Mortes por Covid podem chegar a 100 por dia em Curitiba

Número atual deve subir mais de quatro vezes até abril se não houver isolamento social

O número de infectados e mortos por coronavírus na Capital do Paraná deve ser quatro vezes maior em relação às ondas que a Cidade já vivenciou em 2020, podendo chegar – até o fim de março, início de abril – a 100 mortes pela Covid-19 em um único dia. Nesta quarta-feira (10), foram 22.

A conclusão vem de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Os dados alarmantes foram expostos durante a sessão de hoje da Câmara de Vereadores, que teve a presença virtual da secretária municipal de Saúde, Marcia Huçulak. Ela pediu ajuda aos vereadores para sensibilizar a população sobre o agravamento da pandemia. A secretária, porém, não acompanhou a explanação do estudo.

Para a análise dos dados, o grupo de cientistas do Inpa – formado por oito profissionais ligados à área de Biologia, Medicina, Matemática e Imunologia – usou a metodologia conhecida como SEIR.  “Este modelo utiliza dados suscetíveis, expostos, infectados e recuperados”, explica o coordenador do estudo, Lucas Ferrante, mestre em Ecologia e doutorando do programa de Ecologia do Inpa.

A pesquisa usou dados oficiais da Prefeitura de Curitiba e coletou dados desde o início da pandemia até o início de março de 2021, considerando o número de internações diárias, infectados diários, mortes diárias por Covid-19 e isolamento social da cidade.

Segundo Ferrante, o período de lockdown para estabilizar os dados de transmissão em Curitiba deve ser de, no mínimo, 21 dias. “Nenhum isolamento inferior a este período, será devidamente efetivo”, diz, lembrando que a restrição da mobilidade deve ser de 90% da população. “Deve ficar aberto, como essencial, apenas o serviço de saúde.”

Questionado sobre o decreto municipal oficializado ontem pela Prefeitura, que mantém a Bandeira Laranja, Lucas diz que o que houve foi uma minimização da crise, que segundo ele, é muito maior. “Curitiba se adequa à bandeira vermelha. Medidas como esta, só fragilizam a contenção da crise.”

Em preto, traço que representa número de mortes por coronavírus em Curitiba. Gráfico: Inpa

Nova variante e volta às aulas

O estudo também concluiu que o colapso que Curitiba deve viver é por conta da nova variante, que se originou na Região Amazônica e hoje se propaga pela Cidade. “É bom deixar claro que esta variante afeta principalmente jovens. Ela tem uma pirâmide etária invertida”, alerta o cientista.

De acordo com a análise científica, o surgimento de novas variantes está diretamente ligado à volta às aulas presenciais e híbridas. “Não existem protocolos capazes de viabilizar este retorno, uma vez que é recomendado o retorno quando não há transmissão comunitária, o que não é o caso.”

Para os pesquisadores, se a gestão municipal forçar uma volta às aulas presenciais, mesmo que híbridas, Curitiba pode ter uma nova variante. “O maior perigo no momento é que uma nova variante seja resistente à vacina.”

Cloroquina

Na sessão da Câmara Municipal, após a apresentação do estudo, dois vereadores da bancada evangélica se manifestaram defendendo o uso da Cloroquina. Ezequias Barros (PMB) relatou que amigos médicos têm receitado e apoiado o uso do medicamento e Osias Moraes (PRB) disse que ele e toda a família usaram.

Em resposta, Lucas é claro: “Cloroquina tem a mesma eficácia que tomar água”. Segundo ele, já existem centenas de estudos com ampla amostragem, que comprovam a ineficácia do medicamento. Pior que isso, “o uso é prejudicial, aumentando o tempo de internação de quem recebeu este medicamento e aumentando o índice de mortalidade entre os pacientes”.

O cientista ressalta que “ministrar o tratamento precoce de cloroquina ou ivermectina em Curitiba, neste momento, só tende a agravar o colapso do sistema de Saúde e isso não vai ajudar a população em nada”.

Pesquisadores

Além de Lucas Ferrante, participaram da pesquisa:

Segundo autor: professor Luiz Henrique Duczmal, professor do Departamento de Matemática da UFMG, considerado um dos maiores modelistas epidemiológicos do país.

Matemáticos e estatísticos: Alexander Steinmetz da Universidade Federal do Amazonas,  Alexandre Celestino Leite de Almeida da Universidade de São João del Rei e Jeremias Leao, da Universidade Federal do Amazonas.

Unaí Tupinambás – Médico Infectologista, professor do Departamento de Medicina da UFMG

Ruth Camargo – professora aposentada do Instituto Butantan, especialista em Corona Vírus, imunologista.

Philip Fearnside – professor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Prêmio Nobel.

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