Nas praias do PR, turistas ignoram barreiras sanitárias e partem para agressão

No feriado, cresceu o movimento de carros e o número de pessoas desrespeitando as normas no Litoral, que tem 22 casos confirmados de covid-19

Durante o feriado do Dia do Trabalhador, aproximadamente 49 mil veículos desceram a BR-277 rumo ao Litoral do Paraná, estima a Ecovia, concessionária responsável pelo trecho. O aumento no número de turistas nessas cidades foi intenso e causou indignação nos moradores. A Polícia Militar registrou uma agressão a um fiscal.

Em Guaratuba, não houve barreira sanitária e o movimento de pessoas descumprindo as regras cresceu muito, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura. Foi lá que ocorreu a violência. “Pessoal na rua, sem máscara, querem ir pra praia e calçadão, mas está interditado. Na Baía também querem lazer, mas tudo interditado. Tivemos até agressão a fiscal na orla.”

“Aqui em Pontal (do Paraná) estava cheio. Mercado tinha bem mais gente que o normal. Vários comércios não essenciais, como bares, abertos. Tudo errado, descaso sem tamanho. A gente tem 21 leitos de UTI para sete municípios”, queixa-se o tatuador Caio Lopes Mello, 29 anos. 

A Prefeitura de Pontal diz que a maioria dos visitantes são moradores de Curitiba e região que possuem casas no município, mas reforça o olhar para o problema. “Nossa estrutura de saúde é para nossos trinta mil habitantes, porém acreditamos que o número de pessoas duplica durante os fins de semana.”

Buscando reduzir as chegadas, a cidade fez barreiras sanitárias no feriado. “É realizado o trabalho de monitoramento da temperatura corporal, além de questionamentos sobre o motivo da viagem”, explica a Prefeitura, deixando o apelo: “Felizmente não temos nenhum caso (de coronavírus) confirmado no município, por isso pedimos a colaboração da população e de todos que neste momento fiquem em casa e nos ajudem a ficar fora dos boletins.”

Barreira sanitária no Posto da Polícia Rodoviária Estadual, em Praia de Leste. Foto: Prefeitura de Pontal

Em Matinhos, o cenário foi similar. “A circulação foi preocupante, principalmente por conta dos turistas, que acabaram aparecendo mesmo neste momento delicado”, lamenta a Prefeitura. O município também fez barreira sanitária, mas esclarece que a ação não impede que os visitantes entrem, então não resolve a questão. “O único que tem essa autonomia é o Governo Federal.”

As três cidades têm decretos interditando praias e tornando o uso da máscara obrigatório. O comércio de não essenciais não estava recomendado até o feriado, mas desde segunda-feira (4), até mesmo academias podem voltar a funcionar, cumprindo medidas de higiene e segurança. O mesmo ocorre em Paranaguá. 

Dados da Ecovia apontam que na quarentena o movimento da BR-277 diminuiu cerca de 50%. Já nos feriados a redução é menor. No ano passado, o feriado do Dia do Trabalhador não foi prolongado, mas o de Tiradentes sim, assim como em 2020, tornando possível comparar as datas. Em 2019, entre os dias 19, 20 e 21 de abril circularam cerca de 69 mil veículos pelo trecho. “Este ano, alcançamos esse número após o fim do quinto dia (17, 18, 19, 20 e 21)”, afirma a assessoria da empresa.

Litoral tem 22 casos confirmados de coronavírus

Município litorâneo com o maior número de habitantes (150 mil), Paranaguá concentra a maior parte dos casos confirmados de covid-19 no Litoral: 16, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SESA).

O restante dos pacientes está em Guaratuba, Matinhos e Morretes. São dois casos em cada cidade, somando 22 no total.

Paranaguá tem metade da população de todo o Litoral. Foto: Prefeitura de Paranaguá

Não houve grande movimento na cidade do Porto no feriado porque a região não é famosa pelas praias, mas alguns turistas apareceram e quebraram regras. O fluxo de entrada e saída de pessoas do município segue preocupando moradores.

“Por causa da movimentação do Porto (de Paranaguá), tem sempre muita gente de fora, vindo”, observa a estudante Ana Carolina, 28 anos. “No dia a dia, movimento na rua não está como era antes, mas geralmente o povo trabalha para o Porto ou para o comércio lá perto. Como o Porto nunca parou, as empresas também não.”

Um funcionário das marinas ouvido pelo Plural discorda. Ele prefere não ser identificado. “A situação aqui é bem complicada. Tem lojas que já demitiram. Só na primeira semana teve, por exemplo, cliente que tem loja tradicional de roupas que demitiu oito para fazer uma contenção de gastos. (…) Os comércios da cidade, com exceção dos mercados, farmácias e padarias, chegaram a ficar fechados por uma semana. Imagina o impacto.”

Ele também faz menção a um dos desafios que enfrentou no feriado: impedir que turistas chegassem às ilhas, que estão fechadas por decreto. “Faz uma semana que na Ilha das peças os restaurantes estão atendendo. Digo pois nesse feriado alguns clientes foram pra lá e desembarcaram para almoçar. Tem menos fiscalização, os holofotes estão nas praias mais conhecidas e Ilha do Mel. Porém na Ilha do Mel tem gente que tem casa e que mora em Curitiba e que foi para lá todos esses 45 dias, praticamente… Vindo de Curitiba, ficando uma semana na Ilha do Mel, voltando para Curitiba, vindo para Paranaguá e daí pegando o seu barco nas marinas e indo para a Ilha de novo…”

Segundo a fonte, os trabalhadores não podem barrar essas embarcações. “As marinas de Guaratuba estão fechadas. As de Pontal do Sul estão permitindo saída em dois ou três dias. Em Paranaguá o prefeito resolveu faz uma semana que abre todos os dias… E a gente do setor recebe uma pressão muito grande dos clientes.”

A Prefeitura de Paranaguá foi procurada pelo Plural, mas não respondeu até o fechamento da reportagem. A Prefeitura de Pontal do Sul esclarece que o terminal para a Ilha do Mel da região está fechado. “Também estamos realizando a fiscalização por drone do canal das marinas que atendem o transporte para a Ilha do Mel.”

Em Morretes, Antonina e Guaraqueçaba, as barreiras sanitárias têm sido grandes aliadas na luta contra o vírus e ajudaram a reduzir o número de turistas durante o último feriado.

No entanto, a secretária de Saúde de Morretes, Lúcia Hissae Shingo, revela a dificuldade de manter essas operações funcionando. “Têm pessoas que são extremamente grosseiras. Está sendo muito difícil; a minha equipe está ficando cansada. As pessoas estão cada dia mais resistentes, insistentes em passar de qualquer forma, inventando desculpas.”

De acordo com a secretária, o discurso político muitas vezes está presente na fala de quem desrespeita a barreira, mas as orientações das autoridades de saúde seguem as mesmas: quem não é morador dessas cidades, não deve entrar para visitá-las neste momento. “Não é uma questão de política, é uma questão de saúde da população, do coletivo.”

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