Sobrecarregado, Pequeno Príncipe tem 21% dos pediatras do SUS em Curitiba

Dados obtidos pelo Plural mostram que a cidade teve redução no número de leitos pediátricos e que o hospital, referência no atendimento a crianças, concentra 21% dos médicos pediatras do sistema.

O fechamento do Pronto Atendimento do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, esta semana, pegou muitos pais de surpresa. Mas pode ser mais um indício de uma crise no sistema de saúde pública na cidade. Dados obtidos pelo Plural mostram que a cidade teve redução no número de leitos pediátricos e que o hospital, referência no atendimento a crianças, concentra 21% dos médicos pediatras do sistema.

O Pequeno Príncipe é uma instituição terciária do sistema único de saúde. Ou seja, ele deveria receber apenas pacientes encaminhados por médicos das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e das Unidades Básicas de Saúde (UBS). No entanto, a instituição informa que apenas 3% dos pacientes que chegam no Pronto Atendimento têm encaminhamento.

O problema parece estar na falta de atendimento pediátrico na ponta. Dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Sistema Único de Saúde mostram que Curitiba tem 759 profissionais pediatras ou cirurgiões pediatras ativos no sistema. Desses, 159 (21%) estão no Pequeno Príncipe. Na realidade, os dados mostram que de todos os médicos dessa especialidade, 56,39% estão em quatro instituição: Pequeno Príncipe, Hospital de Clínicas, Hospital do Trabalhador e Hospital Universitário Evangélico.

UPAs e UBSs

Nas UPAs e UBSs, que deveriam encaminhar pacientes para hospitais de referência, como o Pequeno Príncipe, há uma média de 2,35 médicos pediatras por unidade. No entanto, nas UPAs, que fazem atendimento 24 horas, dos 54 médicos pediatras disponíveis, apenas um tem carga horária de 40 horas numa unidade: a do Boqueirão. Na média, os pediatras curitibanos tem contratos de 11,89 horas com cada estabelecimento. Entre as UPAs, a que tem médicos contrato com maior quantidade de horas semanais é a do Campo Comprido: 24,4 horas/semanais.

Nas UBSs, que em Curitiba são chamadas de Unidades Municipais de Saúde (UMS), 106 médicos pediatras atendem em 59 locais. O local com mais profissionais dessa especialidade é a unidade Ouvidor Pardinho, com nove médicos. Também é a que tem mais horas de trabalho, com 69 horas semanais.

Já as unidades Vila Machado, Nossa Senhora do Sagrado Coração e Santos Andrade há 5 ou menos horas de trabalho de pediatras disponível. Na Vila Machado, cinco profissionais cumprem jornadas de uma hora cada um por semana. Na Santos Andrade são duas pediatras com uma hora cada.

A super lotação e fechamento do Pronto Atendimento do Pequeno Príncipe é consequência direta da falta de atendimento nas unidades nos bairros, uma vez que leva a população a ir diretamente para o hospital tratar de problemas que muitas vezes podem ser resolvidos no posto de saúde.

Menos leitos

Curitiba perdeu 19,10% dos leitos pediátricos de 2010 para 2018, apontam dados do Conselho Federal de Medicina. O levantamento mostra que em 2010, a cidade tinha 314 leitos, mas chegou a 2018 com 252, uma redução de 62 unidades. Os dados também mostram que no Paraná como um todo, o SUS perdeu 906 leitos infantis e foi de 3396 vagas para 2490, uma queda de 26,7%.

A redução tem impacto na capital, uma vez que a cidade recebe, além da demanda local, pacientes de todo o estado. O levantamento do CFM mostra que a redução no SUS não significou aumento no atendimento na rede privada. Ou seja, essas vagas de atendimento a crianças foram extintas.

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