De março a junho, o sistema e-SUS NOTIFICA registrou 39 mil casos suspeitos de Covid-19 – com sintomas leves ou moderados – no Paraná. Destes, 69,4% (27.076) constam sem qualquer resultado de teste na plataforma. Outros 5,3% (2.088) tiveram a doença confirmada e informaram ao serviço de saúde.
Em Curitiba, o índice mais do que dobra. Das 6.105 notificações feitas na capital, 858 foram confirmadas, ou seja, 14%. Mas a subnotificação é menor: 30,7% não fizeram ou não informaram o resultado do teste. Os bairros com maior número de infectados são: Cidade Industrial, Sítio Cercado, Cajuru, Uberaba e Centro.
“A gente sabe que o epicentro da doença, no Paraná, está em Curitiba e Região Metropolitana, que é também onde a gente tem a maior população do estado”, diz a infectologista Sonia Raboni, que coordena o setor de Infectologia do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ela, o coronavírus está se espalhando pelo interior, mas o contágio começou na capital, então os profissionais estão mais experientes no processo de notificar. Isso poderia impactar nos dados.
Sobre bairros mais pobres serem mais atingidos, ela diz: “No começo, havia uma maior predominância de infectados em bairros de classe média alta, porque eram casos importados. À medida que a epidemia foi se espalhando, a gente tem observado que crescem os casos em bairros menos favorecidos.”
De acordo com a profissional, isso acontece por uma série de fatores socioeconômicos. “São pessoas que precisam trabalhar e dependem do transporte coletivo, que é um local onde pode acontecer uma grande contaminação; elas têm menos acesso a orientações de saúde e maior dificuldade de manter o isolamento social; além de as residências serem menores, então, quando tem alguém infectado, fica difícil mantê-lo isolado da família.”
Profissionais de saúde
No Paraná, foram 1.985 notificações de profissionais de saúde com Covid-19. 133 deles informaram que testaram positivo, número que representa 6,7% do total. Mas 71% têm o campo “resultado do teste” nulo.
Em Curitiba, de novo, são mais infectados, proporcionalmente. Dos 254 registros feitos na cidade, 52 têm teste confirmado: 20,4%. Outros 66,1% (168) estão sem resultado de teste na plataforma. As profissões mais atingidas são: técnico ou auxiliar de enfermagem, médico, enfermeiro, técnico em farmácia e manipulação farmacêutica e farmacêutico.
“No hospital estão os contaminados que necessitam de uma assistência mais próxima, são casos mais graves, geralmente com uma carga viral muito maior”, afirma Raboni. “Logo, a equipe de enfermagem está sujeita a uma exposição maior, durante o plantão, porque ajuda em atividades como alimentação e banho.”
Outro ponto levantado pela especialista é a proporção de profissionais que atuam na linha de frente no combate ao coronavírus. “Você vai ver uma Unidade de Tratamento Intensivo e, num plantão de 6 horas, com 30 pessoas, são 3 ou 4 técnicos de enfermagem; 1 ou 2 auxiliares; 1 ou 2 enfermeiros e um médico.”
Dentro das UTIs, ela diz que são os enfermeiros e médicos que mais trabalham. “E há uma alta taxa de contaminação entre eles”.
Dados
No início da pandemia, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), implementou a vigilância da síndrome gripal (de casos leves a moderados e suspeitos de Covid-19).
O Plural analisou o banco de dados do Paraná, oriundo do sistema e-SUS NOTIFICA, fazendo o recorte de quatro meses: março, abril, maio e junho. Foram considerados casos notificados no Paraná e depois em Curitiba.
A plataforma informa que alguns municípios podem utilizar sistemas próprios de notificação de casos suspeitos de Covid-19 e, portanto, os dados para esses locais podem apresentar informações distintas. Além disso, são dados preliminares, sujeitos a avaliação.
Na quinta (16), o Plural solicitou entrevista à Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA), para compreender melhor os dados com os profissionais que trabalham com o sistema de notificação, mas não obteve resposta até o fechamento.