Mesmo com leitos extras, Curitiba tem 66% das UTIs ocupadas

Ocupação está acima dos 50% previstos pelo Ministério da Saúde para que estados e municípios considerem ações de isolamento social restrito

Às vésperas de flexibilizar o isolamento social, Curitiba tem, numa estimativa feita pelo Plural com base em dados do Datasus e informações da prefeitura, 66% de seus leitos de UTI ocupados. O Ministério da Saúde só recomenda flexibilizar o isolamento caso menos de 50% das vagas estejam em uso.

O cálculo leva em consideração todos os leitos de UTI adulto, pediátrica, neonatal, coronariana e queimados da cidade, tanto SUS quanto particular. Se usarmos no cálculo apenas as unidades adulto e pediátricas, o índice de ocupação fica em 67%.

O Plural calculou o índice com informações parciais fornecidas pela prefeitura e dados de leitos disponíveis informados pela prefeitura ao Datasus. Questionada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde informou que 55% de 95 leitos “exclusivos para Covid-19” estão ocupados.

Contando apenas os casos confirmados por exames, já são 29 leitos de UTI exclusivos ocupados – um número que saltou 81% em nove dias.

O Plural considerou tanto a rede pública quanto privada de saúde nos cálculos porque decretos publicados pela prefeitura permitem que a estrutura privada seja incorporada à pública caso as vagas do SUS se tornem insuficientes durante a pandemia.

Evolução no número de vagas de UTI em Curitiba de janeiro a março de 2020. Fonte: Datasus

No Plano de Contingência da Secretaria Municipal de Saúde para a Covid-19 estão previstos 247 leitos extras de UTI, dos quais 215 já estão contabilizados no índice de ocupação. Outros 22 devem entrar em funcionamento até 30 de abril. Mesmo se não houvesse aumento significativo no número de pacientes internados, isso deixaria o índice de ocupação em 64%.

Outros dez leitos de UTI podem ser ativados, se necessário, no Instituto de Medicina e Cirurgia do Paraná se os demais se esgotarem, o que levaria o total de leitos para 907 e a ocupação para 63%.

Em todos os casos a ocupação continua acima dos 50% previstos pelo Ministério da Saúde para que estados e municípios considerem ações de isolamento social restrito a alguns grupos de risco, como idosos e pessoas com doenças como diabetes e asma.

Leitos “extras”

O cálculo de ocupação de UTIs feito pelo Plural usou dados do Datasus. Os registros mostram de houve um aumento de 215 leitos de UTI disponíveis na cidade de janeiro a março deste ano, bem mais que as 66 vagas ganhas nos últimos oito anos. A maior parte dessas vagas foi criada na iniciativa privada, e não no SUS.

Já a evolução de respiradores não seguiu o mesmo ritmo. Entre janeiro e março, Curitiba ganhou um respirador extra, na iniciativa privada. De 2012 para 2020 a cidade recebeu 459 aparelhos a mais, saindo de um total de 751 para 1205.

Segundo a Secretaria de Saúde, todos os novos leitos de UTI têm respiradores. Mas os dados do Datasus mostram outra realidade. A taxa de ocupação do equipamento é, em média, de 90% e se manteve no último mês. Ou seja, dos 1205 respiradores da cidade, 1124 estão em uso.

42 exames por dia

Desde que o primeiro caso de Covid-19 foi registrado em Curitiba já foram realizados 1290 exames para a doença, ou 42 testes por dia. A média, de 667 exames para cada um milhão de habitantes, é melhor que a do país, que está em 250. Mas ainda é pouco, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O volume diário de testes pode explicar a velocidade com a qual o número de casos confirmados cresce.

Por outro lado, como o Plural já noticiou, o número de notificações de hospitalização por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Paraná (os dados não são detalhados por município de notificação) aumentou num volume muito maior no mesmo período, chegando a quadruplicar em comparação com o mesmo período do ano anterior.

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