Indígenas conseguem autorização para usar parte da Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara

Instituto Água e Terra, responsável pela área, oficializou a transferência do grupo ao Centro de Visitantes na última quarta-feira (22)

Quarenta e cinco dias depois do início da retomada por cinco famílias indígenas do território da Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba (RMC), a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná (Sedest-PR), por meio do Instituto Água e Terra (IAT), garantiu a permanência do grupo no Centro de Visitantes da região.

Na última quarta-feira (22), o grupo formado pelas etnias Kaingang, Guarani M’bya, Guarani Nhandewa foi transferido do acampamento para o Centro, uma estrutura que conta com água e energia elétrica. Segundo o IAT, no entanto, a permanência das famílias na região ainda está em processo de formalização.

Em nota, o instituto informou que realizou vistorias na floresta e que promoveu uma reunião com as lideranças indígenas que estão no local. Atualmente, o IAT está organizando um encontro com a Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social (SUDIS) e com a Funai para oficializar o que será feito sobre a situação.

“Esse reconhecimento, principalmente agora, é um avanço muito importante, um novo olhar para a questão indígena. Nós, povos do Sul, sofremos muito com questões territoriais, com o esbulho e usurpação dos nossos territórios. Hoje, nesse momento da história, conseguir uma parceria e o reconhecimento do governo é muito importante não só para nós, mas para todo o movimento indígena”, defende Eloy Jacintho, indígena Guarani Nhandewa e uma das lideranças da retomada.

Eloy conta que o primeiro contato com o IAT foi na terça-feira (21), quando a equipe do instituto foi até o acampamento para entender qual era a situação das famílias e ouvir sobre as ações de revitalização da área e do centro de formação cultural indígena pensadas para o espaço. “Os projetos foram recebidos muito bem por parte deles, inclusive com o governo já se declarando apoiador dos projetos e da nossa permanência na área. No dia seguinte já voltaram com a nossa autorização”, relata.

Uma nova reunião foi marcada para o dia 4 de outubro para discutir a realização do documento sobre a permanência das famílias na Floresta Estadual Metropolitana, além de adequar os projetos propostos pelo grupo à realidade do instituto e da floresta.

Eloy Jacintho. Foto: Giorgia Prates/Plural

Nhandereko

A ideia para o acampamento, agora composto por sete famílias – seis Guarani e uma Kaingang -, é que seja um território de passagem, não uma aldeia. “Essa percepção nasceu de muito diálogo entre as lideranças e dessa busca nossa pela ancestralidade. A gente quer que essa área seja uma área de muita transição de povos indígenas, transição de indígenas fazendo cursos, trazendo experiências, produzindo ciência e conhecimento”, explica Eloy, que relembra que, antes da colonização, a região era local de encontro de muitas etnias.

Por meio do centro de formação sobre a cultura e a história indígena que os povos originários poderão contar suas existências a partir de uma perspectiva decolonial, ou seja, desconstruindo a versão branca e colonizadora dos acontecimentos. A respeito disso, Eloy assinala uma importante diferenciação a ser feita em relação ao movimento de reconquista da terra: essa não é uma retomada de aldeia e sim uma retomada de território sagrado indígena.

“A palavra aldeia foi criada pelo homem branco justamente para limitar nossos territórios. A gente não se reconhece nessas palavras que o não-índio usa para nos nomear. A gente não quer uma retomada de aldeia, não queremos essa retórica pós-colonização, nós precisamos de um reconhecimento do que é a nossa história verdadeira. Por isso, esse passo que a gente deu é muito importante. É nesse contexto de território que nós nos reconhecemos.”

Além do centro de formação, Eloy afirma que a retomada traz uma finalidade à floresta com base no nhandereko, um modo de vida das populações indígenas que preza pelo cuidado e preservação da natureza. “Toda a sociedade vai ter essa grande oportunidade de reconhecer o território indígena, originário, e possibilitar a implantação de um nhandereko que vai gerar qualidade de ar, de água, proteção de nascentes, revitalização das florestas e da biodiversidade. Nós, os indígenas, o que a gente sabe fazer é proteger, resguardar tudo isso”, destaca.

Doações

Segundo Eloy, a estadia dele e dos parentes no Centro de Visitantes é temporária, uma vez que a construção foi pensada para abrigar cursos e eventos. Ele acredita que, caso a permanência dos povos indígenas na Floresta Estadual seja autorizada e oficializada pelo IAT, eles logo precisarão construir as moradias.

Por isso, as famílias ainda pedem doações, que podem ser feitas em dinheiro para o próprio Eloy, por Pix, utilizando a chave 00626107911; ou entrando em contato com ele por meio do telefone (41) 9632-2334 para combinar a arrecadação. “Por enquanto ainda precisamos do fortalecimento das pessoas até a gente se estabelecer, com condições de ter uma renda e trabalho para sobreviver.”

Leia a nota do IAT na íntegra

O Instituto Água e Terra (IAT) informa que realizou vistorias na Unidade da Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara, a qual está sendo ocupada por famílias indígenas, promoveu reunião com as lideranças indígenas e está organizando um encontro com a Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social (SUDIS) e Funai para formalizar o que será feito sobre a situação.

O Instituto Água e Terra (IAT) emitiu uma autorização para as famílias indígenas utilizarem o Centro de Visitantes, a fim de permitir o uso de banheiros para higiene pessoal. O documento sobre a ocupação deles no parque ainda será formalizado.

Reportagem sob orientação de João Frey

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