Os 10 setores da economia mais afetados pelo pico da pandemia em Curitiba

Levantamento da Prefeitura aponta que agências de viagem foram as mais prejudicadas no período

Diante das consequências provocadas pela covid-19, diversas empresas de Curitiba precisaram se adaptar às medidas estabelecidas para o enfrentamento da pandemia e muitas delas tiveram que fechar as portas temporariamente. Com crédito e auxílio público insuficientes, alguns setores tiveram perdas significativas. Dados da Prefeitura apontam que agências de viagens, serviços advocatícios, atividades de vigilância e segurança privada, transporte coletivo e hotéis estão entre as atividades que mais foram prejudicadas durante o período em que vigoraram medidas mais restritivas.

A publicação desses dados pelo Plural não é uma crítica às medidas restritivas – absolutamente necessárias para a proteção da vida -, mas a constatação de que a pandemia afetou uma série de segmentos, em especial o setor empresarial, que depende da circulação constante de pessoas. 

No início de julho, em resposta a um solicitação da vereadora Amália Tortato (Novo), a Prefeitura de Curitiba elaborou um documento mostrando as 20 atividades empresariais que mais perderam receita no período de vigência da bandeira vermelha em Curitiba. Em primeiro lugar, com perdas de R$ 41.202.522,41 na comparação com o mesmo período do ano anterior, está o segmento de agências de viagem. 

Setor de turismo

Uma pesquisa do Paraná Turismo mostrou que o Brasil apresentou queda de 39% nos embarques domésticos e internacionais entre janeiro e abril de 2020 e 2021. No mesmo período, o Paraná teve queda de 51%, o que corresponde a uma diminuição de 1,2 milhão para 605 mil embarques. O aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), teve queda de 47%. 

O relatório “O impacto da pandemia de COVID-19 nos setores de Turismo e Cultura do Brasil”, do Ministério do Turismo, de junho de 2021, aponta que, de março a junho de 2020, a arrecadação das agências de viagem passou de R$ 256 milhões para R$ 45,8 milhões, o que corresponde a uma queda de 82,1%.

Imagem: O impacto da pandemia de COVID-19 nos setores de Turismo e Cultura do Brasil, presente na segunda edição da revista Dados & Informações do Turismo no Brasil, do Ministério do Turismo.

O impacto da pandemia também afetou o número de empregados do setor. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) de 2020 demonstram que o setor teve saldo negativo entre contratações e demissões, perdendo 20.947 postos de trabalho. Na região Sul, foram mais de 3.500 postos de trabalho fechados.

No entanto, conforme a filial paranaense da Associação Brasileira de Agências de Viagem (ABAV-PR), a crise enfrentada pelo setor pode começar a melhorar neste momento por conta do período de férias em julho e das festividades ligadas ao fim do ano.

As 10 atividades empresariais mais afetadas pelo pico da pandemia em Curitiba

Atividade empresarialDiferença do faturamento – 2019/2021
Agências de viagem-R$41.202.522,41
Serviços advocatícios-R$34.086.876,70
Organização logística do transporte de carga-R$19.252.996,75
Atividades de vigilância e segurança privada-R$18.581.725,14
Transporte rodoviário coletivo de passageiros, com itinerário fixo, municipal-R$16.674.493,63
Hotéis-R$14.917.039,55
Construção de edifícios-R$14.759.429,77
Atividades de monitoramento de sistemas de segurança eletrônico-R$14.248.821,16
Atividades de teleatendimento-R$12.854.993,31
Estacionamento de veículos-R$12.256.265,85
Os dados do faturamento são referentes ao período de 13/03 a 04/04 de 2019, 2020 e 2021, tendo como base a emissão das notas fiscais eletrônicas.

Para a vereadora Amália Tortato, uma das responsáveis pela Lei nº 15848, que permite o funcionamento de bares e baladas como restaurantes durante a pandemia, a forma como o Governo Municipal conduziu o enfrentamento da Covid-19 – selecionando determinados setores para abrir e outros não – foi contraditória. “Nós percebemos que não se tinha um embasamento técnico para as decisões que eram tomadas. Em uma bandeira laranja os restaurantes tinham que fechar determinado horário, na próxima bandeira laranja esse horário já não era o mesmo. Por que antes fechava tal hora e agora mudou, na mesma bandeira?”, questiona.

