Hospital de Clínicas espera ter um 2020 sem crise

Superintendente espera novos concursos e terceirizações para suprir as quase mil demissões previstas

Até o fim deste ano, os cerca de uma centena de funcionários da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar), que ainda não foram demitidos, deverão ser desligados do quadro de funcionários do Complexo Hospital de Clínicas (HC). A demissão de quase mil trabalhadores – determinada pela Justiça e iniciada há quatro anos – vem causando impactos no atendimento do maior hospital público do Paraná. Especialmente nas últimas semanas, nas quais a espera pelos serviços ficou ainda mais demorada, médicos atendem sem prontuários e unidades são reduzidas por falta de equipe de enfermagem.

A direção garante, no entanto, que tudo está sendo resolvido e novos concursos devem sair em breve. Para a superintendente do Hospital de Clínicas de Curitiba, Claudete Reggiani, os problemas foram pontuais e muitos já estão solucionados, segundo ela. Como é o caso dos prontuários, que ficaram dias amontoados em salas e consultórios, por falta de pessoas para o transporte até o arquivo dos documentos. “Foi um período curto que não atingiu todos os locais. Atendemos 300 consultas por dia de novos pacientes, que não têm prontuário”, afirma a superintendente, que está no cargo desde fevereiro de 2017.

De acordo com Claudete, o sistema eletrônico de prontuários será instalado até meados de 2020. A um custo de R$ 3 milhões, o dinheiro virá do governo federal, via Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra o HC desde 2014. No hospital, funcionários movimentam 80 mil prontuários todos os meses, 2,6 mil por dia.

“Teremos um sistema extremamente avançado e inovador, específico para hospital. Já trocamos dois servidores, cada um ao curso de R$ 1,5 milhão, e compramos 250 computadores, que estão chegando. O sistema também vai controlar estoque e faturamento. Só vai melhorar o atendimento”, prevê a superintendente.

“Mas é inadmissível um hospital deste porte ter gente que precisa tirar 80 mil prontuários por mês. Tirar e colocar no lugar. Não posso colocar um técnico administrativo pra um cargo deste.”

Terceirização

A falta de pessoal para serviços específicos, como arquivistas, carregadores de maca, porteiros, recepcionistas e telefonista, esbarra na extinção de concursos públicos para tais cargos. O que, inevitavelmente, deve levar à terceirização em um grande número de funções.

Os setores hoje já realizados por empresas terceirizadas no HC são: lavanderia, manutenção, portaria, recepção, cozinha, nutrição e segurança.

Os primeiros a receber funcionários terceirizados em 2020 devem ser a central de agendamentos, ambulatórios e a creche. Nesta, todos os 20 trabalhadores são da Funpar e entraram na lista de demissões judiciais.

“A creche é um plus que oferecemos aos funcionários, só que não existe concurso pra educador infantil na UFPR nem no hospital. Por isso, ela funcionou contratando pela Funpar. Então, agora vamos terceirizar”, garante Claudete.

“A reitoria e a Ebeserh já concordaram e foram bem positivos por ser uma atividade social importante pros funcionários. Já temos o termo de referência pronto e nos baseamos em outros órgãos públicos, como o TCU (Tribunal de Contas da União) de Brasília.”

Todos os funcionários da creche serão demitidos e pais temem fechamento. Foto: Mauren Luc

Leitos

Pacientes e funcionários reclamaram sobre o aumento no tempo de espera dos atendimentos: de uma a duas horas a mais. A UTI cardíaca, o setor de transplante hepático e a unidade de leitos de retaguarda (que recebe pacientes de retorno de cirurgias) foram fechados, dizem as fontes ouvidas pelo Plural.   

Claudete sustenta que não houve fechamento, mas transferência de unidades, para otimização do espaço e da equipe de enfermagem. “Eu tenho uma enfermaria com enfermeiros, médicos, para ter cinco transplantes no ano. Então, deixar essa enfermaria aberta num momento em que precisamos otimizar pessoas, mudamos de lugar. Como aconteceu com a UTI Cardíaca, na qual os próprios profissionais escolheram unir a UTI e a Clínica de Cardiologia.”  

Sobre os leitos de retaguarda, a superintendente destaca que é uma unidade referenciada, “nossa porta de entrada, a garantia para que eu tenha a vaga ali. É algo extremamente importante.”

Porém, segundo Claudete, era um local com muitos auxiliares de enfermagem. “Então, juntamos tudo na clínica médica, mas os leitos continuam lá. Não vamos fechar uma coisa que a gente precisa. Tudo foi transferido. Reduziu um pouco os leitos, mas não pelos demitidos da Funpar, pelos auxiliares.”

Unidade foi transferida para o setor de clínica médica

Enfermagem

A superintendente do HC pondera que o problema enfrentado pelo hospital não se resume às quase mil demissões acordadas judicialmente. Outra questão impactante no quadro de colaboradores é a mudança no trabalho dos auxiliares de enfermagem. Eles representam um terço do total da equipe de enfermagem do HC.  

“Temos cerca de 1,5 mil pessoas da equipe de enfermagem, sendo 478 auxiliares de enfermagem, todos Regime Jurídico Único (RJU). Mas é um cargo extinto, para o qual não existe mais concurso. Há uma ação estabelecendo que os auxiliares, que sempre trabalharam em todas as áreas do hospital – nas sete UTIs, no centro cirúrgico, nas enfermarias, que só têm pacientes graves – agora, por portarias do próprio Conselho de Enfermagem, não podem atuar em áreas críticas, que só devem ser ocupadas por técnicos ou enfermeiros.”

Por isso, enfatiza Claudete, os auxiliares de enfermagem estão sendo retirados destas áreas, depois de 180 processos contra o hospital, por desvio de função. “Realmente, são pessoas que trabalharam na área crítica, pois era o modo de operação da época, só que agora isso terá que mudar. Mas você ter um terço da sua equipe de enfermagem que só pode atuar em ambulatório e vendo peso e pressão, é muito complicado num hospital deste porte, de nível terciário.”

Entrada principal do HC. Foto: Mauren Luc

Concursos

Há um concurso em andamento no HC, que deve contratar 147 funcionários em fevereiro de 2020; destes, 40 serão técnicos de enfermagem. Para enfermeiros, Claudete diz aguardar novo concurso.

“Estamos com dinheiro, inovação e esperamos 3,8 mil funcionários para reabrir todos os leitos. Temos hoje cerca de 3,2 mil colaboradores, dos quais 272 serão técnicos de enfermagem”, contabiliza.

Transporte pneumático

Além de tornar digitais os prontuários médicos, o HC deve ter instalado, também em seis meses, um sistema de correio pneumático, que consiste em transportar medicamentos e exames entre os setores do hospital.

O sistema, ressalta a superintendente, já foi comprado, custou R$ 2,4 milhões, e deve ser implantado até julho de 2020. O processo reduzirá a necessidade de funcionários para estes serviços. “É uma fase de transição de todos estes cargos extintos, mas num processo de inovação que não tem no Paraná”, conclui Claudete.  

Marcar uma consulta no HC pode demorar horas. Foto: Mauren Luc

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