Máscaras distribuídas a professores e alunos de Curitiba têm baixa eficácia

Testes feitos na USP indicam que eficiência das máscaras varia entre 48,1% e 59,7% - abaixo do mínimo de 70% indicado

A prefeitura de Curitiba pagou R$ 840,8 mil por máscaras de baixa eficácia para alunos e professores da rede municipal. Análises laboratoriais apontaram que os acessórios, distribuídos no retorno às aulas, em fevereiro, têm eficiência variável entre 48,1% e 59,7% – abaixo do mínimo de 70% indicado pelo órgão brasileiro de padronização técnica, a ABNT.

Os ensaios foram conduzidos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) da Universidade de São Paulo (USP), a pedido dos sindicatos que representam os servidores municipais (Sismuc) e os profissionais do magistério (Sismmac) de Curitiba. Com o resultado, as entidades agora querem a substituição das máscaras entregues por outras de modelo de peça facial filtrante com eficiência, as chamadas PFF2, que tendem a ter mais eficiência para todos os tamanhos de partículas.

Para análise, os sindicatos encaminharam dez máscaras entregues a estudantes e dez aos docentes. O IPT testou três de cada e concluiu, segundo os documentos, que o índice de filtragem dos acessórios recebidos pelos alunos foi de 48,1%; já a eficiência das máscaras dadas aos profissionais de educação foi de 59,7%.

“Esta, portanto, destina-se ao uso casual por pessoas saudáveis que não tenham sintomas clínicos de infecção viral e que não estejam em contato com pessoas portadoras de sintomas dessas infecções”, considera a pesquisa.

A contraposição dos sindicatos é que os protocolos hoje adotados pela prefeitura de Curitiba não dão conta de evitar a presença de contaminados nos ambientes escolares. Este ano, logo após a retomada presencial às aulas na rede municipal, pelo menos três escolas de Curitiba tiveram casos confirmados de Covid-19.

O retorno dos estudantes ocorreu no dia 22 de fevereiro, mas na mesma semana, atendendo a diretrizes de um decreto do governo do Estado, a Secretaria Municipal de Educação (SME) recuou e suspendeu novamente o formato híbrido, com parte de alunos na escola e outra parte em aulas on-line.

Apesar de as atividades em salas de aula seguirem suspensas, as entregas de kits alimentação e das atividades impressas continuam, o que exige a presença física de professores e servidores nas unidades.

A Secretaria Municipal de Educação foi procurada, mas ainda não havia retornado até a publicação deste conteúdo.

Qualidade

Os lotes das máscaras enviadas para testes foram adquiridos pela prefeitura em processo de licitação por R$ 1,40 cada unidade. O conjunto total distribuído foi de cerca de 601 mil peças, confeccionadas a partir de seis modelos distintos, variáveis conforme a faixa etária.

De acordo com o Sismmac e o Sismuc, a distribuição não foi igualitária, ou seja, nem todas as escolas receberam a mesma quantidade de máscaras.  

Além disso, a compra chegou a render um pedido de informação protocolado pela vereadora Noemia Rocha. O documento questiona, por exemplo, origem da verba e qualidade dos materiais.

Em resposta, a prefeitura informou ter solicitado peças 100% algodão ou tricoline – o recomendado hoje pela ABNT e pelo Ministério da Saúde (MS) – e cita relatório técnico encomendado pela fabricante. Análise  feita pela Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR) apontou que os testes de queima conduzidos indicaram a presença de algodão ou viscose na composição das peças.

Máscaras de algodão, embora essenciais para o conjunto de práticas de combate à disseminação do vírus da Covid-19, não estão entre os acessórios mais eficazes de proteção.

Estudo feito por pesquisadores da USP e divulgado no início de maio na revista Aerosol Science & Technology constatou média de eficácia variável de 20% a 60% das máscaras de pano, que são as mais comuns entre a população no geral. As de modelo PFF2 foram as que tiveram maior eficiência para todos os tamanhos de partículas, cerca de 98%, seguidas das cirúrgicas (89%) e aquelas compostas de TNT (78%).

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