MON proíbe eventos ao ar livre, após moradores reclamarem de barulho e trânsito na região

Organizadores de shows e festas lamentam a decisão que vai alterar toda a programação de Curitiba nos próximos meses

A administração do Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, anunciou nesta terça-feira (17) a proibição de realizar eventos nos espaços externos do local que costumam ser palcos de festas, shows e espetáculos. As recentes reclamações de moradores do Centro Cívico motivaram a decisão.

Em abril, o ParCão hospedou a festa da cervejaria Way Beer e o Curitiba Blues Festival, eventos que atraíram milhares de pessoas em dois fins de semanas e causaram irritação entre os habitantes do entorno. Apesar das festas encerrarem às 20h, música em volume alto e pessoas embriagadas foram as principais queixas.

“Após algumas ocorrências […], a instituição optou por reavaliar sua política de eventos, para assegurar que as ações realizadas sejam adequadas às missões do MON e os espaços comportem adequadamente o público externo, sem prejudicar a experiência dos visitantes do museu, que são a prioridade da instituição”, informou o museu.

A suspensão não se aplica a eventos realizados dentro das dependências do museu em espaços como o vão livre, o auditório Poty Lazzarotto e o salão de eventos.

Nas últimas semanas, a instituição recebeu reclamações do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do Centro Cívico e questionamentos do Ministério Público do Paraná (MPPR) sobre aglomeração de pessoas, vandalismo, perturbação do sossego público, venda e consumo de bebidas alcoólicas, entre outros.

“Esses são eventos patrocinados pela indústria da bebida alcoólica com a fachada de cultura, música, economia criativa, gastronomia, mas na verdade o interesse é promover bebida alcoólica”, critica a jornalista Valéria Prochmann, presidente do Conseg.

“Os pais são incentivados a levarem os filhos para esses eventos, mas nós não consideramos adequado levar crianças em ambientes onde vai ter uma bebedeira coletiva. Isso aí é formar os alcoólatras do futuro. Oferecer bebida alcoólica para criança é crime”, acrescenta a representante da entidade, que reclama também da venda de drogas nos arredores dos eventos.

Festas deste tipo se somam a outros atos, como protestos e manifestações, que costumam ser realizados na praça Nossa Senhora de Salete e que causam engarrafamentos de trânsito e barulho em todo o entorno. “Os moradores do bairro não aguentam mais, não existe mais um final de semana com paz”, desabafa Prochmann.

Questionada pelo Plural, a Guarda Municipal informou que a única ocorrência registrada nos dois fins de semana foi a de um homem que estava embriagado dentro do Bosque do Papa, durante a tarde de sábado, 30 de abril. A Polícia Militar também foi questionada se atendeu alguma ocorrência durante os dois eventos e, assim que o órgão enviar a resposta, ela será incluída no texto.

O Ministério Público informou que está apurando a regularidade do Blues Festival e que já expediu ofícios ao museu e à Prefeitura de Curitiba para “averiguar a documentação relacionada às autorizações necessárias”.

A Planeta Brasil, empresa que além do Curitiba Blues Festival realiza o Arraiá no MON e a Parada Pet, lamentou a proibição, informou que sempre atuou dentro da lei e pediu diálogo com os moradores da região para encontrar uma “solução menos drástica”.

“Caso o quadro não seja revertido, com muita tristeza teremos que cancelar os nossos três principais eventos, paralisando uma cadeia que beneficia centenas de profissionais, além de retirar dos curitibanos essas opções de lazer”, diz a Planeta Brasil, em nota.

“Respeitamos as novas definições, mas entendemos que as questões relacionadas a poluição sonoras e aglomerações, levantadas pela associação de moradores da região, sempre existirão em grandes cidades como Curitiba, e devem existir e ser aceitas em uma sociedade democrática. É assim em jogos de futebol. É assim ao redor de bares e restaurantes. É assim em grandes espaços de shows. Isso faz parte da rotina de centros urbanos em todo o mundo”, acrescenta a empresa.

Interdição altera a grade de eventos

A interdição das áreas externas do MON vai ter um efeito cascata sobre toda a programação de eventos na cidade, já que o museu havia sido escolhido para abrigar outras festas até o final do ano. As empresas agora vão ter que optar por outros locais.

A Procerva – associação que reúne 45 microcervejarias do Paraná que geram 20 mil empregos diretos e indiretos – foi informada nesta semana pela administração do museu que não poderá mais realizar seu festival previsto para o segundo semestre na praça Burle Marx, localizada nos fundos do ParCão.

“Esses eventos servem para divulgar a cerveja artesanal do nosso estado. Temos cervejarias paranaenses premiadas no mundo inteiro. Eventos em volta de grandes atrações turísticas têm alguns atrapalhos de trânsito e barulho, mas isso é contornado pelo controle do poder público. Essas regras deveriam ser mais claras e não mudar de uma hora para outra para não atrapalhar outras empresas”, afirma Iron Mendes, presidente da Procerva.

