Trator derruba árvores e destrói jardim comunitário na “Praça” Seu Francisco, no Juvevê

Novo dono alega que prefeitura mandou cerca o terreno. Local é disputado na Justiça

Na manhã deste sábado (12), o jardim da praça Seu Francisco foi destruído. O local não não é bem uma praça, mas um terreno ocupado pela comunidade, que fica na esquina da Manuel Eufrásio com a Marechal Mallet, no Juvevê. A propriedade do local era da Construtora Menezes, que vendeu a um terceiro, mas a posse é da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES). E por conta deste imbróglio, que se arrasta na Justiça desde 2007, o terreno foi ocupado pela comunidade, se transformando num jardim urbano.

“Uma nova pessoa se diz proprietária do terreno, ignorou por má fé a existência ou conveniência da situação jurídica, reconhecida pelo Tribunal de Justiça, que existe a posse separada da propriedade e hoje pela manhã invadiu o terreno com uma retroescavadeira. Era um espaço vivo da comunidade do Juvevê e isso na prática é um ato ilegal”, explicou o advogado da UPES, Daniel Gaspar.

Quem iniciou a transformação do lote foi o aposentado Francisco Toda, já falecido. Ele limpou e deu vida nova ao local e depois da sua morte, os moradores da região continuaram cuidando do lote.

No entanto, de acordo com o novo dono, a prefeitura de Curitiba emitiu uma notificação para que o terreno fosse cercado. Por essa razão um trator derrubou árvores e trabalhadores ‘limparam’ o terreno, o que deixou os moradores indignados.

A presidente da UPES, Thaís Carvalho, foi até o local com outros representantes da organização. “Eles estão ocupando de forma irregular. Não tem razão para estarem fazendo isso agora. Disseram que a prefeitura mandou cercar o terreno, mas não apresentaram nenhum documento”, afirmou.

Moradores disseram que ao menos três pessoas foram agredidas pelos responsáveis dos maquinários. Polícia Militar e Guarda Municipal estiveram no local para apaziguar a situação.

A UPES vai protocolar um pedido de esbulho processual, o que na prática vai requerer a posse do terreno.

Ao Plural, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que o dono do terreno tem direito de cercar o local, mas que a administração vai “verificar a situação deste endereço”.

Além disso, a prefeitura só poderá confirmar na segunda-feira (14) se há autorização legal para derrubada das árvores e qual órgão emitiu a notificação para que o terreno fosse cercado.

Comunidade reage

A movimentação dos tratores começou por volta das 8h e quando perceberam o que estava acontecendo muitas pessoas foram até a pracinha.

“Em 2019 a gente veio para cá com um grupo de amigos e começamos a plantar ervas, numa pegada mais de agroecologia. Junto a gente fez uma vaquinha, colocou banco, escorregador. Galera almoçava ali na mesa que tinha. Eu acho muito triste que agora vão construir imóvel. Eu estou de coração partido”, lamentou, em lágrimas, Ana Matsusaki, artista gráfica e moradora do local.

“Quando vi derrubando árvores da praça Seu Francisco, eu comecei a passar mal, comecei a tremer. Lá em São Paulo, eu cuidada das hortas orgânicas como terapia para tratamento da saúde mental. E quando vim para cá comecei a plantar flores. Vim aqui domingo passado, limpei, plantei e esperava que na próxima primavera estivesse florido”, contou a técnica de enfermagem aposentada Vanda Garcia.

Os representantes do novo proprietário não quiseram falar com a reportagem.

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