Kaingangs que dormiam na rua voltam para a Terra Indígena após ONG comprar estoque de artesanato

Cestos foram adquiridos por membros da FVIDA ABAI no último domingo (1)

Na sexta-feira (30), o Plural noticiou sobre a situação de Cleverson Fykag Barão e de sua família, indígenas Kaingang vindos de Rio das Cobras, em Novas Laranjeiras, para o centro da capital paranaense para vender artesanato, atualmente a principal fonte de renda dos Kaingang. Como a Casa de Passagem Indígena (CAPAI), da Prefeitura de Curitiba, está fechada desde março de 2020, os Fykag passaram uma semana desabrigados debaixo do Viaduto Colorado. No último domingo (1), no entanto, depois de vender toda a confecção, a família conseguiu retornar à aldeia.

Foto: Marianne Spiller/ABAI

Quem adquiriu os artesanatos foram integrantes da Fundação Vida para Todos (FVIDA), da Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI), de Mandirituba, no Paraná. Uma dessas pessoas é Ines Fátima Polidoro, coordenadora pedagógica da ABAI há sete anos, que encontrou com a família de Cleverson na Feira do Largo da Ordem, onde faziam a comercialização.

Ines conta que foi em um grupo de apoio aos indígenas na luta contra o Projeto de Lei 490/2007 – que caso aprovado fragiliza a demarcação das terras de povos indígenas – que ficou sabendo da situação da família de Cleverson. Ao longo dos dias, um grupo de pessoas tentou angariar recursos para ajudar a pagar uma estadia para a família, mas segundo Ines, a ação se tornou insustentável. “É terrível essa situação. É desumano pensar que quem nos precedeu, quem começou essa história, é tratado dessa forma. A invisibilidade deles dói. Aquela multidão de gente andando, mas ninguém olha.”

Foto: Marianne Spiller/ABAI

Ines conta que os artefatos serão revendidos para o Grupo Orgânicos Cultivando Vidas e para o Resa – Grupo Sementes da Agroecologia, duas redes de organização de pequenos agricultores que atuam na defesa da produção agroecológica.

De acordo com Ines, a FVIDA está articulando um grupo de pessoas em Curitiba que esteja conectado com as famílias indígenas que vêm de suas aldeias para vender artesanato na capital. Para a coordenadora pedagógica da FVIDA, esse seria um caminho de apoio que vai além da compra dos artefatos. “É preciso fazer com que eles sejam vistos, reconhecidos e valorizados pela história e cultura que têm. É construir uma outra forma de lutar com eles, a partir deles, para fortalecê-los. Existem muitas maneiras de a gente manifestar nosso apoio, até porque defendendo os povos indígenas nós estamos defendendo nossa própria vida – porque estamos defendendo as florestas, a água, a cultura, o território. O que resta de natureza é por conta da resistência dos povos indígenas.”

A FVIDA

Fundada em 2006, a Fundação Vida para Todos ABAI é uma instituição que tem como objetivo ser a principal parceira e mantenedora dos projetos desenvolvidos pela Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI). Ao longo dos anos, a FVIDA ABAI promove ações e programas sociais nas áreas de educação, ação social, agroecologia, meio ambiente e combate à dependência química.

Reportagem sobre orientação de João Frey

Sobre o/a autor/a

7 comentários em “Kaingangs que dormiam na rua voltam para a Terra Indígena após ONG comprar estoque de artesanato”

  1. Tomara que esta ação se multiplique. Talvez alguém possa montar um espaço ou site para eles, onde eles possam divulgar o seu trabalho que é único.

  2. Alexandre krenkag Farias

    Caro eu sou do povo kaingang, todos povos originários tem direito de ir e vir , temos direito de ficar em cidade, mas o assistência política tem direito de fazer acompanhamento …..
    Pois não podemos só ficar na terra indígena, trabalhar e precisamos pagar as nossas contas nas cidade onde moramos com isso chegamos em cidade grandes , mas tem pessoas não indígena pensando desde 1521 anos atrás, pensam que nos só ficamos no mato, mas a partir da constituição 1988, temos direito de sair e vir , o artigo231 temos direito somos cidadão brasileiro….

  3. Sandro de Castro

    Índio deve ficar em suas terras, para garantir sua permanência lá… Nada de bom os espera nas grandes cidades e nem perto do homem branco.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Sandro, tudo bem? Índio, como cidadão que é, tem direito de ir e vir como qualquer brasileiro. E direito de ter seu lar preservado mesmo na sua ausência. Abraço

  4. Plural, existem outras famílias indígenas que vieram do interior do estado para Curitiba e encontraram a Capai (Casa de Passagem Indígena) fechada. Essas famílias, mulheres e homens indígenas estão passando necessidades diversas. É muitíssimo importante escutar estas pessoas. Fica a sugestão de que vocês abram espaço para que estas pessoas, possam manifestar-se por aqui. É muitíssimo importante escuta-las.

  5. Olá Plural, venho acompanhando as reportagens que vocês estão fazendo sobre a situação das famílias indígenas quem vem do interior do estado e ficam aqui em Curitiba. São muito importantes essas reportagens! Parabéns! Se possível, poderiam compartilhar o contato da Fundação Vida para Todos (FVIDA), da Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI), de Mandirituba, no Paraná?
    Obrigada!

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