Qual a chance de Bolsonaro se intrometer na eleição da UFPR?

Universidade tem eleição no ano que vem. Governo tem escolhido candidatos menos votados em outras federais

Não é segredo para ninguém o que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, pensam das universidades federais. E um dos antídotos do atual governo para mudar o rumo do ensino superior é nomear reitores que concordem com a visão ideológica do presidente, ainda que eles tenham sido rechaçados pela comunidade acadêmica.

Neste primeiro ano de governo, foram vários reitores nomeados sem chegar nem perto de vencer as eleições internas. Em alguns casos, o presidente nomeou o terceiro nome da lista tríplice – o que é legal, mas absolutamente incomum, ainda mais quando a diferença de votos é tão desproporcional. A estratégia desagradou professores, alunos e a comunidade científica, mas não parece que isso importe muito para a atual gestão.

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a mais importante do estado e uma das maiores federais do país, a eleição ocorre no segundo semestre do ano que vem. O atual reitor, Ricardo Marcelo Fonseca, provavelmente disputará a reeleição. Ainda não se sabe quem serão seus adversários – porém, sabe-se que a estratégia de Bolsonaro vem animando a concorrer gente que jamais pensaria em disputar o cargo caso ele fosse decidido unicamente no voto.

Em 2016, Ricardo Marcelo disputou voto a voto a reitoria com Marcos Sunye. Venceu por pouco, mas o resultado foi respeitado. Na época, ninguém jamais cogitava que algo diferente pudesse acontecer, ainda que o país já estivesse polarizado.

Pouco antes, como diretor do setor de Ciências Jurídicas, Ricardo Marcelo havia tido uma polêmica com Fernando Francischini (PSL), na época deputado federal, que criticava a ideia de um curso de Direito para alunos do Pronera – segundo o deputado, aliado de primeira hora do bolsonarismo, um curso que só servia aos interesses do MST.

Eleito reitor, Ricardo Marcelo vem sendo combativo na defesa da universidade pública; respondeu a críticas feitas à universidade; e durante a crise da falta de verbas, foi um dos primeiros a falar que a UFPR estava à beira de fechar as portas. Ou seja: parece ser o típico alvo bolsonarista. Mas será que isso significa que por aqui também poderá haver uma indicação de um reitor “biônico”?

Das tentativas de virar a mesa feitas pelo governo até agora, a maior parte ocorreu em universidades de menor porte; apenas duas eleições ocorreram em 2019 em universidades comparáveis à UFPR, no Ceará e em Pernambuco. Em uma, Bolsonaro respeitou o resultado; na outra, não.

Em boa medida, a perpetuação da tática de nomear gente não eleita no voto vai depender do desempenho dos primeiros escolhidos pelo governo. Há quem creia que, tendo todo o conselho universitário e a comunidade acadêmica contra si, as gestões dos reitores bolsonaristas tendem a ser um fiasco.

Além disso, no ano que vem o mandato do presidente pode já estar mais desgastado, como mostram as consecutivas quedas de índice de popularidade desde a posse. Nesse caso, Bolsonaro pode recuar; ou, pelo contrário, conhecendo o estilo belicoso do governo, pode achar que o melhor é provocar as universidades para ter discurso para sua claque.

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