mesmo tempo, apesar do estado negar que seja uma prática a distância. O processo, reclamam os estudantes, tem afetado a qualidade de ensino. Em sala, monitores disponibilizados pela contratada não precisam ter conhecimento técnico e, muitas vezes, as classes ficam sem apoio devido à rotatividade destes profissionais, impasse que a própria pasta já chegou a reconhecer.

“A gente quer professor em sala de aula. Presencial é melhor porque dá para tirar dúvidas. Está sendo muito difícil porque a gente chegar a fazer um protesto já da para ver que não está sendo muito bom. É uma tristeza pensar que nós nem sabíamos disso quando entramos no curso. Só ficamos sabendo quando estávamos em sala de aula e fomos ter a primeira aula, que demorou um mês para acontecer. E quando conseguimos, era on-line”, conta o estudante Gabriel Lerner.

Ele é um dos alunos do Colégio Estadual Julio Szymanski, em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, que foi palco de mais uma manifestação no estado nesta segunda-feira (18). Ao todo, segundo a APP Sindicato, já são 26 escolas mobilizadas. Em um dos primeiros colégios a começar a rede de protestos, o Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto (Ceep), em Cascavel, a pressão de pais conseguiu interromper a continuidade das aulas da Unicesumar e as disciplinas técnicas voltaram a ser dadas por professores em sala de aula.

Governo fala em proporcionalidade

O governo do Paraná respondeu ao Plural que a inclusão ou não de escolas cívico-militares no modelo de aulas remotas com a Unicesumar não é uma escolha, mas tem a ver com critérios técnicos relacionados à oferta dos cursos contemplados pelo modelo.

Assim, indiretamente, nega ter “poupado” as escolas vinculadas a um de seus principais programas de aulas com a iniciativa privada.

“Os colégios que ofertam um ou mais desses cursos técnicos entram na parceria com a Unicesumar. Os que não ofertam esses cursos não entram na parceria — independentemente de serem ou não cívico-militares”, afirmou a pasta.

A Seed acrescentou ainda e existência de um indicador de proporcionalidade entre escolas normais e cívico-militares.

“Dentre os colégios cívico-militares, 20% ofertam pelo menos um desses três cursos técnicos — logo, 20% fazem parte da parceria. Dentre todos os 2,1 mil colégios estaduais, também cerca de 20% ofertam pelo menos um desses três cursos — logo, esses 20% entram na parceria”, disse, em nota.

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2 comentários em “Trunfo de Ratinho, escolas cívico-militares são “poupadas” de aulas com a Unicesumar”

  1. Antonio Donizeti Fernandes

    Reserva de mercado para a iniciativa privada com a disculpa de ser gestado por uma perspectiva técnica que quer se apresentar isenta dos interesses e dos apetites políticos e econômicos: locais e globais. Na verdade, assistimos o fatiamento do Estado em favor dos interesses privados e a tentativa de convencimento em favor de um consenso construido, justamente, a partir da educação ao propor a reforma curricular como mecanismo de operacionalização de tal hegemonia cultural. Já sabemos quem perde e quem ganha com tal desenho técnico de tais gerentes.

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