Terras indígenas equivalem a menos de 1% de todo o território paranaense

Pesquisador explica importância dessas áreas para a diversidade do estado

De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), o estado do Paraná conta com 27 terras indígenas, distribuídas por 29 municípios. Destas, apenas três – que ainda estão em estudo – não possuem área delimitada. Assim, as reservas restantes totalizam cerca de 1.253 km2, ocupando apenas 0,63% de todo o território paranaense.

Esses territórios podem ser categorizados, ainda, em reservas indígenas – espaços estabelecidos pela União, seja por meio de doação, aquisição ou desapropriação do Estado -, e em terras dominiais – adquiridas pelas próprias comunidades indígenas. No Paraná, há apenas quatro reservas, localizadas nos municípios de Tomazina, Diamante D’Oeste e São Miguel do Iguaçu. 

Dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, estimam cerca de 25.915 habitantes indígenas no estado. À época, o número representava apenas 0,2% de toda a população estadual. As comunidades são divididas em três principais etnias: Guarani (que ainda podem ser Guarani Kaiowá, Guarani Nhandeva ou Guarani Mbya), Kaigang e Xetá. Esta última, presente em menor quantidade.

Espaços de cultura e tradição

A separação de terras para uso exclusivo dessas populações é relevante por uma série de questões, de acordo com o professor do departamento de antropologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Cid Fernandes. “O Paraná é melhor com terras indígenas do que sem: do ponto de vista ambiental, cultural, de honrar sua própria história e acordos [políticos] já feitos”, salienta.

O primeiro motivo é – justamente – a presença histórica desses povos. “Essas etnias estão presentes há muitos anos: entre dois, três mil. São uma referência importante para o nosso relacionamento com o passado”, esclarece o pesquisador. Além de terem participado da história da colonização paranaense, os acordos que oficializaram essas demarcações datam do século 19, passando, inclusive por decretos do governo do estado do Paraná no começo do século 20.

A questão ambiental é ainda outro ponto a ser considerado, de acordo com o professor. “As terras indígenas do Paraná, hoje, são em grande medida as últimas remanescentes de manchas de florestas importantes e significativas, como a Mata Atlântica e a Mata de Araucária”, ressalta Ricardo. Os territórios também são locais de liberdade cultural: “Ali dentro existe uma espécie de soberania cultural em exercício. Lugar de rituais, do sagrado, da memória, da cultura e das famílias”, afirma. 

Se em um primeiro momento, essa cultura pode parecer distante, há aqui um equívoco. No Paraná, a presença dos Kaigang, por exemplo, está intimamente associada à floresta de araucária. “Foi a presença deles que fez a floresta ser exuberante como ela é”, afirma o pesquisador. Da mesma forma, a erva-mate está relacionada à presença dos Guarani, uma das muitas heranças indígenas que ainda hoje se perpetuam. “A morte de uma cultura é a morte de diversos saberes. A diversidade de povos só faz bem”, sinaliza.

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