Entendendo que não houve um esforço da prefeitura para tentar reduzir o impacto da pandemia no setor econômico, a vereadora acredita que daqui para frente é preciso diminuir as barreiras para aquelas pessoas que estão tentando empreender – seja reabrindo seus negócios ou recomeçando do zero. “Eu tenho consciência de que não existe um decreto que iria deixar todo mundo feliz. O que temos que fazer, como poder público, é reduzir a burocracia, facilitar a abertura de negócios e a transição de alvarás, para que as pessoas possam começar seu negócio, gerar emprego e renda”, afirma. 

Amália acredita que, “agora que a parte da saúde já está mais encaminhada”, é preciso preparar o terreno para que a retomada econômica aconteça. “O pior já passou, as piores restrições já passaram. Acredito que a gente realmente não deve enfrentar pioras daqui para frente, por causa da vacinação. Agora é o momento da retomada”, finaliza.

Economia depende do controle da pandemia

Por outro lado, o economista, coordenador do Grupo de Estudos em Macroeconomia Ecológica (GEMAECO) e integrante do Núcleo de Estudos em Economia Social e Demografia Econômica (NESDE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Junior Garcia, acredita que a retomada efetiva da economia na cidade só se dará quando a pandemia estiver controlada, o que ainda está longe de acontecer. “Eu não consigo visualizar essa recuperação tão clara neste segundo semestre. Mesmo com a vacinação, a pandemia ainda não foi resolvida, porque ainda não vacinamos todo mundo. O vírus continua circulando.”

O economista pontua que como no Brasil não houve o fechamento de fronteiras nem a realização de barreiras sanitárias entre os municípios, existe uma chance considerável de que o número de casos aumente, significando a adoção de medidas mais restritivas.

Para Junior, a atuação da Prefeitura para amenizar os efeitos negativos das medidas de contenção do vírus são muito restritas. Isso porque, o órgão municipal depende de fatores externos para impor determinadas ações, como por exemplo, a população e o setor econômico. 

Assim como Amália, o professor da UFPR também enxerga uma incongruência entre os decretos municipais. Ele destaca que, em 2020 aconteceram ações de contenção da doença muito mais limitantes do que em 2021, mesmo que neste ano Curitiba tenha apresentado indicadores muito piores se comparado ao anterior. “Por que não tivemos medidas tão restritivas quanto em 2020? Por que a população está cansada, os setores econômicos muito fragilizados, a prefeitura não tinha força suficiente para fazer medidas tão restritivas como eram necessárias”, explica. 

Isso mostra, segundo Junior, a fragilidade do enfrentamento à pandemia no Brasil como um todo. O professor aponta que era necessária uma atuação próxima do Governo Federal, que, em parceria com os governos estadual e municipal, deveria ter coordenado medidas para mitigar os efeitos negativos da pandemia no setor empresarial. “No caso de Curitiba, é preciso olhar também o seu entorno. Os municípios ao redor também deveriam participar dessa coordenação. Não adianta Curitiba adotar medidas mais restritivas se o seu entorno, como um conjunto mais coeso, não adota as mesmas medidas. A efetividade das ações é prejudicada.”

A ausência do Governo Federal e a baixa capacidade de atuação dos governos para amenizar os efeitos negativos das medidas restritivas – indispensáveis para a contenção do vírus – gera, segundo Junior, um efeito dominó. A população cansada e o setor empresarial sem fôlego financeiro para sobreviver tanto tempo fechado torna a adesão às medidas fragilizada. “O fechamento do comércio foi apenas no papel, na prática ele estava funcionando com meia porta. Sem essa coordenação ativa dos governos, o setor empresarial fica à mercê de si próprio.”

O ideal, para o economista, seria a presença do Governo Federal para oferecer ajuda às empresas para que elas pudessem permanecer no mercado no pós pandemia. “Deveria ter sido pensada uma rede de proteção dos setores mais afetados. O governo poderia ter feito um acordo com os segmentos que se beneficiaram com a pandemia – como o mercadista – para ter uma participação social muito maior. Se você garante o salário de parcela significativa da população, na verdade você está garantindo renda, isso significa que as pessoas vão consumir. Isso tem um efeito muito importante na economia para amenizar a crise”, conclui. 

Confira o documento completo disponibilizado pela Prefeitura de Curitiba:

Reportagem sob orientação de João Frey

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