Evasão escolar preocupa governo do Paraná

Seed chegou a propor videoaulas como solução mas desistiu após críticas de professores

“Estamos muito, muito preocupados com a evasão escolar, principalmente no Ensino Médio”, afirmou o secretário estadual de Educação do Paraná, Renato Feder, durante live nesta quinta-feira (27) com professores da Rede Estadual de Ensino. Na transmissão, ele apresenta, como solução, videoaulas para todos os educadores e suas turmas.

A notícia não foi bem recebida entre a categoria. Após críticas, Feder voltou atrás na intenção de fazer com que os docentes realizassem pelo menos 15 minutos de aulas on-line por dia. A intenção, agora, é apenas estimular o trabalho virtual para reforçar o vínculo com os alunos e evitar a desistência estudantil – que em 2020 pode envolver 100 mil jovens no Paraná.  

“As aulas remotas não têm a mesma qualidade, acompanhamento, carinho e engajamento das aulas físicas. Podemos ter milhares de jovens que não vão se formar, já estão indo pro sexto mês sem aula, tocando suas vidas, alguns já arranjaram trabalho. Então, temos que combatê-la (evasão), pois o jovem que evade, qual a chance dele ir pra universidade, ter uma boa carreira, sustentar sua família, ter uma formação”, questionou Feder durante a transmissão.

“É muito reduzida, e não é o que queremos. Pra isso, elaboramos um plano no qual o vínculo com o professor vai aumentar e esse plano se baseia em videoaulas entre os professores e suas turmas.”

O secretário explicou que a ideia era de que todo educador fizesse – por meio do Aplicativo Aula Paraná ou pelo Google Meet – de 15 a 50 minutos de aula on-line por turma, seguindo a escala de aulas já estabelecida. “Antes, os professores davam cinco, seis aulas por dia na escola. Agora, nosso pedido vai ser para você dar videoaulas, para evitar evasão, para que o aluno se sinta mais acolhido, mais engajado, tenha seu carinho, estímulo, motivação e acompanhamento.”

Sem previsão para o retorno das aulas presenciais, Feder destacou a importância das videoaulas. “Ao invés de ir pra escola dar aula, você pode dar aula da sua casa, da segurança do seu lar, sem o risco de contaminação de pegar o coronavírus”.

Críticas vieram logo

Não demorou muito, professores começaram a desgostar de ideia. “Mais de 83% dos(as) profissionais(as) que interagiram com o vídeo manifestaram reação contrária ao conteúdo anunciado pelo secretário. Foram mais de 9,1 mil descurtidas e apenas 1,8 mil curtidas, além de milhares de comentários reprovando a ideia. Após o término da transmissão, o acesso ao vídeo foi excluído”, apontou a APP-Sindicato, que representa os servidores da Educação.

O Plural teve acesso à live. “Cada aula teria pelo menos 15 minutos e os(as) professores(as) ainda teriam a atribuição de interagir com os(as) estudantes através das outras plataformas do modelo atual, que inclui aulas pela televisão, pelo YouTube, por um aplicativo de celular e através de material impresso”, observou o sindicato.

Horas depois da transmissão – que segundo a Seed saiu do ar por um problema técnico -, o secretário estadual da Educação gravou um vídeo no qual diz que, após a participação de 27 mil professores na live, a proposta da Seed foi melhorada. “Acreditamos muito nas videoaulas, no fortalecimento do vínculo; estimulamos, mas, concordando com os argumentos apresentados, não vai ocorrer nenhuma obrigatoriedade e sim um estímulo”, garantiu.

Feder voltou a reforçar que o Paraná “está indo muito bem em suas aulas remotas, com mais de 20 milhões de lições de casa sendo feitas toda semana pelos alunos e 100 mil videoaulas sendo realizadas pela Rede”.

Números da evasão escolar

A Seed informou que a evasão escolar é uma das principais metas da atual gestão. O número de estudantes que desistiram da escola no Ensino Médio foi 53% menor em 2019 do que em 2018 (de 26.172 para 12.077 alunos). Já no Ensino Fundamental, a redução na evasão escolar em 2019 foi de 49% (caindo de 10.654 para 5.338 alunos), segundo a secretaria.

Os dados de 2020 não foram informados. A estimativa da Seed para este ano se baseia em um levantamento da Unesco, de que a pandemia possa fazer com que 10% dos jovens desistam de estudar, por desestímulo. Se este índice fosse aplicado no Paraná, representaria 100 mil jovens.

Para tentar reduzir esses números, a Seed afirma que vem realizando investimentos em programas e tecnologia, como o programa Presente na Escola, o Registro de Classe On-line e o aplicativo Aula Paraná, que permite aos pais acompanharem a frequência dos filhos.

Existe ainda o programa Busca Ativa, no qual funcionários vão atrás de informações sobre a ausência do estudante. De acordo com os educadores, algumas razões que levam à desistência são: estar sozinho em casa, sem ter quem os acompanhe; falta de equipamentos para acesso; acesso da tecnologia para outras finalidades; ou, ainda dificuldade de compreensão do novo modelo de aulas on-line.

Colégio Estadual Monsenhor Guilherme em força tarefa para Busca Ativa. Foto: Seed

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