Natalie vai de Curitiba à Antártida. E de lá para o Palácio Iguaçu

Ela passou 21 dias numa viagem rumo ao continente gelado. E agora pretende usar seu conhecimento no governo do Paraná

Quem olha o nome de Natalie Unterstell na Casa Civil do governo de Ratinho Jr. (PSD) pode achar que ela é mais uma candidata derrotada a deputada federal abrigada em um cargo comissionado. Mas a história não é bem assim.

Natalie realmente disputou uma vaga na Câmara Federal pelo Podemos em 2018. Teve 10.125 votos, um desempenho nada desprezível para uma novata. Bolsista do programa Renova BR, Natalie estreou na disputa eletiva em 2018, mas já trabalha há algum tempo com políticas públicas. Em especial, políticas voltadas para a preservação do Meio Ambiente.

Foi essa atuação que a qualificou para ser a primeira brasileira a participar da expedição Homeward Bound, que quer formar uma rede global de mil mulheres que irão atuar nas políticas e desenvolvimentos tecnológicos que vão moldar o futuro do país. O projeto, que dura um ano, tem como ponto alto uma expedição de 21 dias de Ushuaia (Argentina) até a Antártida.

Quando a eleição de 2018 acabou, ela também estava no fim da preparação para a jornada. A meta: aprender a trabalhar colaborativamente com outras mulheres. Segundo Natalie, a ideia é que tradicionalmente as mulheres tendem a competir com outras mulheres, dada a pouca presença feminina em cargos de liderança. Uma experiência como a do Homeward Bound tenta desconstruir isso.

Dos pinguins ao Palácio

De volta a Curitiba, Natalie foi nomeada no início de fevereiro para a Casa Civil. Ela assume lá o cargo de Gerente de Inovação. “Vou trabalhar para aumentar a digitalização dos serviços públicos e a colaboração entre órgãos da estrutura estatal”, adianta.

Não é a primeira experiência dela com governo. Natalie já trabalhou no governo Dilma Rousseff (PT), foi negociadora do Brasil na ONU e trabalhou em projetos de preservação da Floresta Amazônica. Nos últimos anos, no entanto, se dedicou a trabalhar em movimentos pela renovação na política, o que culminou com sua experiência como candidata.

O retorno para o Paraná é parte desse processo de formação que viveu. “Percebi que quero contribuir para resolver os problemas do local de onde vim”, conta.

A trajetória política de Natalie não é muito comum. Ela conta que ajudou na construção da Rede, partido de Marina da Silva. Mas acabou candidata pelo Podemos porque viu mais espaço para mulheres na legenda.

Retrocessos?

Questionada se não vê a adesão ao Podemos como incoerente com a pauta ambiental, Natalie diz que não. O Podemos disputou a presidência com o senador paranaense Alvaro Dias, mas aderiu no segundo turno à candidatura de Jair Bolsonaro, cujas bandeiras incluem uma certa rejeição à ciência.

“Há retrocessos, como a retirada da pesca do Ministério do Meio Ambiente. Mas se o governo tomar um caminho pelas reformas, acredito que teremos bons resultados”, aposta.

“Não acredito em partidos. Minha decisão foi pragmática”, afirma. Natalie diz que vê uma política sem intermediários no futuro, graças à evolução tecnológica. E é essa visão que ela pretende levar para o governo do Paraná. “É uma questão de educação, de refazer os processos”, diz.

Porta para outras mulheres

Fora da estrutura governamental, os planos são de devolver para a sociedade o que aprendeu na jornada com o Homeward Bound. “Quero doar o material que produzi nesse período de um ano”, promete. A ideia é encontrar instituições que possam multiplicar o acesso a esse conhecimento.

Enquanto isso, ela promete servir como uma porta de entrada para mulheres que queiram desenvolver políticas públicas.  “É uma questão comportamental. A mulher que sobe costuma chutar a escada. É um sintoma agressivo da competição entre mulheres”, afirma.

Nos 21 dias da expedição a Antártida, Natalie diz que aprendeu a não ser assim. O desafio agora é repetir a mesma disposição para colaboração longe do ambiente limite do continente gelado.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima