Sem teto e agora também sem água

População em situação de rua fica sem água na maior Casa de Passagem de Curitiba, denunciam servidores

O rodízio hídrico estabelecido pela Sanepar para compensar a estiagem agravou a condição dos serviços prestados à população em situação de rua em Curitiba. Segundo servidores, as caixas d’água do Centro POP Plínio Tourinho, o maior da cidade, não comportam volume suficiente para atender à demanda no período de suspensão do abastecimento. Em tempos de pandemia, o problema estaria prejudicando medidas básicas de higiene, como lavar as mãos, e deixando os atendidos sem água para beber. A Fundação de Ação Social (FAS) afirma já ter instalado cisternas para resolver o problema.

O Centro Pop fica no bairro Jardim Botânico e é a maior casa de passagem da FAS. De acordo com o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc), a média de beneficiários atendidos diariamente na unidade é de 150, somando dia e noite. A Prefeitura diz que, somente em julho, foram 11.743 atendimentos no complexo Praça da Solidariedade – que congrega a casa da Plínio Tourinho e uma segunda unidade.

Para atender a demanda, o Centro Plínio Tourinho tem duas caixas d’água e ganhou uma terceira recentemente, mas o conjunto ainda é insuficiente diante das interrupções constantes na cidade, afirmam os servidores. Com o rodízio –  atualmente a Sanepar prevê suspensão no modelo 36 horas com e 36 horas sem abastecimento –,  a população atendida ficaria periodicamente sem água para beber, tomar banho e lavar as mãos, medidas básicas de higiene e segurança para diminuir os ricos de transmissão da Covid-19.

“Não tem água nem para os beneficiários nem para os funcionários. E para lavar as mãos? Não lava. Se não vão buscar água em outro equipamento, não tem o que fazer”, diz um servidor da casa, que preferiu não se identificar. “Nos banheiros quase nem dá para entrar. O pessoal precisa usar, mas o cheiro que fica depois, sem poder usar descargas, é insuportável”.

O Sismuc ressalta que a Prefeitura vem sendo cobrada por uma solução. A reivindicação da entidade e dos trabalhadores é a instalação de caixa d’água com capacidade maior, ou a disponibilização de caminhão-pipa para garantir o abastecimento.

“O pior é que a gente não tem o que fazer e é comum morador de rua se exaltar verbalmente por causa da situação. As pessoas questionam o fato de serem retiradas das ruas e irem para um lugar que não tem nem água para beber ou lavar as mãos”, acrescenta o servidor.

Cisternas

Praça Plínio Tourinho, no Jardim Botânico. Foto: CMC

A FAS nega que não tenha tomado medidas e afirmou ter instalado duas cisternas para atendimento nas casas de passagem que compõem a Praça da Solidariedade. Um dos equipamentos possui três mil litros e outro cinco mil litros. Apesar do que relatam os servidores, a pasta assegura que, a cada parada no abastecimento, um caminhão-pipa é acionado para complementar o volume das cisternas.

Vulnerabilidade

A disponibilidade de água potável está entre os itens da lista de demandas básicas assinada por 50 organizações da sociedade civil para evitar o agravamento da pandemia entre pessoas em situação de rua. O documento é de março, quando os casos de Covid-19 começaram a ganhar força, e serviu como reforço a orientações do Ministério Público do Paraná e da Defensoria Pública para garantia de ações emergenciais no controle da doença.

Em Curitiba, isto fez com que os Centros Pop, que funcionavam das 8h às 17h, se tornassem Unidades de Acolhimento Institucional 24h. A Prefeitura também abriu unidades para grupos de risco e casos considerados suspeitos.

No entanto, a Defensoria Pública precisou mover Ação Civil Pública para garantir medidas indispensáveis à sobrevivência da população em situação de rua durante a crise, reforçando a necessidade de acesso à água, comida e banheiros, além de vagas suficientes em acolhimentos e da elaboração de um plano de contingência emergencial para o grupo vulnerável.

Dados de abril de 2020, do Cadastro Único (Cadúnico), mostram que há, ao menos, 2,5 mil famílias cadastradas como “em situação de rua”, em Curitiba. Com a pandemia, estas pessoas ficaram ainda mais desamparadas, conforme mostrou o Plural.

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