Professores acusam governo de usar pedagogos para vigiá-los em sala de aula

Para Seed, observação de docentes é formativa e só deve acontecer com autorização

A orientação da Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed) para que pedagogos utilizem técnicas de observação em sala de aula vem irritando professores. O sindicato da categoria acusa a atual gestão de exercer uma política de vigilância e controle, com coação no interior das escolas públicas. A prática, no entanto, é tida como formativa pelo governo, que diz não haver obrigatoriedade, mas parceria entre os profissionais.

“O Protocolo de Observação de Aula é uma ficha que se assemelha ao que um aluno de graduação tem no estágio supervisionado, que seria aplicado pelos pedagogos aos professores em suas salas de aula. É um total retrocesso do processo educacional, no qual o professor passa a ser vigiado por um colega, como se não tivesse o preparo e formação adequados para cumprir seus planos de aula”, avalia Cleiton Denez, secretário educacional da APP-Sindicato.

Para a entidade, a ação visa vigilância e controle, além de colocar profissionais uns contra os outros. “É um sistema baseado na responsabilização dos professores, como se o verdadeiro o problema não fosse a falta de centralidade de políticas educacionais, valorização dos profissionais e investimento na educação em um estado que isenta milhões ao alto empresariado e escolhe precarizar a formação continuada, diminuir hora-atividade, sobrecarregar as escolas com burocracia, vigiar e punir profissionais da educação”, afirma.

O papel do pedagogo, segundo o sindicato, é dar suporte direto à docência, mas nunca fazer controle e observação de aulas. “É necessário um basta a esta política de vigilância e controle, é inadmissível constranger as direções de escola, professores e pedagogos e reduzir o processo educacional em observações em salas de aula, com planilhas superficiais e rasas. Repudiamos veementemente este procedimento de controle e coação.”

A melhor alternativa para o aprimoramento das situações que envolvam o processo de ensino-aprendizagem é, sustenta o secretário, o diálogo entre direções, equipes pedagógicas e professores. “A educação do Paraná não cabe nesta e em outras planilhas absurdas com a finalidade de desacatar a autonomia dos profissionais da educação. A educação do Paraná precisa de respeito, investimentos, formação continuada, estrutura tecnológica e humanidade”, conclui.

Ato formativo

A temática começou a ser inserida nos encontros formativos com diretores e pedagogos. “Mas não houve nenhuma orientação da Rede em ter que fazer a observação em sala de aula. Isso está distante de ser uma prática executada em todas as escolas, mas há algumas instituições que já realizam. Não no sentido de criticar, de apontar o erro, mas de formar, contribuindo com a ação do outro. Não há frequência nem obrigatoriedade disso acontecer, mas é uma possibilidade de atuação do pedagogo”, rebate o diretor de educação da Seed, Raph Gomes Alves.

Ele afirma que não há nenhum tipo de instrumento que deve ser preenchido nem que tenha que retornar para a secretaria. “Esses são instrumentos que existem como sugestão, que o pedagogo pode utilizar junto com o professor.”

Segundo o diretor, para essa observação acontecer, para que possa auxiliar o professor na ação, ela precisa ser construída com uma parceria produtiva. “Deve-se deixar bem claro o que será observado. Após, há a devolutiva, não no caráter classificatório, se foi bem ou mal, mas algo para repensar a prática educativa”, explica. “Não é um ato fiscalizatório, mas formativo. E para isso, é preciso observar alguns protocolos, que é o combinado, a parceria com o professor.”

A observação do regete em sala de aula pode ser usada na formação inicial ou na continuada, ressalta Raph. “A função primordial do pedagogo é a formação do professor regente, não na perspectiva de dar curso, mas de discussão de planejamento, de resultados de aprendizagem. Para ser formativa precisa ser reflexiva, respeitosa, propositiva.”

Uma das maneiras do pedagogo exercer essa função formativa, diz ele, é por observação em sala de aula. “Porém, ela só é formativa quando há uma parceria com o professor regente, que o vê como uma referência; uma relação de confiança, respeito e contribuição.”

O Paraná tem hoje 65 mil professores. Destes, seis mil são pedagogos. A Rede Pública Estadual é formada por 2.143 escolas e cerca de um milhão de alunos.

Foto: Hedeson Alves/AEN

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