Será que as chuvas recentes deram conta de amenizar a falta de água em Curitiba? Indo direto ao ponto, a resposta é não. Um levantamento feito pela equipe do Urb Ideias – um estúdio e laboratório de soluções urbanas e paisagísticas curitibano – mostra que ainda não chegou a hora de relaxar as medidas de contenção da crise hídrica na cidade.
“Produzimos uma sequência de infográficos. O primeiro é baseado em dados da Sanepar que foram coletados no dia 3 de março. Naquele momento, algumas barragens encontravam-se com capacidade hídrica acima de 50%, mas a média total era menor: 47,57%”, explica o arquiteto e urbanista Andrei Crestani, que produziu o material.
Segundo a Sanepar, só com 60% da média é possível amenizar os cortes, o que aconteceu nesta sexta-feira (12) e levou a Companhia a reduzir o rodízio na Grande Curitiba.
“O ideal seria chegar a 80%, para se considerar que não teremos mais cortes e rodízios, mas estamos longe disso. É importante poupar, especialmente porque estamos entrando no outono, uma estação com baixo índice de chuvas”, observa o profissional, que é sócio-proprietário do Urb Ideias.
O segundo infográfico mostra a relação de consumo de água por habitante e por bairro. “É importante frisar que fizemos assim para que o fator densidade não impactasse, para que a gente realmente conseguisse notar se o perfil de consumo muda em cada canto da cidade. Também buscamos associar isso a uma renda – o que diz muito sobre o nível de acesso dessas pessoas”, conta Crestani.
O contraste é bastante notável: enquanto um morador do Batel consome 290 litros de água por dia, um morador do Sítio Cercado consome 100. Ou seja, quase três vezes mais.
Democratização da informação
Com o material, o Urb Ideias espera contribuir com a democratização da informação entre os curitibanos. “A gente prioriza temáticas que são de interesse público, principalmente aquelas que têm influência no dia a dia das pessoas e vêm carregadas de muitos dados”, esclarece João Macknight, que também é arquiteto, urbanista e sócio do negócio.
“Geralmente as pessoas não têm a dimensão do quanto uma informação impacta na cidade, na realidade que elas estão vivendo. Quando a gente mostra isso por meio de um mapa, territorializando a informação, ela se torna mais próxima e sensível”, finaliza Richard Viana, o terceiro arquiteto e urbanista que forma o quadro de sócios do Urb Ideias.
Poços artesianos não seriam uma boa solução?
E uma outra coisa (mas isso é uma suposição, claro): além da economia da água nesses bairros mais afastados (por falta de dinheiro ou pra economizar mesmo), também é mais comum que as pessoas morem em casas — logo, tenham espaço pra guardar água (de chuva ou reuso).
… algo mais difícil pra quem mora em prédio/apartamento, por exemplo — algo mais comum nos bairros que consomem mais (segundo os dados da pesquisa), e que também vai além da renda média.
Seria legal ver algum estudo nesse sentido, sobre como o tipo de moradia também impacta no consumo e na economia da água.
Que bom ler uma matéria que já começa falando: “não, não é hora de parar com o racionamento”.
Venho pensando muito nos últimos dias sobre como o racionamento impacta a vida das pessoas… sobre como muita gente já não recebe a água adequadamente… e fiquei com um pensamento e uma questão:
Se flexibilizar, muitos dos que recebem a água corretamente (“muitos” mas não todos, que fique claro) já abusam e acham que dá pra lavar carro, telhado, calçada, encher piscina 1000L….
Tem gente que realmente não entende e não aprende se não estiver em racionamento.
Então, de fato, o mais prudente é continuar com o racionamento (e sem afrouxar), pra que não tenhamos dificuldades ainda piores do que as da pandemia.
E a questão: como está sendo o impacto do racionamento sobre as pessoas que já não tem um abastecimento justo/eficaz, por conta das falhas do planejamento urbano/da Sanepar?
Tá meio que na mesma ou impactou ainda mais intensamente? (digo isso para além dos números da matéria, ouvindo relatos das pessoas impactadas)