Igreja do Rosário terá missa pela paz após repercussão de ato criticado pela arquidiocese

Em nova nota, Mitra disse estar “em diálogo com as entidades organizadoras do evento e acompanhará os desdobramentos, bem como as medidas cabíveis diante do ocorrido”.

Uma manifestação antirracista dentro da Igreja do Rosário, em Curitiba, no sábado (5), repercutiu em ritmo acelerado. Após a Cúria Diocesana chamar os atos de “invasivos, desrespeitosos e grotescos” – referindo-se à entrada do grupo quando ainda havia fiéis no ambiente –, o assunto ganhou força e chegou a virar um dos mais comentados das redes sociais. Diante das controvérsias, a igreja comunicou, no fim da tarde desta segunda (7), a realização de uma missa e de um ato no próximo sábado, dia 12, às 17h.

Chamada de “Missa e Ato pela Paz”, será em solidariedade às famílias enlutadas e também um momento de oração pela sociedade e a cidade, diz a nota da Reitoria da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito e Santuário das Almas de Curitiba, onde ocorreu o ato polêmico.

A manifestação foi no fim da tarde de sábado, concomitante a eventos semelhantes marcados em outras cidades do país em forma de protesto contra o assassinato de Moïse Mugenyi Kabagambe, refugiado congolês espancado até a morte no Rio de Janeiro, e contra o homicídio de Durval Teófilo Filho, de 38 anos, morto pelo vizinho, um sargento da Marinha, enquanto chegava do trabalho, também no Rio de Janeiro.

Em Curitiba, os participantes se concentraram em frente à Igreja do Rosário – construída por e para escravos no século XVIII. O texto de repúdio assinado pelo arcebispo de Curitiba, Dom José Peruzzo, dá a entender que o grupo entrou no ambiente ainda com a celebração religiosa em curso. Em manifestações nas redes sociais, centenas de pessoas classificaram o ato como invasão.

Boa parte das críticas contra a manifestação foram direcionadas ao vereador de Curitiba Renato Freitas, que entrou com o grupo na igreja, e ao partido dele, o PT – que lamentou o episódio e informou não ter participado da organização.

Em nota, a Mitra da Arquidiocese de Curitiba disse estar “em diálogo com as entidades organizadoras do evento e acompanhará os desdobramentos, bem como as medidas cabíveis diante do ocorrido”.

“A Igreja do Rosário é atendida pelos jesuítas há mais de 70 anos, e o Superior dos Padres Jesuítas em Curitiba, padre Nereu Fank, S.J,  salienta que a Igreja é sempre um espaço de acolhimento e de fé, valorizando a vida e lutando contra todos os tipos de violências, preconceitos, intolerâncias ou agressões. Pe. Nereu ressalta ainda que o projeto de Deus para a humanidade é o amor, o perdão, a paz e a solidariedade entre todos os povos, raças e nações, com o diálogo permanente para a superação dos conflitos”, diz ainda o texto.

O assunto também ganhou destaque na primeira sessão do ano da Assembleia Legislativa (Alep).

O deputado Marcio Pacheco (PDT) chamou o ato de insano e repugnante e o classificou como crime.

“Enquanto o discurso era combater a intolerância, o que eles fizeram foi promover um ato que é um exemplo de intolerância, de invasão da fé, invasão da religiosidade da nossa Igreja Católica. E se fosse de qualquer outra religião teria igualmente o nosso repúdio”, criticou o deputado. “Creio que a Polícia Civil e o Ministério Público já estejam adotando as devidas providências para apurar esse crime que aconteceu. Mas para corroborar a cobrança, eu vou encaminhar também ofício solicitando a apuração”, afirmou.

Os questionamentos levantados por Pacheco não foram isolados. Por outro lado, alguns deputados pediram mais atenção à mensagem do protesto.

 “A Igreja dos pretos, do qual fui coroinha, talvez a intenção do vereador lá tenha sido exatamente essa. O objeto de igreja quando ela foi construída, foram os negros, foram os escravos que a ergueram. Talvez essa foi a tentativa. Ele não é meu amigo, não é meu conhecido. Estou apenas tentando entender”, disse o deputado Galo (Pode).

Ao ler o novo comunicado da arquidiocese, o deputado Tadeu Veneri (PT) criticou o proveito político da situação e reforçou o convite para o novo ato.

“Fica aqui o convite, a todos que usaram a tribuna, para ir nessa missa porque acho que essa é a igreja do perdão. Diferente do que a gente vê, muitas vezes, das pessoas querendo a cabeça dos outros quando muitas vezes praticam a mesma coisa”.

Em nota oficial, o PT Paraná lamentou o episódio e afirmou não ter participado nem da organização nem da decisão de adentrar o templo religioso. “Há, por parte da imprensa tendenciosa, a manipulação de fatos para prejudicar o Partido dos Trabalhadores, pois os vídeos evidenciam que no momento em que os manifestantes estiveram no interior da paróquia, a missa já havia terminado e o templo estava vazio”.

“Aproveitamos para reafirmar nosso compromisso com o direito à vida e contra toda e qualquer forma de discriminação. Defendemos a liberdade de expressão, nos solidarizamos com a família de Moïse e repudiamos o racismo e a xenofobia que devem ser extirpados de nossa sociedade, com uma luta diária e permanente, que deve contar com o afinco de todos e todas”, coloca ainda o partido.

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2 comentários em “Igreja do Rosário terá missa pela paz após repercussão de ato criticado pela arquidiocese”

  1. Francisco Antonio Ramos de Lima Junior

    O protesto foi válido ! O objetivo do vereador foi atingido ! A “indignação” da tal sociedade de curitchiba demonstra cabalmente isso ! O Arcebispo fala em NOTA OFICIAL em “profanação”
    quando andou benzendo ARMAS junto com o Prefeito ! Não havia nenhum preto dentro da igreja do Rosario dos Pretos ! Quando is pretos entraram na igreja o povo “de bem” surtou ! Hipocrisia pura !

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