Greca cede a empresários e favorece abertura de comércio

Medida tem caráter político e aumenta o risco de explosão de casos de Covid em Curitiba

Pressionado por associações de empresários, o prefeito Rafael Greca (DEM) anunciou nesta quarta-feira (15) medidas para reabertura do comércio que claramente aumentam o risco da explosão de casos de Covid-19 em Curitiba. Contrariando as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o prefeito assinou um documento permitindo o funcionamento de lojas e outros estabelecimentos desde cumpram algumas medidas.

Greca fez o anúncio via redes sociais, dizendo que se baseava em um documento de um Comitê de Técnica e Ética Médica. Segundo o prefeito, a publicação das medidas acontecerá no Diário Oficial desta quinta-feira (16) e passarão a valer já no dia seguinte, sexta-feira (17).

A decisão de Greca claramente tem caráter mais político do que técnico. Nos últimos dias, a Associação Comercial do Paraná (ACP) chegou a dizer para os comerciantes voltarem ao trabalho. O recuo só veio depois que o Ministério Público ameaçou prender o presidente da associação, tendo em vista que ele colocava em risco a vida da população.

O Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares, Fabio Aguayo, também foi na mesma balada e cobrou o prefeito, dizendo que, além de não proibir o funcionamento dos estabelecimentos, Greca precisava deixar claro que era possível a reabertura.

A pressão funcionou. Na live desta quinta, Greca disse mais uma vez (como já havia afirmado há pouco mais de semana) que jamais mandou fechar o comércio, Segundo ele, os empresários fecharam porque quiseram e porque, em determinado momento, a hashtag #fechatudo ficou em evidência nas redes sociais.

Greca foi além, e disse que os comerciantes que fecharam os estabelecimentos o desobedeceram, uma vez que a ideia da prefeitura era manter o comércio aberto por mais um tempo, para que a quarentena não fosse longa demais.

O próprio prefeito, que enfrenta a tentativa de reeleição em menos de seis meses, disse ainda que foi a sua oposição que tentou colar nele a crítica de que teria mandado fechar tudo.

Medidas inócuas

As medidas anunciadas pelo prefeito para garantir a segurança de lojistas, funcionários e clientes são claramente inócuas. Uma delas, antecipada por Greca, determina que em lojas grandes a área seja dividida em pequenos quadrados de nove metros quadrados, com apenas um freguês por quadrado – isso garantiria uma distância mínima entre as pessoas.

Evidentemente, não faz sentido: as pessoas teriam de estar perfeitamente postadas no centro de cada quadrado para haver o0 distanciamento de um metro e meio. E é claro que os clientes se movimentarão pela loja – não como num tabuleiro de xadrez, esperando que a próxima casa fique livre.

Além disso, a contaminação não se dá apenas pela proximidade: o vírus pode permanecer no ar e, além disso, sobrevive nas superfícies em que a pessoa contagiada toca por dias. Assim, bastaria encostar em uma arara ou móvel com coronavírus, por exemplo, para a pessoa ter sérios riscos de ficar doente.

Fechar é o melhor remédio

Todas as instituições sanitárias respeitadas no mundo recomendam que o isolamento seja levado a sério para que tudo possa voltar ao normal o quanto antes. As medidas da prefeitura, no entanto, preferem ceder à pressão de grupos que, seguindo o presidente Jair Bolsonaro, não acreditam na necessidade do isolamento.

Em Curitiba, nos próximos dias, está marcada mais uma carreata organizada por radicais apoiadores de Bolsonaro para pedir o fim do isolamento social, por exemplo. Greca sabe que esses grupos podem ter peso na eleição.

As medidas de Greca, por outro lado, só são possíveis porque tanto Bolsonaro quanto Ratinho Jr. (PSD) se recusam a adotar medidas de isolamento mais radicais. Nesta semana, o governador do Paraná repetiu o discurso de Greca e disse que jamais determinou o fechamento do comércio.

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