STF abre investigação sobre rachadinha em gabinete de deputada bolsonarista do Paraná

Deputada federal Aline Sleutjes, do PSL, teria recebido pelo menos R$ 178 mil em transferências e depósitos feitos por assessores

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou nesta quinta-feira (1º) abertura de investigação sobre um suposto esquema de “rachadinha” no gabinete da deputada federal pelo Paraná Aline Sleutjes (PSL-PR), com base em indícios levantados pela Polícia Federal (PF) durante apurações no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos.

Arquivado pelo mesmo despacho, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o inquérito instaurado em abril do ano passado para desvendar os tentáculos de uma estrutura de ataque a instituições democráticas e a favor da volta da Ditadura Militar acabou derivando investigações específicas, entre eles o que coloca a deputada paranaense no centro de um suposto sistema ilegal de cobrança de parte do salário de seus funcionários.

Sleutjes também será investigada junto com outros parlamentares por envolvimento com a empresa Inclutech Tecnologia da Informação, apontada no relatório da PF como uma provável espécie de “parceria público-privada” montada para financiar ações anticonstitucionais.  

A deputada diz não ter sido notificada sobre o novo inquérito. “Meu corpo jurídico quando ciente, prestará todas as informações necessárias para comprovar novamente minha inocência e restabelecer a verdade.

Eleita em 2018 na febre provocada pela figura de Jair Bolsonaro, a deputada teria recebido entre 2019 e 2020 pelo menos R$ 178 mil em transferências e depósitos feitos por assessores, motivo pelo qual a PF sugeriu a continuidade de apuração específica sobre os fatos.

A movimentação de maior valor foi de seu chefe de gabinete. Ele chegou a transferir para as contas da parlamentar, segundo apontam as investigações, R$ 68.037,95 em repasses que Sleutjes disse se tratar de pagamento de despesas reembolsáveis pelo Tesouro Nacional. A PF também identificou depósitos feitos em nome do mesmo servidor, justificados pela deputada como pagamento de um empréstimo no valor de R$ 50 mil “devido a necessidades pessoais decorrentes de dificuldades financeiras” do servidor.

A investigação apontou ainda como suspeitos dois depósitos na conta da deputada, um de R$ 20 mil e outro de R$ 40 mil, ambos feitos em outubro de 2019 por dois funcionários diferentes de seu gabinete. Sleutjes afirmou não se recordar das transações. Apesar de o trecho da decisão de Moraes não citar o valor, a paranaense também teria recebido dinheiro da irmã de seu chefe de gabinete, proprietária de uma malharia de Curitiba. De acordo com o respondido em depoimento, o montante seria pelo pagamento de camisetas confeccionadas para os eventos do Aliança pelo Brasil, organização que tinha pretensão de se transformar em partido político para agregar à sigla o presidente Bolsonaro.

Ações contra o regime democrático

A partir do momento que for instaurado, o inquérito para aprofundar a relação dos depósitos e transferências de servidores localizados na conta da deputada terá prazo de 90 dias, com livre distribuição, ou seja, sem direcionamento de relatoria.

Mas já é certo que Aline Sleutjes, uma das representantes paranaenses na bancada ruralista, terá de prestar mais esclarecimentos a Moraes, pois seguirão com o ministro as investigações de eventos específicos desmembrados do inquérito dos atos antidemocráticos, entre eles o envolvimento da deputada e outros parlamentares em uma suposta ordem de financiamento com dinheiro público dos movimentos pró-Bolsonaro e de ataque à Corte e a outras instituições de Estado, que ganharam forte musculatura no ano passado.

Um dos núcleos do setor de financiamento do esquema definido pelo ministro como uma “organização criminosa destinada a produção e divulgação de notícias contra o regime democrático e o Estado de Direito” seria a empresa Inclutech Tecnologia da Informação, que teria recebido verba parlamentar de publicidade e repassado as cifras para investimento na infraestrutura do grupo reacionário 300 pelo Brasil, à frente dos atos feitos à época.

A PF apontou que Inclutech – que até fevereiro de 2020 era uma empresa de cosméticos –  recebeu de Sleutjes e dos deputados General Girão, Guiga Peixoto e Bia Kicis, todos do PSL, o total de R$ 44,2 mil entre março e abril em contratos supostamente frios para serviços de monitoramento das redes sociais, notícias e assessoria parlamentar.

Em depoimento, o dono da empresa, Sergio Ferreira de Lima Junior, disse que os serviços prestados à deputada envolveram atividades como planejamento e monitoramento de redes sociais e ações de melhora no posicionamento orgânico do site da parlamentar no ranking do Google. O contrato durou dois meses, a um custo final de R$ 20 mil, e foi rescindido, segundo o proprietário, por causa da repercussão provocada pela mídia – que, à época, já apontava o uso da Inclutech como instrumento de repasse de verbas à organização dos atos.

A empresa também recebeu a soma de R$ 1.050 milhão de Luís Felipe Belmonte, marido da deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) e um dos fundadores do Aliança pelo Brasil, e mais R$ 500 mil de uma confecção localizada na rua 25 de março, em São Paulo, cujo dono é um chinês.

“General Girão e Aline Sleutjes, assim como Bia Kicis e Guiga Peixoto, usaram suas redes sociais para criticar medidas de isolamento adotadas por governadores e prefeitos a fim de evitar a propagação do coronavírus e defender a reabertura do comércio. O discurso foi adotado pelo dono da Inclutech e marqueteiro do Aliança pelo Brasil, Sérgio Lima. “O combate à pandemia matará mais do que o coronavírus”, escreveu em seu Facebook no dia 25 de março”, diz trecho do texto assinado por Moraes.

O documento diz ainda que, planejando aumentar o “núcleo de divulgação”, o grupo financiador também tinha pretensão de criar um canal de televisão “ou assemelhado” no exterior para o blogueiro Allan dos Santos, dono do portal Terça Livre e um dos principais nomes ligados à divulgação de fake news pró-Bolsonaro e no topo da organização dos movimentos mirados pelo STF.

O que diz a deputada

Veja nota na íntegra:

Tive ciência ontem (01/07), através de alguns veículos de comunicação sobre a decisão do arquivamento do inquérito dos Atos Antidemocráticos, confirmando a ausência de qualquer prova contra mim. Contudo, logo após a determinação do arquivamento, o Ministro Alexandre de Moraes determinou abrir outro inquérito.

Até o momento não fui notificada, sobre este novo inquérito, portanto não tenho ciência do teor desta nova investigação.

Informo, por fim, que meu corpo jurídico quando ciente, prestará todas as informações necessárias para comprovar novamente minha inocência e restabelecer a verdade.

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