Hospitais privados devem apresentar plano para evitar colapso

Curitiba exige ações para reabrir PA e enfrentar Covid-19; vagas estão no limite e há problemas para expandir leitos

Após os hospitais particulares suspenderem o Pronto Atendimento e Curitiba fechar UPAs para ampliar leitos de Covid-19 (que já estão cheios) e tentar amenizar a propagação do vírus, a situação prossegue no limite tanto na Rede Particular quanto na Pública. Leitos de UTI SUS exclusivos para coronavírus estão com 97% de ocupação nesta quinta-feira (11) e hospitais particulares relatam lotação máxima há dias. Com Pronto Atendimentos fechados pela superlotação, eles precisarão apresentar, em 24 horas, um plano de contingência para a crise sanitária instalada.

A determinação partiu do decreto 544/2021, da Prefeitura de Curitiba. Ele estabelece que as instituições particulares de Saúde devem apresentar, até esta sexta (12), seus planos para o enfrentamento do coronavírus. Os hospitais devem ainda prever o remanejamento de, no mínimo, 50% dos leitos clínicos e cirúrgicos registrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) para atendimento exclusivo da Covid-19 (casos suspeitos ou confirmados).

“Essa exigência exclui os leitos destinados a Obstetrícia, Oncologia, Cardiologia, Nefrologia, Oftalmologia e Traumatologia (destinados a procedimentos cirúrgicos essenciais). Os leitos destas especialidades poderão ser utilizados apenas para o atendimento de situações de urgência e emergência e cirurgias essenciais, a fim de evitar agravamento de quadros clínicos.”

Segundo o decreto, os hospitais da Rede Privada passam a ter a necessidade de informar os dados de ocupação dos leitos e os recursos disponíveis para emergências à Secretaria Municipal da Saúde. Também fica determinado que leitos disponíveis nestes estabelecimentos hospitalares poderão ser objeto de requisição pelo SUS de Curitiba. 

“Com o recrudescimento da pandemia, passamos a atender pelo SUS um grande contingente de pacientes acometidos com a doença oriundos da rede particular e convênios, sobrecarregando ainda mais a rede municipal em um momento tão crítico. Precisamos que a Rede Privada também faça seu plano de contingência”, diz a secretária de Saúde, Marcia Huçulak. 

No limite

O Hospital Marcelino Champagnat continua com 100% de ocupação. Os 47 leitos de UTI (dos quais quase todos são exclusivos para pacientes da Covid-19) e os 34 leitos de Enfermaria voltados à doença estão lotados. Em comunicado, o hospital relata que o crescimento do número de pacientes e casos mais graves tem causado internações mais longas e elevado a capacidade do hospital ao limite. 

O Hospital Nossa Senhora das Graças, que possui 50 leitos de UTI para Covid, está com lotação máxima há dias, com suspensão do Pronto Atendimento.

O Hospital Evangélico Mackenzie, que possui 51 leitos de UTI e 48 de Enfermaria exclusivos para pacientes da Covid-19, segue com 100% de ocupação.

O Hospital Angelina Caron, localizado em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), possui 31 leitos de UTI e 36 leitos de Enfermaria exclusivos para Covid-19. Atualmente, há 100% de ocupação desses leitos. Hoje (10), o hospital abriu mais 10 vagas na UTI, que já estão sendo ocupadas. O Pronto-Socorro ainda segue normal para outras especialidades. 

O Hospital Vita não confirma superlotação nem o número de ocupação, mas diz manter o dois PA abertos, tanto no Batel quanto na BR-116.

Os hospitais Santa Cruz e Ônix não informaram sobre o número de leitos nem ocupação atual.

Rede Pública tem 97% de ocupação

A taxa de ocupação nas UTIs adulto exclusivas para Covid-19 na Rede Pública de Curitiba é de 97% nesta quinta, 11 de março. Hospital Cruz Vermelha (7 leitos Covid), Erasto (5), São Vicente Centro (5), Trabalhador (14) e complexo HIZA/Vitória/UPA Boqueirão (120) estão com 100% de ocupação. Há pouqíssimas vagas no Hospital Santa Casa (89 ocupadas do total de 90 UTIs), Hospital de Clínicas (73 de 77) e Reabilitação (66 de 68). No total, a Rede Pública possui 447 leitos de UTI para Covid, dos quais 433 (97%) estão ocupados. Sobram assim, apenas 14 vagas.

Já a taxa de ocupação dos leitos de Enfermaria adulto SUS, exclusivos para Covid-19 em Curitiba, é de 94%. No total, são 546 vagas, sendo 514 ocupadas. Estão livres apenas 32.

Curitiba registrou 26 mortes pelo coronavírus nesta quinta, o maior número neste ano. Novos casos são 1.355. Casos ativos somam 11.823 e 3.142 já perderam a vida por conta da doença desde o início da pandemia na Capital.

Em todo o Paraná, foram 4.336 novos casos e 99 mortes pela Covid-19. Aguardam um leito de UTI no Estado, 1.185 pessoas. 

Sem novos leitos

O Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar) esclarece, por meio de nota, que “a quase totalidade dos hospitais que atendem Covid opera hoje acima de sua capacidade de atendimento e já emprega mais de 50% de toda a sua capacidade instalada para a assistência de pacientes com a doença — oferta que está prestes a ser superada pela alta demanda de casos da doença decorrente da disseminação do novo coronavírus em todo o Paraná”.

A diretoria do Sindipar e cerca de 20 representantes dos principais hospitais privados de Curitiba realizaram uma reunião na manhã desta quarta-feira (10). Foi avaliado, de forma unânime, que o cenário atual na Rede Particular é semelhante ao da Rede Pública devido à demanda excessiva de casos de Covid-19. “A Rede Privada não dispõe de meios adicionais para abrir novos leitos exclusivos, que já se encontram à beira da lotação.”

Segundo o sindicato, as possibilidades de ampliação de vagas estão praticamente esgotadas devido à falta de profissionais de Saúde qualificados disponíveis no mercado e a escassez de respiradores e outros equipamentos e insumos. A entidade diz que o atendimento a outras doenças e emergências, como infarto, AVC e câncer, já está prejudicado.

Flaviano Ventorim, presidente do Sindipar, conta que há hospitais operando em situação de alerta e outros até acima de sua capacidade operacional. “Temos que conter a atual projeção de subida da demanda, pois se os casos continuarem subindo como vem acontecendo, teremos dificuldades e talvez não consigamos atender a todos.”

“Sem medidas efetivas e o comprometimento da sociedade com a prevenção da Covid-19, é certo que o excesso de demanda provocará desassistência à população e, por consequência, mortes que poderiam ser evitáveis”, diz Ventorim.

O Sindipar afirma estar em diálogo próximo com a Secretaria Municipal da Saúde para esclarecer dúvidas acerca da apresentação dos planos de contingência, de forma a chegarem a um modelo padronizado. O Sindipar informa ainda que, junto com seus afiliados e com as Operadoras de Planos de Saúde, “vem buscando soluções para continuar atendendo da melhor forma possível os cidadãos curitibanos e paranaenses que procuram serviços hospitalares”.

Colaborou: Matheus Koga

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