O governo do Paraná decidiu nesta sexta-feira (12) adiar por tempo indeterminado o retorno às aulas presenciais. A volta estava agendada para a próxima segunda-feira (15), mas os professores e funcionários da Rede Estadual afirmavam não haver condições, em função da pandemia, e entraram em greve.
O Paraná vive o pior momento de sua crise sanitária. São 100 mortes por dia e mais de 4 mil casos confirmados a cada boletim. No entanto, até essa quinta (11), o discurso do governo era a favor do retorno. Segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seed), a posição dos sindicalistas não refletia “o posicionamento da ampla maioria dos profissionais da Educação”
Num documento enviado aos chefes de Núcleo nesta sexta, o secretário da Educação, Renato Feder, diz que conversou com Ratinho e que a conclusão foi de que realmente não existem condições no momento de colocar alunos e professores nas escolas.
No documento, o secretário afirma que o foco deve ser agora nas aulas “de excelente qualidade” dentro do modelo on-line, que vem sendo adotado desde o início da pandemia, em março do ano passado.
Veja abaixo a carta de Feder aos chefes de núcleo:
“Caros Chefes,
Conversei com o Governador há pouco. Realmente, com os hospitais com alto nível de lotação, o palácio entendeu que não é o momento de retornarmos. Então o retorno as aulas, nas escolas estaduais está adiado até termos uma melhora na situação dos leitos e UTIs.
Vamos avaliar uma nova data para podermos voltar. Agora é focarmos nos meets com excelente qualidade e todos os professores realizarem seus meets no horário do calendário da escola.
Semana que vem apresento para vocês o BI que irá apresentar essas informações aula a aula. A resolução orientativa já foi para o Diário Oficial e segue o anexo na sequência.
Abraços a todos, Renato”
“Gestão desastrosa”
Os professores, que defendem aulas remotas desde o início do ano, avaliam a troca de posicionamento repentina da Seed como uma “gestão desastrosa”.
“É insuportável o método de gestão. Ontem, o secretário afirmava uma tese que era uma mentira, gerando insegurança total na categoria, que já vem adoentada desde antes da pandemia. Esta forma de fazer gestão na linha negacionista e bolsonarista é desastrosa, é lamentável”, diz Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato, que representa os trabalhadores em Educação Pública do Paraná.
Segundo ele, a mudança rápida de postura se deve ao fato claro do colapso na Saúde, evidenciado há semanas. “Defendemos um lockdown total. É preciso parar o Estado imediatamente e demonstramos isso pelo estudo do Inpa. É preciso pelo menos 21 dias com isolamento de 90% da população, mas com esta gestão negacionista é possível que semana que vem retomem o mesmo discurso de que as escolas estão preparadas para volta presencial, o que não é verdade. Dizer isso é tentar transmitir uma falsa segurança, o que é desastroso.”
A APP diz que agora é necessário que o governo abra espaço para o debate sobre a forma de Educação remota que vem sendo aplicada. “Ela é inviável, tem baixíssima presença de estudantes nas aulas e exigências absurdas aos professores. Não adianta mandar ele gravar aula na escola se a escola também não tem estrutura digital adequada. Sem falar na movimentação de pessoas, como a que o ocorreu em fevereiro e resultou em surtos de coronavírus e colégios fechados pela doença”, diz Hermes, reforçando a necessidade de um balanço de tudo que foi aplicado na Rede Estadual até agora para corrigir os problemas, como a exclusão digital.
Importante recordar que o governador se reconheceu em guerra contra os professores.
https://www.plural.jor.br/colunas/caixa-zero/ratinho-diz-que-app-nao-representa-professores/
Não cabe ao governador determinar quem é o representante da categoria, muito menos fazer política ao estilo bolsonarista de apontar “partidarismo” quando lhe faltam os argumentos da razão. Ratinho tem, sistematicamente, desviado o foco da atenção quando se trata do combate ao coronavírus.
Por falar em razão, a nota do secretário (é inacreditável que este senhor se deixe fotografar assim, máscara abaixo do nariz) revela desconhecimento crônico com respeito à dinâmica da pandemia. Ao escrever
“… o retorno as aulas, nas escolas estaduais está adiado até termos uma melhora na situação dos leitos e UTIs”, o secretário atesta ignorância mais que preocupante. Ora, número de leitos não é e nunca deveria ter sido parâmetro para condicionar reabertura de escolas. O que esperar de um gestor da educação que se manifesta em momento tão crítico com tamanha debilidade?
Deveriam, secretário e governador, fomentar e participar de um debate qualificado, pensando a reabertura de escolas a partir de critérios embasados em ciência. Fica a questão: quem têm sido os interlocutores do governo? Que universidades? Quais cientistas?
Como não apontar que as tomadas de decisão pouco transparentes e os argumentos tíbios continuarão produzindo um efeito sanfona de “abre-fecha” das escolas, com sérias implicações para os estudantes e para a educação.
Já que os governos federal e estadual fazem muito pouco, sugiro a seguinte leitura:
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)00622-X/fulltext#sec1
Um ano de pandemia e parece que ainda não aprendemos que a única saída passa pelo diálogo e o aprofundamento dos mecanismos de participação democrática.
Como é bom ter gestores competentes e realmente preocupados com a vida humana. O Feder em questão, parente do famoso vereador paulistano Bruno Feder, de famigerada memória, é realmente sagaz: descobriu que o vírus aqui no Paraná só é letal para os alunos e professores das escolas públicas. Nas escolas privadas, felizmente, o Covid não ataca, não é mesmo? Até nisso o Brasil é desigual! Quem sabe, o corona tenha dificuldade de adentrar as escolas particulares por causa das mensalidades e só resolva dar as caras na rede pública. Alunos e professores da rede privada, portanto, estão livres!! Viva!!!