Polícia investiga sete possíveis vítimas de serial killer homofóbico

José Tiago Correia Soroka foi visto pela última vez no bairro Bigorrilho, em Curitiba

É possível que ele venha fazendo vítimas desde 2018, mas a Polícia Civil do Paraná só começou a desconfiar de que existia um serial killer à solta em Curitiba nas últimas semanas, após dois homens gays serem encontrados mortos em condições muito similares: Marcos Vinícius e David Levisio foram amarrados e asfixiados em seus respectivos apartamentos. Ambos estavam morando na capital paranaense havia pouco tempo e marcavam encontros sexuais via aplicativos.

Dias depois, outro caso chegou ao conhecimento do delegado Thiago Nóbrega, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). No mês passado, o professor universitário Robson Paim morreu da mesma forma em Abelardo Luz. Seu carro foi roubado e encontrado na Região Metropolitana de Curitiba. 

Em entrevista ao Plural, Nóbrega conta que as investigações já tinham dado conta de identificar o autor dos crimes, mas no dia 11 de maio veio uma confirmação irrefutável: José Tiago Correia Soroka tentou fazer uma nova vítima no bairro Bigorrilho. O homem – um arquiteto gay – conseguiu escapar e contatou as autoridades.

Infelizmente não acaba aí. Além dos quatro, agora a polícia investiga outros três casos que podem estar relacionados ao mesmo serial killer. Acompanhe a conversa com o delegado.

Plural: Nós sabíamos de três vítimas confirmadas: David, Marcos e Robson. Vocês estão investigando um quarto caso, é isso?

Thiago Nóbrega: Tem um quarto confirmado. Ele tentou fazer uma nova vítima no Bigorrilho no dia 11 de maio, mas a vítima conseguiu escapar e sobreviveu. Os outros casos a gente ainda está investigando para saber se têm relação ou não, ainda não temos a confirmação. São outros três.

Vocês o identificaram a partir da denúncia da pessoa que escapou?

Não, não. Ele já estava qualificado antes.

Podemos chamá-lo de serial killer?

Estamos adotando o termo, sim. Pelo perfil, pelo histórico, pelo modo como está agindo, sempre esganando homens homossexuais que moram sozinhos. 

Como exatamente ele agia? Todos os assassinatos são idênticos?

Os que a gente tem conhecimento até agora, sim. Ele marcava encontros via aplicativo de sexo, o Grindr, e no imóvel da pessoa fazia com que ela ficasse vulnerável. Pedia pra ela se despir e já chegava por trás dando um mata leão para esganar a vítima. Quando a pessoa perdia os sentidos, ele a colocava em cima da cama e asfixiava até a morte com um travesseiro ou cobertor. 

Vocês estão entendendo como latrocínio, certo?

Isso. Ele levou computadores e celulares de algumas vítimas, além do carro de uma delas. 

Qual é o padrão das vítimas?

Eram todos homossexuais, pessoas instruídas que moravam sozinhas e tinham uma certa condição financeira. Esses homens tinham o costume de procurar sexo fácil e casual, por isso faziam constante uso desses aplicativos e levavam estranhos pra casa.

Dois eram profissionais de saúde. Você acredita que isso faz parte do perfil?

Creio que isso foi coincidência. O David era enfermeiro e o Marcos era estudante de medicina, mas o Robson era professor universitário. A vítima do dia 11 de maio, que sobreviveu, é um arquiteto. Os casos que estamos levantando são de profissionais de outras áreas. Mas todos moravam sozinhos e eram de fora, vieram de outras cidades. 

O que sabemos sobre o José Tiago Correia Soroka?

Ele nasceu em Palmas, no interior do Paraná, e passou um tempo em Abelardo Luz, uma cidade que fica em Santa Catarina, com a família da mãe. Ainda criança eles mudaram pra Região Metropolitana de Curitiba, em Almirante Tamandaré. Ele cresceu e ficou por aqui mesmo. A mãe se separou do pai e voltou para Abelardo Luz. Ele arranjou um emprego fixo em Curitiba, trabalhava como chaveiro dentro de um shopping e levava uma vida particularmente “normal”. Ele se relacionava com mulheres e teve dois filhos, um com cada companheira. Todo mundo dizia que ele era uma pessoa muito educada, simpática e solícita. Porém, quando começou a praticar esses crimes, principalmente a vítima que sobreviveu disse que ele se transformava em outra pessoa, ficava muito violento. Ele tem uma personalidade dupla.

A ficha dele era limpa?

Ele já foi preso duas vezes por roubo. Uma em 2014 e outra em 2019.

E quando ele começou com os latrocínios?

Um dos casos que estamos investigando e possivelmente é de autoria dele é de 2018. 

Onde ele foi visto pela última vez?

Semana passada andando pelo Bigorrilho.

Se for pego e condenado, podemos falar em que tipo de pena?

Se ficar configurado o latrocínio, por cada crime praticado ele pode pegar 30 anos de reclusão. Se a gente somar os quatros confirmados, chegaria a 120, mas a pessoa não pode ficar mais que 40 anos presa. 

Você já lidou com algo parecido?

Serial killer e homofóbico… Não, eu nunca tinha tratado antes. O modo de agir também é diferente, ele não usa nenhum tipo de arma branca. Além disso, o público-alvo é um público com o qual a gente não estava acostumado a trabalhar. Aqui na minha área geralmente as vítimas de homicídio são traficantes. Vem sendo trabalhoso. É um desafio.  

Se alguém cruzar com ele, o que deve fazer?

Ligar para a Polícia Civil no 197. A denúncia pode ser feita de forma anônima.

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