Durante o segundo semestre de 2019, o Núcleo de Comunicação e Educação Popular (Ncep) foi até a Reitoria da UFPR, aos sábados, conversar com três integrantes do projeto de extensão Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH): Julio Cesar, Katherine e Daniela. A parceria entre os grupos gerou produtos como entrevistas e vídeos. Trabalhos assim, em equipe e de longa data, demandam investimento nos relacionamentos. Reuniões e feedbacks precederam os encontros de sábado e a troca de conhecimentos foi essencial para que o trabalho não fosse feito às cegas.
Nessas manutenções de laços, descobrimos a delicadeza e força do trabalho com imigrantes realizado pela Maria Gabriel, coordenadora do PBMIH. Ela nos contou um pouco da turbulência pela qual os imigrantes passam ao tentar se estabelecer no Brasil. Os voluntários, que vêm de diferentes áreas, ressaltam a importância do diálogo, do acolhimento e da empatia em um projeto transformador de vidas.
Percebemos como o trabalho do Ncep ali era mais uma dentre tantas outras coisas presentes na rotina corrida e, muitas vezes, cansativa do nosso público. Nos portarmos com responsabilidade e sensibilidade era essencial. Focamos dar retorno das oficinas (com certificados, produtos e eventos), reforçar nosso olhar extensionista de dialogicidade e abertura e englobar conteúdos úteis no mercado ou na vida prática.
Com esse aprendizado, a proposta das nossas oficinas de sábado foi “contar histórias usando imagens”. A pedido dos participantes, explicamos técnicas de fotografia e abordamos a foto como algo conceitual e com significado. O objetivo foi permitir que cada um olhasse para as coisas ao redor e pensasse em temas que gostariam de representar de forma visual. Queríamos que eles vissem na fotografia uma maneira de apropriação para contar suas narrativas.
Para isso, trouxemos uma dinâmica em que os participantes deveriam lembrar de um local de seu país de origem – no caso dos 3, a Venezuela – que trouxesse boas memórias. Um deveria explicar como era o lugar, enquanto os outros dois o desenhavam de acordo com a explicação. A experiência fez com que eles ativassem as sensações e memórias na hora de fotografar.
Uma participante apresentou como trabalho final três fotografias do nascer do sol visto por ela enquanto se direcionava para seus afazeres diários. Ela percebeu que acordar cedo tinha suas vantagens: “as coisas simples nos tornam mais felizes”. Quem sabe, o mesmo nascer do sol admirado por ela, também foi contemplado por alguém que observava a fronteira em Melilla pensando se aquele seria o dia em que conseguiria encontrar segurança e percebendo o nascer do dia como uma chance para continuar tentando.
As outras fotografias falavam sobre família e imigração, passando por pontos turísticos de Curitiba. As origens dos participantes da oficina refletem o olhar deles para o mundo e a fotografia foi a forma de expressar isso.
O que fica para nós, Ncepers, é que todos somos estrangeiros, tentando fazer com que a nossa própria terra se pareça um pouco mais nossa. Queremos que a rua da nossa casa tenha as árvores e flores de que mais gostamos, que nossos vizinhos e amigos nos tratem como iguais, que os pantaneiros fiquem bem em suas casas, porque só assim ficaremos bem nas nossas também.
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