A própria Way Beer realizaria mais três eventos no local, em julho, setembro e dezembro. “O MON é um dos grandes símbolos da cultura e do entretenimento no Brasil, e sua utilização para essas atividades, além de cumprir com todo o papel social do espaço, traz vida para a cidade de Curitiba”, afirmou a cervejaria, em nota.

A cervejaria DUM também vai ter que escolher um novo espaço para a sua festa de aniversário marcada para julho. “Fomos surpreendidos por essa decisão. A gente gostaria de fazer nossos festivais cervejeiros ali de novo. [A proibição] é um tanto quanto arbitrária”, lamenta Murilo Foltran, sócio da DUM.

O museu afirma que não houve cancelamentos e que “todos os eventos externos que tinham contrato firmado com o MON já foram realizados”.

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9 comentários em “MON proíbe eventos ao ar livre, após moradores reclamarem de barulho e trânsito na região”

  1. O tal Conseg do centro cívico deve ter algum velhote rico e influente que more perto do MON, pois eventos piores e mais “mal colocados” em outros bairros sequer tem atenção do poder público. No mais, mais uma “frescura” de velhotes, os eventos acontecem durante o dia, os incomodados que se mudem. Aliás, só de ler o “depoimento” da jornalista, já dá pra perceber que é uma pessoa conservadora que não deve saber nem o que seja cultura local, aquela gente que acha que artista só serve pra mamar na rouanet, embora consuma todo o lixo cultural dos “artistas” americanos achando o máximo….Espero que o MON reveja essa “política” de favorecer meia dúzia, às custas de milhares que precisam de comida, diversão e arte.

  2. Fernando Cavazotti

    É a região central de uma grande cidade. Os moradores desse setores serão invariavelmente engolidos pelo intenso movimento do grande centro, seja qual for a natureza desse movimento. Quem mora ao lado dos estádios, parques, teatros, shoppings e praças dessa, ou de qualquer grande cidade, tem que lidar com a transformação do espaço urbano. Moralismo autoritário típico do curitibano provinciano e medíocre, do tipo que manteve a Pedreira Paulo Leminski, um dos mais belos locais para shows e eventos do país, fechado durante anos.

  3. Guilherme Camargo

    Sou morador da região e vejo como arbitrária essa decisão e posicionamento do conselho de moradores do bairro.
    Não ouve diálogo algum com a sociedade.
    Quem banca as contas de manutenção do MON e das praças ao redor?
    Isso aí tem dedo político ou de tráfico de influência. A região tem ganhado um monte de novos predinhos, que estrangulam cada vez mais o trânsito, e causa mais transtorno que as festas no MON.
    Enfim, acho que a questão deve ser debatida. Não entendo como o Ministério Público agiu nessa questão. As instalações da instituição são vizinhas do MON, não?
    E o princípio da imparcialidade fica aonde?
    O bem da vizinhança em detrimento da cultura, economia, e diversão de uma cidade toda?

  4. Pelo amor de Deus! Que cidade nojenta! Que população nojenta!

    Querem morar no Centro Cívico, no entorno de um ponto turístico importantíssimo, e não querem barulho de dia? Estão de sacanagem! Vão pro zona rural, então!

    Não interessa se os eventos tem bebida alcoólica, porque o consumo de bebida alcoólica não é proibido! Uma arbitrariedade essa decisão, que prejudica a cidade e as pessoas que dependem desses eventos para viver!

  5. Constança Camargo

    É uma cidade que quer se manter provinciana. São quantos eventos por ano no local? Cinco? Não dá para “suportar” cinco dias de barulho, para dividir a localização por cinco dias? Morei alguns anos muito próxima ao parque barigui e em todos os fins de semana o entorno fica intransitável, ainda muito mais nos dias de evento. Mas é isso: é uma cidade, as pessoas têm direto a usar o espaço público.

  6. Que moralismo barato. Tem cultura , gastronomia e música sim. Tem alcool tambem , mas nao faz sentido dizer que é “desculpa”. Se o problema é barulho, que vedem as carreatas bolsomínias que acontecem sempre na região. Meia dúzia de malucos muito barulhentos e agressivos.

  7. Conseg Centro Cívico é o MP estão de parabéns, ao entorno do Mon antigamente tinha fábricas desativadas e hoje são condomínios e os moradores tem o direito do descanso no final de semana. Tem muitos outros lugares com espaço maiores para abrigar estes eventos.
    Edineia

  8. Evelise Campagnaro

    Uma pena as pessoas se incomodarem com festivais que só acrescentam à cidade. É preciso mais espaço para realização de convivências como essa e não o contrário.

  9. Creio muito correta e oportuna a decisso Mon….Alias, chegou tarde..demorô….O Mon nao é espaço para estas atividades.O Parque Barigui e a Pedreira e tambem o Parque Sao Jose sao mais adequados.

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