‘Kit Covid’ gera ameaças e acusações virtuais

Desentendimento entre Provopar e Seju envolve "tratamento imediato" oferecido por médicos de Curitiba

Após o Programa de Voluntariado Paranaense (Provopar) oferecer consultas gratuitas com médicos que defendem o tratamento precoce contra Covid-19, as redes sociais foram palco para críticas e até ameaças de processo entre a diretora da entidade, Carlise Kwiatkowski, e o secretário de Justiça, Família e Trabalho do Paraná, Ney Leprevost, que criticou a entrega do “kit covid”, o qual a Provopar chama de “tratamento imediato”.

Na última semana, o Plural mostrou o cartaz divulgado pelo Provopar, que oferece o “tratamento imediato” e gratuito a pacientes com suspeita de Covid-19. A reportagem apurou que três médicos que encabeçam a ideia são a favor do tratamento precoce com o uso de Cloroquina e Ivermectina, medicamentos sem comprovação científica de eficácia.

A equipe do Plural procurou algumas vezes pela assessoria de Ney Leprevost e do atual chefe da Casa Civil, Guto Silva, para que comentassem a relação do Governo do Estado com o Provopar. A única confirmação foi de que a Secretaria da Justiça, Família e Trabalho não faz doações para o Provopar há pelo menos um ano, e que os representantes da pasta não comentariam o caso.

No último sábado (27), usando as redes sociais, Leprevost publicou uma nota dizendo que o “Provopar não é do Governo do Estado e não tem autorização para arrecadar recursos usando o nome do Estado do Paraná”. O texto afirma que “o mérito, ou demérito, pelo oferecimento de tratamento gratuito com hidróxido de cloroquina será dos gestores da Ong Provopar” e que eventuais responsabilizações nas esferas Civil e Criminal por tais iniciativas deverão ter “endereçamento direcionado aos dirigentes do Provopar e aos demais envolvidos nestas ações”.

Ainda nas redes sociais, Leprevost disse que estava respondendo a uma publicação do ex-senador Roberto Requião, que afirmou que o Provopar teria vínculo com o governo do Estado e estaria promovendo o “kit covid”, nome usado popularmente para designar tratamentos feitos com cloroquina e ivermectina.

No twitter, Roberto Requião afirma que o Provopar é ligado ao Estado do Paraná

Também pelas redes sociais, a reação da atual diretora do Provopar, Carlise Kwiatkowski, foi imediata, informando que irá processar “civil e criminalmente” o secretário Ney Leprevost, “pelas inverdades ditas em seu perfil sobre a Provopar Estadual”.

Nas redes sociais, diretora do Provopar Estadual diz que irá processar Secretário Ney Leprevost. Imagem:reprodução

Hoje, procurada pelo Plural, a assessoria de imprensa do Provopar disse que o processo é “para que haja o devido reparo e estabelecimento da verdade”.

No texto da postagem, Carlise ainda diz que também é uma voluntária da instituição. “O trabalho é extenuante, nos consome física, financeira (todos somos voluntários) e emocionalmente”. Informação contestada por Leprevost, que em um comentário na rede Social Instagram, depois de ser atacado por sua publicação, diz que “antes de mandar o pessoal da Provopar distorcer a nota pública e me atacar aqui, a dona Carlise deveria revelar publicamente quantos milhares de reais ela retira por mês da instituição a título de salário ou algo parecido”.

Questionada sobre a diretora receber um salário ou ser voluntária, a assessoria de imprensa do Provopar diz que “Carlise e todos os Conselheiros do Provopar são voluntários! Eles não retiram um tostão do Provopar como forma de salário e, inclusive, em muitas situações, colocaram dinheiro do próprio bolso para viabilizar ações e projetos sociais!”.

Tratamento imediato

Inaugurada no dia 23 de março, a “Clínica de Tratamento Imediato” fica no Alto da Glória, onde também funciona uma clínica de estética chamada Instituto Longévité. Segundo assessoria do Provopar, o local conta com 15 médicos voluntários e é promovido “pela Sociedade Contra a Covid-19, formada por profissionais voluntários, entre eles médicos, farmacêuticos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, além de empresários e representantes da sociedade civil”.

Nesta segunda (29), Carlise exibiu em suas redes sociais uma arte informando que a clínica recebeu mais de três mil ligações e realizou 198 atendimentos. Quando questionados sobre o “tratamento imediato” incluir o uso de cloroquina e ivermectina, a assessoria do Provopar disse que o “atendimento imediato é individualizado e de âmbito ambulatorial, em uma relação entre paciente e médico, que por sua vez tem total autonomia para escolha do tratamento e realizar prescrições de medicamentos quando necessário”.

Porém, os remédios, doados pela sociedade civil, “são doados aos pacientes que possuem, em mãos, a prescrição médica, devidamente assinada por profissional com registro junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM)”.

O Provopar confirma que também recebe doações em dinheiro, mas ressalta que “a ação não conta com repasses de recursos públicos e não possui vínculos com órgãos públicos de todas as esferas do governo”. Segundo a entidade, os recursos recebidos são doados por empresas e pessoas solidárias que, “de livre e espontânea vontade, querem contribuir com a ação promovida pela Sociedade Contra a Covid-19”.

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