Professores são chamados a ajudar vacinação, mas não serão imunizados

Profissionais de Educação Física são convocados pela prefeitura de Curitiba a orientar filas. Apesar disso, não são incluídos em lista de prioridade para receber vacinas

Colaborou Mayala Fernandes

A Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude (Smelj), de Curitiba, encaminhou na semana passada, por e-mail, uma convocação aos orientadores em esporte e lazer. A solicitação era para que todos os profissionais comparecessem ao Pavilhão da Cura, no Parque Barigui, inclusive aqueles afastados, que deviam apresentar atestado no local.

Durante a tarde do dia 22 (quinta-feira), os orientadores passaram por uma capacitação. O treinamento tinha como objetivo o “alinhamento estratégico do procedimento a ser executado por esses profissionais”. Entre as tarefas apresentadas estava a organização e orientação de filas, controle de fluxo de pessoas, conferência de documentos, recepção do usuário e outras atividades correlatas.

A atuação dos orientadores em esporte e lazer se daria, então, na linha de frente dos postos – seriam eles os responsáveis pelo primeiro contato com os usuários presentes para a imunização. 

Entretanto, os profissionais não compõem o grupo prioritário para a aplicação das doses de vacinas e, ao oferecer apoio às equipes de saúde, correm o risco de se contaminarem nas longas filas de vacinação ou até mesmo serem foco de transmissão do vírus.

Os orientadores em esporte e lazer fazem parte da categoria de profissionais de Educação Física e têm atuação direta na saúde, na educação e na área social. Esses profissionais desenvolvem atividades como o programa CuitibAtiva,  que oferta modalidades de atividade física para a população, como musculação, alongamento e capoeira.

É importante lembrar também que os profissionais de Educação Física, segundo o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, estão devidamente enquadrados como trabalhadores da saúde. Por isso, devem constar nas listas municipais de grupos prioritários para serem vacinados – o que não acontece na cidade de Curitiba.

Risco de vida

“Com a convocação nós nos sentimos sendo jogados aos leões. Nós estaríamos expostos a ser contaminados e também a contaminar outras pessoas, uma vez que não fazemos parte do grupo prioritário para vacinação”, declara uma servidora da Smelj convocada para a capacitação, ouvida anonimamente pelo Plural.

No treinamento ministrado, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) seriam devidamente fornecidos aos orientadores em esporte e lazer. No entanto, quando questionada sobre a imunização dos servidores, a resposta foi enfática, “no momento não há essa possibilidade”.

“Eu senti medo. Não parecia uma ação pensada com cuidado, mas sim algo pensado às pressas para resolver o problema de aglomeração nas filas, divulgado pela mídia”, relata um orientador em esporte e lazer em declaração anônima ao Plural. “Me senti desamparado ao receber a informação que faríamos o apoio aos postos de vacinação sem nenhum tipo de priorização na questão da imunização”, completa.

Após a finalização do treinamento, no pavilhão da Cura, os profissionais de Educação Física deram início a um movimento de oposição ao chamado da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. O Coletivo Sismuc Somos Nós produziu uma nota denunciando a exposição dos profissionais aos riscos de contágio.

Depois da organização e pressão dos servidores, na sexta-feira (23), os coordenadores de Centro de Esporte e Lazer encaminharam aos orientadores, via Whatsapp, a notícia de que o apoio às equipes da Secretaria de Saúde seria voluntário e não mais uma obrigatoriedade de todos os profissionais ativos.

A representante do Coletivo Sismuc Somos Nós, Soraya Cristina Zgoda, afirma que os orientadores em esporte e lazer não se recusaram a estar presentes nos postos de vacinação, mas sim em se tornarem foco de contaminação. “A maior preocupação dos profissionais é estar na linha de frente e não estarem vacinados”, completa.

“A gente espera que sejamos protegidos da exposição, porque antes de sermos servidores públicos, somos pessoas com famílias”, reflete a servidora da Smelj.

Vacinação

No Plano Nacional de Imunização, lançado pelo Governo Federal por meio do Ministério da Saúde, consta que o público-alvo são os trabalhadores da área da saúde. Contudo, no estado do Paraná, os profissionais de Educação Física, mesmo convocados para atuação diretamente na  organização da vacinação, não estão incluídos entre o grupo prioritário e ainda não receberam a primeira dose do imunizante.

Em nota divulgada nas redes sociais, o Conselho Regional de Educação Física da 9ª Região do Estado do Paraná (CREF9/PR) declara que “está tomando todas as medidas necessárias para orientar as autoridades competentes e garantir que os profissionais de Educação Física sejam vacinados prioritariamente no grupo de profissionais da área da saúde”.

O CREF9/PR informa também que realizou reuniões com o procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia, para apresentar “as inúmeras denúncias recebidas dos profissionais registrados no Paraná, e que se referem à vacinação contra a Covid-19”. E que está em contato com o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Saúde Pública do Ministério Público do Paraná, para traçar um plano de ações objetivas de atuação, proteção e defesa dos direitos dos profissionais de Educação Física.

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc) ressaltou por meio de nota encaminhada ao Plural que a luta pela vacinação para todos os trabalhadores que estão na linha de frente faz parte da gestão e que o Sismuc, em conjunto com os servidores, segue na pressão e na cobrança para que o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), garanta vacinas e EPIs para os servidores.

Procurada pela redação do Plural, a Secretaria da Saúde e a Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude não deram retorno às solicitações encaminhadas.

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